FUTEBOL ALEGRIA
DO POVO?
Sobre a
construção dos mitos ideológicos do século 21.
Geniberto
Paiva Campos - Brasília/ maio-2014
Os brasileiros adoram esportes.
Somos excelentes no futebol, basquete, vôlei, judô, vela, tênis, atletismo,
natação, e outros menos votados. Até em
alguns esportes considerados inicialmente “estranhos”, fora das competições
olímpicas, assumidos como invenções
brasileiras – o futebol de salão -
e dos cariocas: futebol e vôlei
de praia, futevôlei temos mostrado a nossa aptidão em competições
internacionais. Nós brasileiros sabemos citar de cabeça nomes de patrícios que
se destacaram nessas modalidades. Recitamos a escalação completa das nossas
seleções, campeãs de 58 e 70. E o
futebol sempre foi o orgulho nacional. Afinal somos penta campeões, cinco taças
do mundo conquistadas ao longo do tempo
em competições duríssimas, nas quais mostramos a nossa arte e a nossa fibra.
Organizar a disputa de uma Copa do Mundo de
Futebol no século 21 seria motivo de grande orgulho para o país, esperava-se.
Além de mostrar ao Mundo a nossa arte e capacidade competitiva com a bola nos
pés, ficaria evidente a capacidade de organização de um torneio de futebol que
se tornou um desafio para os países-sede
na era da globalização. Da
sociedade de consumo de massas e do espetáculo. Mais ainda, seria uma forma de apagar as
complicadas lembranças do “Maracanazzo”, encravadas até hoje na alma dos brasileiros que amam o
Futebol : a decepção da final da Copa de 1950, na qual, jogando em casa e pelo
empate, fomos derrotados pela seleção uruguaia.
Com todo o acervo de conquistas
nas áreas econômica – somos a 6ª economia do Mundo – e social, com o consistente
processo de inclusão dos desfavorecidos, teria chegado “a hora dessa gente
bronzeada mostrar o seu valor”. Na cadência e no repique do samba e da
malemolência. Imaginaram os brasileiros crédulos e ingênuos. Não ocorre assim,
entretanto.
O que teria acontecido para que
estejam ameaçadas as conquistas da Copa?
Estaria havendo a prevalência do discurso ideológico sobre os fatos
reais? Em pouco mais de um ano houve uma mudança no sentimento de segmentos
específicos da sociedade brasileira sobre a Copa do Mundo de 2014. Afinal, uma
festa de congraçamento mundial através do futebol. Uma forma de promover a paz
e o entendimento entre povos e nações. A
essa altura seria correto indagar: a quem interessa o fracasso da Copa? Por que
essa espécie de ódio ao futebol, construído e disseminado em tão curto tempo?
Sentimento esse propagado por gente de elevado poder aquisitivo, com grande
repercussão nos meios de comunicação, vocalizado por pessoas do âmbito
artístico e cultural, mais ou menos famosas. Deixando transparecer algum tipo
de articulação mais ampla no discurso e
nas ações desses outrora considerados
formadores de opinião?
Talvez seja importante rememorar os acontecimentos.
A partir do primeiro semestre de 2013 as
redes sociais foram surpreendidas pela participação de moças e rapazes que
dirigiam mensagens aparentemente inocentes aos internautas brasileiros. Falando
um inglês perfeito, com legendas, insistiam para que repetissem uma espécie de
mantra sobre a próxima Copa do Mundo: - “a Copa não é importante. Não interessa
ao Brasil. O país tem que investir recursos em educação, saúde, mobilidade
urbana, segurança pública”. E reforçavam: “ não discutam, não argumentem,
apenas repitam. Logo, todos irão entender”! Vieram, em seguida as surpreendentes “manifestações de junho”.
Estranhas em seus objetivos e ainda carentes de análises mais sólidas e de interpretações
com profundidade política e sociológica.
