NOMES
(ESTRANHOS?) DA NOSSA TERRA
Diogenes
da Cunha Lima
Um
dia, o mestre Câmara Cascudo, que pesquisava nossos topônimos, perguntou-me
sobre o nome, aparentemente contraditório, de Passa e Fica. Respondi que sabia ter
sido uma antiga fazenda que dava arrancho a quem se dirigia à Paraíba, acrescentando:
com voz de baixo profundo, a boca da Pedra da Boca costuma dizer você passa,
mas seu coração fica. O Mestre riu da tirada e passou a me chamar “o menino
de Passa e Fica”.
O nosso Rio Grande foi o primeiro e
único por dois séculos. Outro Estado do Sul pediu emprestado o nome e nunca
devolveu.
Recentemente, viralizou, com mais de 400
mil acessos, comentário sobre o tema nas redes sociais do inteligente e bem-humorado
Tiago TDog. Ele registrou nomes “estranhos” do RN. Temos um país aqui,
“Equador”. “Venha Ver” é outra cidade que opera milagres. O influenciador
superou-se fazendo graça com “Jardim de Piranhas”.
Nomeando cidades, o potiguar homenageia
países, Estados brasileiros e até o nosso heroísmo militar.
A Espanha é celebrada com Barcelona e o
Egito com Alexandria. Portugal deu-nos São Gonçalo do Amarante, sede do
aeroporto internacional; Macau, que é separado de Hong Kong pelo rio das Pérolas.
Uma linda designação, Vila Flor.
Macau
daqui faz parte, com Guamoré e Galinhos, do “Roteiro do Cavalo Marinho”. Além
das riquezas do chão e do mar, tem rico patrimônio poético. Lembro Gilberto
Avelino e Horácio Paiva, entre tantos.
Paraná é cidade da Tromba do Elefante,
vizinho a Equador. Os dois municípios têm jazimentos de pedras preciosas, como
águas marinhas e esmeraldas. Em suas entranhas estão também um louvor à Paraíba,
a turmalina paraibana, a mais valiosa dessas gemas.
Os viçosenses do RN pouco sabem da
homônima Viçosa de Minas Gerais, que tem até uma pujante universidade federal. O
poderoso São Paulo é topomográfico: São Paulo do Potengi. O Pará está bem entre
nós, com a cidade de Parazinho. Temos, ainda, como um pequeno Estado vizinho, o
Ceará-Mirim. A minha cidade, Nova Cruz, tem a mesma designação da pernambucana,
mas já se chamou Anta Esfolada, com direito a uma lenda comovente. O animal
esfolado assombrava os habitantes à noite quando apenas queria uma aproximação.
O caçador enterrou a pele da anta nas areias do rio Curimataú e as águas
ficaram salobras até hoje.
O povo do Rio Grande do Norte faz o que
quer e até escolhe como grafar. Nada de cedilha, indicado para nomes indígenas.
Mossoró e Assu a gente escreve com dois esses. Não o jota, mas o gê anima o rio
Potengi.
A nossa topografia não é inusitada, apenas
aproveitamos a inteligência de outros povos.
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