sábado, 19 de julho de 2014


Raimundo Ubirajara de Macedo: um nome na história.
*Luiz Gonzaga Cortez Gomes.

A participação do jornalista Raimundo Ubirajara Macedo, através de seu depoimento para a  Coleção Multimídia da “Memória das Lutas Populares no Rio Grande do Norte” – Volume 06, representa um dos mais importantes resgates da nossa história política-sindical, cultural e musical, entre as décadas de 50/60 do século passado. Testemunha ocular da história de acontecimentos significativos, além de participante e militante, o decano da imprensa natalense, Ubirajara, na substancial entrevista desta coleção DVD Multimídia,  revela episódios desconhecidos para as novas gerações, principalmente os referentes a Campanha do Petróleo é Nosso,  as Reformas de Base, a Campanha De Pé no Chão Também de Aprende a Ler, criada pelo prefeito Djalma Maranhão para combater o analfabetismo, o “Grupo dos Onze”, idealizado por Leonel Brizola para dar suporte ao movimento nacionalista de esquerda no Brasil que foi sufocado pelo Golpe de Estado de abril de 1964.
Filho de um humilde professor primário, de Macaíba/RN, que “lutou muito para sustentar e educar a família”, Ubirajara de Macedo, nascido em 1920, não esqueceu a  professora Maria Olimpia Ferreira, do Grupo Escolar “Auta de Souza”, que dava as aulas de “História Natural”, no sítio de Sr. Joca Ledo,em Uruassú, ou ar livre em Jundiaí, durante duas a três horas, onde os alunos assistiam as aulas em contato com a natureza e “ouvindo música, pois o marido dela, Orlando Ubirajara, funcionário dos Correios e tocava violino muito bem”. 
Menino, “Bira”, gostando de música, veio para Natal estudar no Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense, onde fez o curso secundário e conheceu os melhores professores da cidade e fez amizades com colegas e mestres que se destacariam, anos depois, na política, na cultura e no sindicalismo potiguar. “Naquele tempo, eu só não assistia as aulas quando chovia muito em Natal , não podia me deslocar para a Cidade Alta, por causa da lama e do aguaceiro. Não existia ônibus, só bondes, e até a Ribeira. Como eu morava na “Limpa”, no bairro de Santos Reis, não saía de casa nos dias de chuvas. Aí, meu pai ia falar com o diretor do Atheneu e justificava as minhas faltas”, relembra “Bira”, um dos grandes e inigualáveis companheiros que tivemos na redação do “Diário de Natal”, na década de 1980.
Na entrevista,  “Bira” relembra os anos da II Guerra, prestando serviços ao Exército em todo o litoral do Rio Grande do Norte, e, seguida, o seu ingresso nos Correios, por concurso, onde passa a se dedicar as atividades de postalista e repórter  esportivo e de polícia  na Rádio Nordeste, levado pelo amigo Aluizio Menezes. “Fiz cobertura de tudo na Rádio Nordeste, desde futebol, basquete e voleibol, polícia, etc.  Aprendi muito com Aluizio Menezes, nos anos 40. Vi o nascimento do Trio Irakitan, com Edinho, Joãozinho e Gilvan. Demos muita força a eles. Saíram de Natal para se apresentar em Mossoró e retornar, mas de lá foram para Fortaleza, Manaus, México e Estados Unidos, numa excursão que durou mais de 3 anos. Foram fenomenais, pois cantavam muito bem”.
Neste DVD Multimídia,  o jornalista Ubirajara de Macedo, o  grande Bira, fala sobre os acontecimentos que assistiu e/ou participou na memorável campanha do “O Petróleo é Nosso”, o movimento sindical nos “Correios” (“o maior empregador do Rio Grande do Norte”), onde  o golpe militar de 1964 encontrou aderentes, colaboradores e informantes.
O comício de Leonel Brizola no “Grande Ponto”, em 1963, onde o deputado gaúcho atacou o comandante da Guarnição do Exército, general Murici, tachando-o de gorila, golpista e covarde e, na iminência de ser preso e “bifado” por oficiais do 16º RI, Djalma Maranhão retirou Brizola de sua casa e tomaram rumo ignorado.
Uma informação inédita consta do depoimento de “Bira”: em Natal, o golpe militar começou na manhã de 1º de abril e o governador Aluizio Alves já estava refém dos novos donos do poder.  “Eu fui a uma missa já programada. Quando cheguei na igreja, encontrei Aluizio ao lado de Hélio Galvão e do almirante Tertius Rebelo, que veio a ser o Prefeito de Natal. Então, Aluizio já estava como uma espécie de refém”.
A deposição de Djalma Maranhão, prefeito de Natal, a repressão policial e  os 11 meses passados  na cadeia do 16º Regimento de Infantaria – 16º RI, no Tirol, juntamente com dezenas de amigos, sindicalistas,  intelectuais e estudantes que se destacaram no movimento pelas “Reformas de Base” .

Ubirajara de Macedo traça perfis de personalidades da política, da cultura e da Igreja no RN, como dom Eugênio Sales, Ulisses de Góis, professor Moacir de Góis, Hélio Vasconcelos, Vulpiano Cavalcanti, Luís Ignácio Maranhão Filho, Luiz Maria Alves, Kerginaldo Cavalcanti, Luiz Gonzaga dos Santos, Luiz Gonzaga de Souza, Hélio Vasconcelos, dentre outros. O capitão Enio Lacerda, que ele considera o mais covarde e perverso torturador que conheceu na cadeia, não é omitido no relato de Ubirajara de Macedo que, segundo acrescenta, o tipógrafo Moisés Grilo, “de tanto apanhar, morreu louco”.

*Luiz Gonzaga Cortez Gomes é jornalista e escritor. Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do RN, do Instituto Norteriograndese de Genealogia e da União Brasileira de Escritores-UBE/RN






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