O que se pode inferir desse
estranho movimento na tentativa de desconstrução de um evento de tanta
importância para todos os povos amantes do esporte e com tanto significado
esportivo e cultural? E tendo como alvo o chamado “país do futebol”? Além dos
ousados objetivos de politização
/partidarização de um evento esportivo de tal magnitude, percebe-se os
indisfarçados movimentos para a construção de mais um mito ideológico da
atualidade. Desta feita envolvendo a maior competição esportiva do planeta.
Como entender tamanha ousadia? Ou seria tão somente a aposta segura na
ingenuidade política dos brasileiros? Repetindo aquele magnata do jornalismo
internacional: “não perde quem aposta na infantilidade incurável dos seus
leitores!”
Este movimento anti-Copa talvez
se insira em ações semelhantes, desencadeadas na primeira década deste século,
por instituições governamentais e multinacionais, tendo como objetivo a
construção de mitos ideológicos, capazes de justificar a criação de
preconceitos arraigados e intervenções ,diretas ou indiretas, contra
nações, povos e etnias.
Nesse sentido, é oportuno lembrar
a estigmatização dos povos árabes como componentes do “eixo do mal”, de acordo com
editos do governo americano (período do ex-presidente Bush Jr), conceitos logo
repercutidos pela mídia mundial, ressoando a “ameaça islâmica”. Conceitos que
tiveram sequência, como o mito da posse de armas químicas pelo Iraque e da
urgente necessidade de destruí-las, justificativa para a invasão militar do
país pelas forças armadas americanas, também no governo Bush Jr. Mais
recentemente, a publicação do livro “Eurábia”, o qual trata da “invasão” da
Europa, que estaria sendo perpetrada por árabes e muçulmanos, com o objetivo de
gangrenar (sic) o continente europeu para depois dominá-lo. Esse disparate foi assumido como verdade por
políticos e intelectuais e tornou-se um dos argumentos do discurso da extrema
direita europeia, após sistemática repetição pelos eficientes meios de
comunicação e persuasão do Velho Continente. Não é sem razão, portanto, que se
fala na “2ª Guerra Fria”.
Voltando ao movimento “Não vai
ter Copa”. Toda a lógica do movimento é no mínimo estranha. As “graves
acusações” sobre gastos financeiros, repetidas como ponto de percussão pelos
meios brasileiros de comunicação e persuasão, embora não sustentadas em fatos
concretos, são assumidas como verdades incontestes. As comparações mais
esdrúxulas são feitas, sustentadas por um discurso e retórica vazias,
aparentemente estúpidas, mas capazes de mobilizar corações e mentes de
brasileiros que acreditam, conforme lhes é ensinado, nos “graves prejuízos” que
a realização da Copa trará, certamente, ao Brasil. Tudo isso em um país que, segundo Nelson Rodrigues, “não
apenas joga futebol, mas vive futebol.”
Dia desses, assistindo ao debate
sobre a Copa, ouvi do professor Antonio Lassance, da Universidade de Brasília,
a frase que, pelo seu bom senso, deveria desestimular alguns ímpetos anti-Copa :
“NÃO SE BOICOTAM EVENTOS ESPORTIVOS”. Tornam-se ações
inúteis do ponto de vista político. E são coisas ultrapassadas, características
da 1ª Guerra Fria.
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Democraticamente publico o pensamento do meu estimado amigo Geniberto Campos, com o qual concordo, ainda que com alguma reserva - apenas do que diz respeito a não termos aprendido a escolher prioridades. Foi o que aconteceu ao se trazer para o Brasil a realização da Copa do Mundo, açodadamente, sem analisar outras necessidades mais ansiadas, principalmente pela suspeição de quem estava, à época, à frente d CBF. Agora, no entanto, o fato é consumado, vamos sediar a Copa e devemos mudar completamente a direção da luta, isto é, devemos dar dignidade ao evento e tudo fazer para que o Brasil supere as divergências e concentre todas as forças do governo e da sociedade em busca do sucesso. Este é o meu sentimento. Carlos Gomes
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