segunda-feira, 14 de julho de 2014

"MECÃO"






América Futebol Clube

O América Futebol Clube do Rio Grande do Norte, carinhosamente chamado de "Mecão" completa hoje 99 anos de glórias.


           Apesar dos precários registros documentais, o clube foi fundado no dia 14 de julho de 1915 na residência do juiz Joaquim Homem de Siqueira, no Beco da Lama (hoje rua Vaz Gondim), bairro da Cidade Alta, quinze dias depois da fundação do ABC.   Contudo, sob o prisma legal, o América é o clube mais antigo do Rio Grande do Norte, haja vista que o seu registro em Cartório aconteceu no dia 03 de junho de 1919, enquanto nosso maior rival só providenciou o seu registro em 13 de dezembro de 1927.



            Há uma outra versão sobre a oficialização do clube, narrada pelo velho americano Lauro Lustosa, que diz que num treino no campo da praça onde hoje é a Catedral, “o então Coronel Júlio Canavarro de Negreiros Melo, Comandante do 40º Batalhão de Caçadores, que ali passava no dia 3 de junho de 1918, foi atingido por um chute e mandou o seu ordenança, com um sabre, furar a única bola que o clube tinha para treinar e jogar, tendo sido o América obrigado a buscar sua personalidade jurídica para poder entrar com uma ação indenizatória, através do advogado Bruno Pereira. Para tanto, os estatutos foram registrados pela primeira vez no dia 3 de julho de 1918, no Primeiro Ofício de Notas, em documento assinado pelo então presidente Oswaldo da Costa Pereira.” Essa ação não chegou a ser julgada porque o Governador Ferreira Chaves resolver indenizar o clube, evitando maiores consequências do incidente, com cujo valor foi adquirida nova bola, marca “olimpic” e uma sobra ficou para as comemorações. Mas o América então passou a ter existência legal.



           O Alvirubro começou glorioso, como primeiro campeão oficial da cidade em 1919, ano do registro, enquanto o ABC foi campeão oficial em 1928. Nesse intervalo de tempo (1919 a 1927), o América ganhou todos os títulos disputados, exceto no ano de 1925, que foi ganho pelo Alecrim Futebol Clube.



           O clube, quase secular, atuou em muitas modalidades esportivas, apesar do nome incluir somente o futebol. Por isso, tem um caminho notável de conquistas e se mantém firme no carinho da sociedade potiguar, como o clube de futebol mais simpático, com uma extraordinária e fiel torcida, das maiores do nordeste brasileiro.



           Dos clubes do Estado do Rio Grande do Norte, foi o único a disputar a série A do Campeonato Brasileiro, promovido pela CBF atualmente e a participar de uma competição internacional - a extinta Copa Conmebol, por ser campeão da Copa do Nordeste no ano de 1998 e campeão da Taça Norte-Nordeste em 1973.
                      Segundo defendeu Gil Soares, os fundadores foram em número de 27, todos jovens idealistas, entre os quais alguns membros da família Siqueira, embora outros depoimentos falem em apenas 15 rapazes entusiastas.


           Muitos fundadores arcavam com os gastos para manter o clube, registrando-se Aguinaldo Tinôco, que também era zagueiro e capitão do time.


           Ganhar o campeonato daquele de 1922 na disputa da Taça da Independência em homenagem ao centenário da Independência do Brasil. Na final, João Maria Furtado, conhecido como "De Maria" fez o único gol da partida frente aos eternos rivais americanos, o ABC Futebol Clube.



           Daí por diante a sua trajetória foi de muitas outras glórias, alguns campeonatos repetidos.



Após o terceiro bicampeonato de 1930-1931, o América amargou 10 anos sem vitórias locais, voltando a ser campeão só em 1942. Esse período, denominado período negativo do futebol potiguar, ficou marcado pelo Deca-campeonato do ABC, cujas conquistas têm uma história pouco lisonjeira, conforme anota a Wikipédia.



Nos anos 1940 e 1950, a equipe alvirrubra repetiu o bom desempenho em competições estaduais, conquistando o bicampeonato em mais três ocasiões: 1948, 1949, 1951, 1952 e 1956, 1957. O destaque dessa época foi o atacante Saquinho, tido como maior centroavante que já vestiu a camisa alvirrubra potiguar.        
           

