segunda-feira, 10 de outubro de 2022

 

O futebolês

 

 

Ultimamente, os canais de televisão têm ocupado grande parte dos seus horários às narrações, discussões e aos comentários sobre o futebol. Não falta pano para manga. Haja torneios, copas, taças e campeonatos nacionais e internacionais, todos transmitidos pela mídia esportiva. Coisa de louco! Alguns canais são específicos e chegam a ser enfadonhos, é o dia todo e todos os dias, só futebol e mais futebol. Com isso, temos observado que o vocabulário da pelota tem se enriquecido, se inovado e ampliado bastante, com inovações bem interessantes e curiosas.

Passamos, dessa forma, a ter mais uma nova variedade da nossa língua-mãe – o futebolês.

Assim, quando assistimos ou ouvimos uma transmissão de futebol e seus comentários, ficamos surpreendidos com essa nova linguagem, que chega a nos tirar de tempo; daí a necessidade de uma boa reciclagem para entender esse rico e variado palavriado. Vamos ao que escutamos:

 

– É um jogador cascudo; o time foi muito cirúrgico, usa muito a transição ofensiva; aproveita bastante a linha vertical; foi muito agudo no transcorrer da partida; o time iniciou usando muito a linha baixa; o adversário preferiu a linha alta; o time está precisando de um 9 plantado e terminal; tem que jogar enfiado; está faltando um bom meia de contensão; o meia de armação está fugindo do seu quadrado; tem que flutuar; a transição não está perfeita; é preciso manter a retenção; tem que fazer o facão para poder guardar na casinha; o ala tem que se apresentar bem na linha do gramado; a aproximação tem que ser feita no losango; o volante tem que cobrir o corredor; o jogador tem pouca minutagem; tem que se manter com jogo apoiado e reativo; ocupar bem o terço final; dar sempre amplitude; exercer sempre a contrapressão, usar bem os externos desequilibrantes; o primeiro e o segundo volante têm que ocupar o triângulo central; bom de vestiário; boa atmosfera.

E, por aí segue a nova comunicação na mais pura e moderna linguagem – o  futebolês. Difícil de entender, não?

O que diria o nosso filósofo maior do futebol, o carioca botafoguense Neném Prancha, e o nosso lendário narrador mineiro e flamenguista até a medula Ary Barroso, com sua inseparável, insuperável e precisa gaita, diante dessa estranha narração: – o jogador, cascudo e terminal, invadiu pela vertical de forma aguda, envolveu o time adversário em linha alta, flutuou no losango, fez o facão e com ação cirúrgica guardou na casinha?

No mínimo, achariam muito estranho e inconcebível e teriam enfarte fulminante em suas coronárias.

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