O futebolês
Ultimamente, os canais de televisão têm ocupado grande
parte dos seus horários às narrações, discussões e aos comentários
sobre o futebol. Não falta pano para manga. Haja torneios, copas, taças e
campeonatos nacionais e internacionais, todos transmitidos pela mídia
esportiva. Coisa de louco! Alguns canais são específicos e chegam a ser
enfadonhos, é o dia todo e todos os dias, só futebol e mais futebol. Com isso,
temos observado que o vocabulário da pelota tem se
enriquecido, se inovado e ampliado bastante, com inovações bem interessantes e
curiosas.
Passamos, dessa forma, a ter mais uma nova variedade
da nossa língua-mãe – o futebolês.
Assim, quando assistimos ou ouvimos uma transmissão de
futebol e seus comentários, ficamos surpreendidos com essa nova linguagem, que
chega a nos tirar de tempo; daí a
necessidade de uma boa reciclagem para entender esse rico e variado palavriado.
Vamos ao que escutamos:
– É um jogador cascudo; o time foi muito cirúrgico,
usa muito a transição ofensiva; aproveita bastante a linha vertical; foi muito
agudo no transcorrer da partida; o time iniciou usando muito a linha baixa; o
adversário preferiu a linha alta; o time está precisando de um 9 plantado e
terminal; tem que jogar enfiado; está faltando um bom meia de contensão; o meia
de armação está fugindo do seu quadrado; tem que flutuar; a transição não está
perfeita; é preciso manter a retenção; tem que fazer o facão para poder guardar
na casinha; o ala tem que se apresentar bem na linha do gramado; a aproximação
tem que ser feita no losango; o volante tem que cobrir o corredor; o jogador
tem pouca minutagem; tem que se manter com jogo apoiado e reativo; ocupar bem o
terço final; dar sempre amplitude; exercer sempre a contrapressão, usar bem os
externos desequilibrantes; o primeiro e o segundo volante têm que ocupar o
triângulo central; bom de vestiário; boa atmosfera.
E, por aí segue a nova comunicação na mais pura e moderna
linguagem – o futebolês. Difícil de
entender, não?
O que diria o nosso filósofo maior do futebol, o
carioca botafoguense Neném Prancha, e o nosso lendário narrador mineiro e
flamenguista até a medula Ary Barroso, com sua inseparável, insuperável e
precisa gaita, diante dessa estranha narração: – o jogador, cascudo e terminal,
invadiu pela vertical de forma aguda, envolveu o time adversário em linha alta, flutuou no losango,
fez o facão e com ação cirúrgica guardou na casinha?
No mínimo, achariam muito estranho e inconcebível e
teriam enfarte fulminante em suas coronárias.
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