A 9 de dezembro de 2005 pela Lei Municipal Nº 5.697 foi criado o ‘Dia do América Futebol Clube’. A data comemorativa no calendário da cidade homenageia a fundação do clube, sendo comemorada mesmo no dia 14 de julho.



Na data de 3 de outubro de 2003, foi publicada no Diário Oficial do Município a Lei n° 5.493, de autoria do vereador Hermano Morais, que foi seu Presidente, reconhecendo o América Futebol Clube, como de Utilidade Pública Municipal. Saliente-se que em 7 de Novembro de 1928, através da Lei nº 707, o clube foi o primeiro a ser reconhecido como de Utilidade Pública Estadual.
    

Por necessidades internas do clube, esteve licenciado da Federação no período de 1959 a 1966, enquanto promovia a construção de sua nova Sede Social da Avenida Rodrigues Alves, esquina com a Rua Maxaranguape, aproveitando o maravilhoso terreno comprado por iniciativas do presidente José Gomes da Costa, em 1929, juntamente com Orestes Silva, Tenente Júlio Perouse Pontes, Clóvis Fernandes Barros e Osmar Lopes Cardoso com recursos dos mesmos e doado ao América, todo o quarteirão onde hoje está plantado o seu maior patrimônio – “A Babilônia da Rodrigues Alves”, sem esquecer que anteriormente construiu a primeira sede, aliás, o primeiro clube de futebol do Estado a possuir uma sede social própria, fato ocorrido na gestão do Presidente Humberto Nesi e levantada a primeira pedra no dia 14 de julho de 1945, com entrada pela Rua Maxaranguape, nela incluído um campo de futebol. A obra foi inaugurada na gestão de José Rodrigues e que foi marcada por um amistoso frente ao ABC, ganho pelo América por 6 x 2 (gols de Marinho, Pernambuco -duas vezes, Alínio, Tico e Gargeiro contra, descontando Albano duas vezes para o ABC) no dia 10/07/1948.


Graças à generosidade dos amigos Manuel Fagundes e Jairo Procópio, tive acesso aos documentos referentes à compra do terreno onde o América Futebol Clube ergueu a sua sede, constatando os exatos termos da transação, retificando versão então divulgada: o referido imóvel da Rodrigues Alves nº 950, bairro do Tirol, naquele tempo considerado como do Quarteirão da Av. Campos Sales, bairro de Cidade Nova, foi adquirido ao Governo do Estado do Rio Grande do Norte, na gestão do meu pai José Gomes da Costa, então Presidente em dois períodos, iniciados, respectivamente, em 08 de abril de 1929 e 10 de maio de 1939, conforme inúmeros artigos e livros sobre o fato, pela quantia de nove contos de réis, conforme autorização feita pelo Ofício nº 368, datado de 21 de maio de 1929, emitido no Palácio da Presidência, tendo sido objeto de escritura pública lavrada no livro 134, fls. 36 a 38, em 02 de junho daquele ano, no Cartório de Notas do tabelião Miguel Leandro, hoje pertencente ao acervo do 1º Ofício de Notas desta Capital, tendo sido a escritura assinada, em nome do América, pelo Tenente Júlio Perouse Pontes, Vice-Presidente, em exercício, e pelo Governo do Estado o Procurador Fiscal do Departamento da Fazenda e do Tesouro Doutor Bellarmino Lemos, sendo objeto da Carta de Aforamento nº 429, da Municipalidade de Natal, medindo uma área de 15.100 m2. Como testemunhas assinaram Orestes Silva e Omar Lopes Cardoso, perante o escrivão substituto Crispim Leandro, tendo sido efetuado o pagamento em moeda corrente e o Imposto de Transmissão pago em 26 de junho de 1929 ao Dr. Aldo Fernandes, Administrador e Sr. F. Pignataro, Tesoureiro, sendo registrado no Livro “3-C”, de Transcrição das Transmissões, sob o nº 24, fl. 61v. s 62, presentemente do acervo do 3º Ofício de Notas, com o nº de matrícula 828.

