segunda-feira, 20 de junho de 2022

 

NOMES (ESTRANHOS?) DA NOSSA TERRA

 

Diogenes da Cunha Lima

 

Um dia, o mestre Câmara Cascudo, que pesquisava nossos topônimos, perguntou-me sobre o nome, aparentemente contraditório, de Passa e Fica. Respondi que sabia ter sido uma antiga fazenda que dava arrancho a quem se dirigia à Paraíba, acrescentando: com voz de baixo profundo, a boca da Pedra da Boca costuma dizer você passa, mas seu coração fica. O Mestre riu da tirada e passou a me chamar “o menino de Passa e Fica”.

         O nosso Rio Grande foi o primeiro e único por dois séculos. Outro Estado do Sul pediu emprestado o nome e nunca devolveu.

         Recentemente, viralizou, com mais de 400 mil acessos, comentário sobre o tema nas redes sociais do inteligente e bem-humorado Tiago TDog. Ele registrou nomes “estranhos” do RN. Temos um país aqui, “Equador”. “Venha Ver” é outra cidade que opera milagres. O influenciador superou-se fazendo graça com “Jardim de Piranhas”.

         Nomeando cidades, o potiguar homenageia países, Estados brasileiros e até o nosso heroísmo militar.

         A Espanha é celebrada com Barcelona e o Egito com Alexandria. Portugal deu-nos São Gonçalo do Amarante, sede do aeroporto internacional; Macau, que é separado de Hong Kong pelo rio das Pérolas. Uma linda designação, Vila Flor.

Macau daqui faz parte, com Guamoré e Galinhos, do “Roteiro do Cavalo Marinho”. Além das riquezas do chão e do mar, tem rico patrimônio poético. Lembro Gilberto Avelino e Horácio Paiva, entre tantos.  

         Paraná é cidade da Tromba do Elefante, vizinho a Equador. Os dois municípios têm jazimentos de pedras preciosas, como águas marinhas e esmeraldas. Em suas entranhas estão também um louvor à Paraíba, a turmalina paraibana, a mais valiosa dessas gemas.

         Os viçosenses do RN pouco sabem da homônima Viçosa de Minas Gerais, que tem até uma pujante universidade federal. O poderoso São Paulo é topomográfico: São Paulo do Potengi. O Pará está bem entre nós, com a cidade de Parazinho. Temos, ainda, como um pequeno Estado vizinho, o Ceará-Mirim. A minha cidade, Nova Cruz, tem a mesma designação da pernambucana, mas já se chamou Anta Esfolada, com direito a uma lenda comovente. O animal esfolado assombrava os habitantes à noite quando apenas queria uma aproximação. O caçador enterrou a pele da anta nas areias do rio Curimataú e as águas ficaram salobras até hoje.

         O povo do Rio Grande do Norte faz o que quer e até escolhe como grafar. Nada de cedilha, indicado para nomes indígenas. Mossoró e Assu a gente escreve com dois esses. Não o jota, mas o gê anima o rio Potengi.

         A nossa topografia não é inusitada, apenas aproveitamos a inteligência de outros povos.

        

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