sábado, 24 de maio de 2014

Cheleléu




O Puxa-saquismo na Boca do Povo

(*) Gutenberg Costa

            Na cultura do povo ele é conhecido como chaleira, cheleléu, bajulador, estende tapete, prepara a cama, serviçal pra tudo. Não existe raça pior de gente nesse mundo para o povo. O puxa saco é irmão legitimo do delator. Pobre não tem puxa saco e rico nenhum dele escapa... Na boca do povo ele não é bem elogiado...
            Todo puxa-saco de político é como gato, se acomoda fácil a um novo dono, desde que tratado bem com um cargo comissionado. Caindo peixe ou carne debaixo da mesa do poder, o tal puxa-saco logo engorda e roça agradecido o rabo na perna do governante, que antes nem bem conhecia ou havia votado. Alguns se expõem ao ridículo de providenciar duas bandeiras ou dois adesivos, para serem usados em caso de vitória de um dos mais fortes a chegada ao poder. Todo puxa-saco fica em cima do muro esperando pular para os braços do vencedor e é feito tapioca – vira de lado instantaneamente conforme um possível convite a ocupar um disputado e sonhado birô. Adora ser chamado de chefe e andar em carro oficial. Organiza divinamente aniversário ou casamento, seja de seus superiores ou agregados. Riem de piadas velhas contada nos gabinetes e até choram ao tomarem conhecimento da morte do papagaio ou cachorro de quem lhes indicou para o tal cargo que ocupam. Nenhum matemático ou físico calcula a fortaleza de um puxa-saco de plantão sedento de um cargo no poder. Tem gente que assume cargo comissionado há mais de 30 anos aqui no RN. Para o puxa saco não existe partido político... Agrada a Deus e o diabo ao mesmo tempo! Alguns sobreviveram à ditadura e ultrapassaram os tempos das bandeiras verde e vermelha do aluizismo/dinartismo. Pode ter servido os Maias, como pode agradar hoje ao PT. Vergonha não existe em seu dicionário! Topa tudo por todos os meios. Será que o apóstolo Pedro não teria puxado o saco de Cristo, ao cortar a orelha daquele soldado? 
            Das duas uma, ou são muitíssimos competentes ou muitíssimos subservientes. Esse tipo de puxa-saco é tal qual peixe fora dágua. Sem o cargo morrem, por falta de ar (ar-condicionado e motorista particular). Tem poderes que até o sobrenatural duvida. Ou seja, são muitos mais fortes do que até mesmo o poder transitório do RN. Estes grudam no poder que nem cola super bonde. Estrategicamente se organizam, sem ter sindicatos. Bajulam a Deus e ao diabo ao mesmo tempo. A sua religião, o seu time de futebol e o seu partido politico são o do chefe!
O assunto ‘bajulação’ já rendeu até livro de autoria do escritor Nestor de Holanda, com titulo – O Puxa-saquismo ao alcance de todos – Cartilha da Puxação sem Mestre, 205 paginas, editora Letras e artes, RJ. Segundo o citado autor, Puxa-saquismo vem do latim - ‘adulatio’. Esta maldita arte também é chamada de chaleirismo ou puxação de saco. O tipo puxa-saco é também agraciado com as denominações populares de ‘adulador’, ‘bajulador’ ou ‘louvaminheiro’. Seu santo protetor é Santo Onofre, devido o mesmo ser retratado puxando um saco. Dizem que todo político adora ter por perto um puxa-saco. Aquele que carrega a sua bolsa, atende ao seu celular e outras coisinhas mais... Tem puxa-saco que até perdeu ou deixou amigavelmente a sua mulher para o patrão ou chefe. O que mais importa para um puxa-saco é aumento de salário e graduação - mulher é o de menos... Entre os nossos Índios não havia essa praga, mas sabe-se que o puxa-saquismo foi historicamente trazido nas Caravelas de Pedro Álvares Cabral. O Rei foi logo adulado nas cartas de Pero Vaz de Caminha. E haja bajuladores ao senhor seu Rei. A nossa história é recheada de históricos aduladores, segundo o literato Nestor de Holanda. O ‘Chalaça’ bajulava Dom Pedro I, O Conde ‘d’Eu’ chalerava o sogro Dom Pedro II. ‘Amaral Peixoto’ puxava o saco de seu sogro Getúlio Vargas, embora o bajulador oficial fosse ‘Gregório Fortunato’. ‘Felinto Müller’ e ‘Golbery do Couto e Silva’ eram chaleiras de militares e presidentes da ditadura. Collor tinha ‘seu’ ‘PC Farias’. Carlos Lacerda teve em vida vários bajuladores, o mais conhecido foi o ‘Raul Brunini’.
A voz do povo diz que o puxa-saco é quem grita quando o chefe leva uma topada. Fulano é tão baba-ovo que se atirar nos testículos de seu chefe é capaz de acertar em sua boca. O puxa-saco é o último a acreditar na derrota eleitoral de seu chefe político. Ele sempre procura trazer novas fofocas que agradem ao seu chefe. É oferecido para tudo, desde preparar churrasco em dia de domingo a levar os filhinhos de seu chefe à escola. Esse tipo lambe – botas está sempre por perto a elogiar tudo que é feito pelo chefe. O lema do puxa-saquismo é esse: ‘Manda quem pode, obedece quem tem juízo’. Tem genro que chama sogro de ‘paizão’ e logo consegue um bom emprego com o sogro. Alguns depois de efetivados, tratam logo de deixar a filha querida do besta do sogro. É o chamado ‘conto’ do genro puxa-saco. Diz o povo que só os loucos e as crianças não puxam – sacos. Quase todo mundo puxou o saco de alguém pelo menos alguma vez na vida. E a boca do povo afirma que o diabo aceita todo tipo de gente no inferno, menos dois: o delator e o puxa-saco! Sendo assim os folcloristas, aconselham a quem não é puxa saco a procurar outro lugar alternativo, pois o céu está cheio deles...

(*) É presidente da Comissão Norte Rio Grandense de Folclore.

Nenhum comentário:

Postar um comentário