           

Com estes registros, podemos concluir que são verdadeiros os relatos de Luiz G.M. Bezerra, no artigo do jornal “O Potiguar” nº 42 (março/abril/2005) de que o terreno fora adquirido com a ajuda de abnegados como Orestes Silva, José Gomes da Costa e Júlio Perouse Pontes e outros, sendo acrescido o nome de Omar Lopes Cardoso no livro de Everaldo Lopes “Da bola de pito ao apito Final”, p. 40, embora tenha omitido o nome do meu pai José Gomes da Costa. Nos registros não consta nenhuma cláusula que impediria a sua alienação, mas a legislação da época somente permitia alienar bem adquirido do Governo por pessoa privada, para permanecer com a sua destinação social, salvo autorização do alienante, que neste caso teria o direito de retomada.



            Foi por tal desprendimento que os sócios José Gomes e Orestes Silva foram agraciados com o título de “beneméritos” e tiveram duas quadras de tênis construídas e colocados os seus nomes, na parte da Rua Maxaranguape, onde hoje foi erguido um prédio de apartamentos.



            A versão da “doação” pode ser considerada verdadeira, pois aqueles abnegados americanos perdoaram a dívida ao América, destruindo as promissórias que garantiam o dinheiro emprestado para a aquisição do terreno.



            Em 1967 o América voltou a ser campeão, contando com um time bastante caseiro, mas com jogadores de destaque como Véscio e Evaldo "Pancinha". Nesse ano, a final foi contra o Riachuelo, do então jovem Marinho Chagas. Essa vitória propiciou a participação do América na Taça Brasil de 1968.

É uma história longa e muito bonita, que orgulha toda a família americana e o desporto potiguar.


           O “Mecão” marcou presença em campeonatos brasileiros, ganhou o troféu Norte-Nordeste, também conhecido como ‘Taça Almir’, torneio disputado entre equipes do Norte-Nordeste, valendo-se do confronto entre eles pelo Campeonato Brasileiro, título inédito ao futebol potiguar e confirmado pela Placar nº 192 de Novembro de 1973.



A partir daí, o América passou a ser conhecido como Orgulho do RN, após essas campanhas, e desde 1979, o clube iniciou a sua maior série de vitórias no campeonato estadual, sendo tetracampeão de 1979 a 1982, ficando 2 anos e vários jogos sem perder para nenhuma equipe do Rio Grande do Norte.


           Atravessou a turbulência da decadência do futebol potiguar por quase uma década, mas deu a volta por cima logrando outras conquistas marcantes e voltou a ser notícia no cenário do futebol brasileiro. Em 1996, Liderado pelo habilidoso meia Moura, a equipe do Rio Grande do Norte conquistou o vice-campeonato nacional da segunda divisão, estando no ano seguinte entre os principais clubes do Brasil, voltando à Série A.



Venceu a Copa do Nordeste de 1998, derrotando o Vitória na final por 3 a 1, gols de Kobayashi, Biro Biro e Carioca.



           Marcou seu nome no Estádio Machadão, demolido desnecessariamente, e ganhou o direito de participação numa competição internacional, a Copa Conmebol de 1998. O Mecão entrou em campo naquela noite chuvosa de 4 de junho com a seguinte escalação: Gabriel; Gilson, Paulo Roberto, Lima e Rogerinho; Montanha, Carioca, Moura e Biro Biro; Kobayashi e Leonardo. Técnico: Arthur Ferreira.


           Em 2000, o time chegou às oitavas de final da Copa do Brasil, desclassificando entre outras equipes o Sport, em plena Ilha do Retiro, perdendo a chance de passar para quartas, ao perder para o São Paulo.


           Amargou reveses em 2004, mas conseguiu o acesso para a Série B em 2005, sendo vice-campeão da Série C, fazendo grande campanha em 2006, sob a liderança do maestro Souza, craque "nascido" no América.



O América marcou o primeiro gol do estádio Arena das Dunas, através do zagueiro Adalberto e foi também o seu Primeiro Campeão Estadual na noite da quarta-feira 30/04/14, perante um público de 19 mil torcedores.



Continua a galgar vitórias e glórias, enchendo a sua torcida de justificado orgulho.



        VIDA LONGA AO AMÉRICA FUTEBOL CLUBE, NOSSO SUPERCAMPEÃO.



CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, escritor e americano.







Um comentário:

  1. Parabéns pelo relato, dr. Carlos. Sem dúvida uma grande contribuição para quem ama o seu clube e precisa conhecer a sua história e a historia do futebol no nosso Rio Grande do Norte.

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