A ELEIÇÃO QUE JESUS PERDEU
Públio José – jornalista
Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
De
um lado Barrabás. Do outro Jesus de Nazaré. Entre os dois o procurador
romano na Palestina, Pôncio Pilatos, representando o sistema
político-militar vigente na região. De Jesus muito se sabe – do ponto de
vista histórico. Já do seu legado espiritual pouco se tira proveito. A
respeito de Barrabás pouco ou quase nada é sabido. Uma nesga da história
narra Barrabás como um criminoso, culpado de sedição e homicídio, que
merecia morrer por crucificação segundo a lei romana. Outros
historiadores tentam colocar uma neblina de charme à sua biografia,
taxando-o de terrorista que promovera algumas ações na tentativa de
derrubar o governo romano na Palestina. De uma forma ou de outra alguém
que vivia ao arrepio da lei. Merecedor, portanto, de julgamento e
condenação, o que de fato ocorrera já que Barrabás estava na prisão tão
somente à espera da hora de ser crucificado.
Do ponto de vista eleitoral o cenário estava completo. Num
patamar superior – lembrando os palanques de campanha dos dias de hoje –
os dois candidatos. Junto a eles o TRE daquele tempo, representado na
pessoa de sua excelência Pôncio Pilatos. O período de campanha, embora
curto, fora muito bem trabalhado por um dos contendores e seus
correligionários. O outro candidato não teve o direito de falar nada,
embora anteriormente já tivesse feito inúmeros discursos sobre o seu
programa de governo, àquela hora totalmente esquecido. Pelo marketing
empregado, havia uma nítida vantagem para Barrabás sobre Jesus de
Nazaré. Os cabos eleitorais do bandido doutrinavam o povo sob intenso
frenesi. Havia pressa, uma vez que não era desejo da elite religiosa
permitir que o eleitorado viesse a raciocinar. Barrabás tinha que ganhar
– mesmo que condenáveis os métodos utilizados.
Esse paralelismo em torno dos fatos reais da condenação de
Jesus serve para demonstrar como são irracionais, em certas ocasiões, as
escolhas que fazemos em nossas vidas. Em sã consciência ninguém
deixaria de votar em Jesus para sufragar o nome de Barrabás. Mas todos
sabem o desfecho ocorrido naquele tempo. Por leviandade, emocionalismo e
superficialismo gritante, cometeu-se uma das maiores injustiças já
praticadas pela humanidade, fruto de um processo eleitoral cheio de
vício e de técnicas deturpadas de persuasão coletiva. Embora não tendo a
carga dramática da escolha que condenou Jesus à morte, o processo
político vivido pelo Brasil atualmente tem uma importância crucial para a
vida de milhares e milhares de pessoas. E da mesma forma que naquele
tempo, processos cavilosos de comunicação e persuasão tentarão vender
gato por lebre, fantasia por realidade.
O direito de exercer o voto é algo realmente extraordinário.
Através dele ciclos inteiros na vida da humanidade foram alterados. Pela
força do voto – não somente o voto do ponto de vista eleitoral, mas
todo processo de escolha que envolva um posicionamento, uma alternativa –
o que era deixou de ser e o que não era passou a existir. Falo do voto
muito além do contexto político. Das tomadas de decisão que temos de
adotar diariamente, de pessoas que temos de escolher como companheiros,
parceiros, sócios. Dos processos que tomamos parte e que envolvem outras
vidas. As chefias nas empresas, o comando nos quartéis, a liderança que
exercemos na vizinhança, na comunidade, no seio da família..... Em todo
momento há a necessidade de votar, de escolher, de se direcionar. E
todo processo de escolha deve ser visto e tratado com responsabilidade e
equilíbrio, visando o bem comum.
E Jesus? Ah, a Ele nós traímos diariamente. Há uma tendência
generalizada de condenar as pessoas que condenaram Jesus. Assistindo aos
relatos da Paixão de Cristo as pessoas choram, se emocionam – e julgam
quem levou Jesus à cruz. Acontece que a todo instante um processo de
escolha se estabelece diante de nós. Entre o que Ele nos ensinou e o que
nosso querer determina. E agora, qual o procedimento a ser adotado?
Viver a Palavra que Jesus Cristo nos deixou é o caminho a ser seguido.
Perdoar, amar ao próximo, não corromper nem ser corrompido, defender o
direito dos mais fracos, dos mais humildes. Mas, será que é assim? Ao
agir diferente do Seu legado estamos ou não traindo-O como os escribas e
fariseus fizeram naquele tempo? O período eleitoral de agora é também
uma oportunidade de praticarmos o bem comum levando a sério o processo
de escolha. Você confirma?
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