terça-feira, 23 de setembro de 2014

Sobre Economia


In œconomia veritas

Tomislav R. Femenick – Auditor e consultor contábil, mestre em economia.

 

Francisco Xavier Gomes Vieira, doutor em direito, matemático, linguista, teólogo, humanista, meu padrasto e alto funcionário do Banco do Brasil – na época em que isso dava status social e econômico – ensinou-me algo que foi essencial na minha formação: não aceitar nenhum conceito, teoria ou mesmo fato sem antes fazer uma análise crítica. No meu aprendizado universitário tive professores como Paul Singer, Chico de Oliveira, Bresser Pereira, Guido Mantega e, ocasionalmente, Luciano Coutinho, Walter Barelli e Octavio Rodriguez, só para citar “homens de formação de esquerda”, que usavam o ferramental do contraditório para sustentar suas afirmações didáticas.

Profissionalmente convivi com grandes nomes da contabilidade, entre eles Hilário Franco e Américo Oswaldo Campiglia. Ambos, para terem certeza de que eu estava certo, sempre questionavam as conclusões dos meus relatórios de auditoria, consultoria ou perícia. Esse procedimento sedimentou a minha convicção de que somente contestando é que se encontra a verdade. Daí porque não reprovo as contestações e os questionamentos feitos no âmbito dos conceitos; nunca no campo da ideologia.

Esse longo introito vem em função dos e-mails que recebi por ter tido a “ousadia” de questionar a política econômica do governo, no artigo “A Economia no Caminho do Vinagre”. Entre as dezenas de mensagens (quase todas anônimas), somente duas tinham argumentação lógica. As demais foram somente chavões catequéticos e frases desconexas. Essa gente não aprende a lição. Só para exemplo: enquanto a Venezuela e a Argentina vão se “cubanizando” e quebram, a China e o Vietnã se transformam em economias capitalistas e crescem. Em atenção àqueles dois contestadores lógicos, apresento alguns novos fatos que indicam o caminho do vinagre.

Nos últimos anos, o setor de construção civil era um dos que mais crescia no Brasil, gerando uma verdadeira euforia do mercado imobiliário e criando milhares de novos empregos. Hoje as vendas pararam, os estoques de casas e apartamentos atingem valor em torno de R$ 30 bilhões e o desemprego amedronta os operários. Apesar da pequena recuperação havida em agosto, nos 12 meses passados o desemprego nas fábricas já atingiu número superior a 75 mil pessoas com carteira assinada, isso de acordo com o Ministério do Trabalho.

A crise atinge também o ensino. Não obstante tenha havido um aumento de matrícula nas faculdades brasileiras, o número de estudantes que terminam seus cursos caiu pela primeira vez nos últimos dez anos. Em 2009 a relação “aluno matriculado” x “aluno formado” era de 46%, (quase 1 para 2); hoje é de 36% (quase 1 para 3). Note-se que a maior ocorrência de abandono de alunos se dá nas escolas particulares. As condições econômicas das famílias dos estudantes certamente é fator determinante para esse fato.

Levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a Duke University e a CFO Magazine, indicam que os executivos brasileiros estão entre os mais pessimistas do mundo, situação que vem se agravando nas seis últimas pesquisas trimestrais. Causa do pessimismo: desacertos nas políticas governamentais, incerteza econômica e o retorno da inflação.

Há mais fatores pavimentando a estrada do vinagre. Anualmente sai ilegalmente do Brasil cerca de US$ 33,7 bilhões, que equivalem a 1,5% do produto nacional. São receitas do crime organizado, da corrupção e da evasão de impostos. Enquanto isso, o Tesouro Nacional joga subsídio nos empréstimos do BNDES que chegam R$ 28,3 bilhões. O problema não é o subsídio; é para onde vão os empréstimos: Eike Batista, Cuba e correlatos.

Tribuna do Norte. Natal, 21 set 2014.

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