FORTE
CHEIRO DE MOFO NO AR
Públio José – jornalista
Públio José – jornalista
Nessa época do ano é comum o surgimento do mofo. Por onde você anda, ele se faz
presente, afetando narizes e impregnando as roupas de manchas acinzentadas e
bolorentas. O mofo aparece em razão da combinação do ar saturado de umidade,
pela ocorrência da chuva, com o calor inerente ao clima tropical natalense.
Para as donas de casa traz bastante preocupação. As crianças são logo
acometidas de longas seções de espirros e o conseqüente aparecimento de
corrimento nasal, gripes, garganta inflamada, etc, etc. Além de doentio, o mofo
tem uma característica interessante: ele é anti-social. Gosta de sombras, de
lugares não visitados, de enclaves pouco freqüentados, fechados, obscuros e
inacessíveis. O mofo não gosta de locais abertos, claros, limpos, arejados,
renovados. Sintomaticamente, a roupa clara não lhe é apetecível. Prefere os
tecidos escuros, de pouco uso, entocados há bastante tempo.
Entretanto, o mofo não mata. Eu,
pelo menos, nunca fui a um enterro de alguém que tenha sucumbido vítima do
mofo. Ele enche o saco das donas de casa diante de roupas imprestáveis para o uso,
impregna ambientes com seu odor característico, causa crises de sinusite, olhos
lacrimejantes, nariz entupido, dor de cabeça, deixa você com um jeitão caído,
entristecido, arrasa seu humor... Mas, matar não. Isso não ele não faz. Outro
detalhe evidente no mofo é que ele não escolhe classes sociais. Sua ocorrência
se registra de maneira universal, atingindo a todos, em todos os lugares.
Logicamente que os mais abastados têm mais e melhores elementos para combatê-lo
do que os menos favorecidos. Enfim, metaforicamente, há uma semelhança incrível
entre este período de tempo – no qual o ar e os ambientes estão
carregados de mofo – e o atual momento político vivido pelo Brasil.
Ambos não matam. Mas causam um
prejuízo considerável. Semelhantemente ao mofo, a corrupção é um silencioso
elemento nocivo às engrenagens políticas, administrativas e institucionais. A
corrupção não gosta de ambientes abertos, da luz clara e ofuscante do debate de
idéias. De ambientes visitados por gestores detentores dos princípios da
honestidade, da seriedade, das boas práticas administrativas. Como o mofo, a
corrupção impera em lugares obscuros, vedados ao exercício investigativo,
auditorial, dos órgãos destinados ao seu combate. Da mesma forma que o mofo, a
corrupção não resiste a uma boa investigação. Quando uma dona de casa abre um
armário ou joga à luz do sol uma roupa impregnada de mofo, seu arsenal doentio
desaparece rapidamente sob o poder antisséptico, regenerador e crestador dos
raios solares.
Num processo inicial, o
mofo e a corrupção não matam. Mas suas conseqüências, além de imprevisíveis,
podem desaguar num processo de morte. Da congestão nasal dos primeiros
momentos, o mofo pode progredir para distúrbios gravíssimos. Sem o tratamento
adequado, seu desenvolvimento descontrolado, após se estabelecer no organismo
humano, pode gerar até óbitos, pela ocorrência de distúrbios pulmonares e de
outra natureza. Do mesmo modo, nas engrenagens públicas, a corrupção pode
causar infecções tremendamente danosas e abalos políticos de enormes
proporções. As donas de casa aprenderam a combater o mofo e têm contra ele
armas bastante eficazes. Por seu turno, o organismo estatal precisa aprender a
combater a corrupção e encontrar rapidamente remédios eficazes contra a sua
proliferação. Senão, atchim, atchim, atchim... Cadê o descongestionante!!!?
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