In œconomia
veritas
Tomislav R.
Femenick – Auditor e consultor
contábil, mestre em economia.
Francisco
Xavier Gomes Vieira, doutor em direito, matemático, linguista, teólogo,
humanista, meu padrasto e alto funcionário do Banco do Brasil – na época em que
isso dava status social e econômico – ensinou-me algo que foi essencial na
minha formação: não aceitar nenhum conceito, teoria ou mesmo fato sem antes fazer
uma análise crítica. No meu aprendizado universitário tive professores como
Paul Singer, Chico de Oliveira, Bresser Pereira, Guido Mantega e,
ocasionalmente, Luciano Coutinho, Walter Barelli e Octavio Rodriguez, só para citar “homens de formação de esquerda”, que
usavam o ferramental do contraditório para sustentar suas afirmações didáticas.
Profissionalmente
convivi com grandes nomes da contabilidade, entre eles Hilário Franco e Américo
Oswaldo Campiglia. Ambos, para terem certeza de que eu estava certo, sempre questionavam
as conclusões dos meus relatórios de auditoria, consultoria ou perícia. Esse
procedimento sedimentou a minha convicção de que somente contestando é que se
encontra a verdade. Daí porque não reprovo as contestações e os questionamentos
feitos no âmbito dos conceitos; nunca no campo da ideologia.
Esse
longo introito vem em função dos e-mails que recebi por ter tido a “ousadia” de
questionar a política econômica do governo, no artigo “A Economia no Caminho do
Vinagre”. Entre as dezenas de mensagens (quase todas anônimas), somente duas
tinham argumentação lógica. As demais foram somente chavões catequéticos e
frases desconexas. Essa gente não aprende a lição. Só para exemplo: enquanto a
Venezuela e a Argentina vão se “cubanizando” e quebram, a China e o Vietnã se
transformam em economias capitalistas e crescem. Em atenção àqueles dois
contestadores lógicos, apresento alguns novos fatos que indicam o caminho do
vinagre.
Nos
últimos anos, o setor de construção civil era um dos que mais crescia no
Brasil, gerando uma verdadeira euforia do mercado imobiliário e criando
milhares de novos empregos. Hoje as vendas pararam, os estoques de casas e
apartamentos atingem valor em torno de R$ 30 bilhões e o desemprego amedronta
os operários. Apesar da pequena recuperação havida em agosto, nos 12 meses passados
o desemprego nas fábricas já atingiu número superior a 75 mil pessoas com
carteira assinada, isso de acordo com o Ministério do Trabalho.
A
crise atinge também o ensino. Não obstante tenha havido um aumento de matrícula
nas faculdades brasileiras, o número de estudantes que terminam seus cursos
caiu pela primeira vez nos últimos dez anos. Em 2009 a relação “aluno
matriculado” x “aluno formado” era de 46%, (quase 1 para 2); hoje é de 36%
(quase 1 para 3). Note-se que a maior ocorrência de abandono de alunos se dá
nas escolas particulares. As condições econômicas das famílias dos estudantes
certamente é fator determinante para esse fato.
Levantamento
realizado pela Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a Duke University e a CFO
Magazine, indicam que os executivos brasileiros estão entre os mais
pessimistas do mundo, situação que vem se agravando nas seis últimas pesquisas
trimestrais. Causa do pessimismo: desacertos nas políticas governamentais,
incerteza econômica e o retorno da inflação.
Há
mais fatores pavimentando a estrada do vinagre. Anualmente sai ilegalmente do
Brasil cerca de US$ 33,7 bilhões, que equivalem a 1,5% do produto nacional. São
receitas do crime organizado, da corrupção e da evasão de impostos. Enquanto
isso, o Tesouro Nacional joga subsídio nos empréstimos do BNDES que chegam R$ 28,3
bilhões. O problema não é o subsídio; é para onde vão os empréstimos: Eike
Batista, Cuba e correlatos.
Tribuna
do Norte. Natal, 21 set 2014.
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