SENTIMENTO TELÚRICO
Valério Mesquita*
Conversa recente num encontro social, motivou tema interessante
ainda não suficientemente estudado. Quais os estados brasileiros bairristas,
dotados de forte sentimento de teluricidade? No nordeste, à primeira vista, a
Bahia, o Ceará e Pernambuco assumem e assomam o patamar dos notáveis.
Pernambuco, por exemplo, existe o “senso de pernambucanidade”, permanente
disposição afetiva e “patriótica” em defesa das coisas da terra, com tal
entusiasmo e emoção que até parece religiosidade. Assim também se diz do bahiano
e cearense que exageram seus intrínsecos valores de ordem intelectual,
espiritual, consuetudinários e econômicos a extremos, ao ponto de menosprezar e
hostilizar tudo que se refira as demais unidade federativas.
O médico e articulista Elmano Marques suscitou o assunto com
relação as regiões e municípios do Rio Grande do Norte. Existe aqui
comportamento bairrista e onde? De antemão, estabeleceu-se a premissa do
potiguar não ser um telúrico como o gaúcho. Poderia sê-lo, posto que,
motivações religiosas, culturais, históricas, econômicas, além de belezas
naturais sem fim, constituírem o seu rico patrimônio universal de orgulho e
auto-estima. Mas, quais os “bolsões” de bairrismo acendrado existentes? Natal
primeiramente, assume essa identidade de cidadela querida e resguardada pelos
seus habitantes? Pouco provável porque as opiniões são díspares. Que causas
inibem a maioria dos natalenses em manifestar seu sentimento pela capital como
fazem os cearenses, pernambucanos e bahianos? O problema é que quando assim
procedem, se mostram tímidos, sob tensão de notório complexo de inferioridade.
Bem, o que afirmo é uma impressão. Pode ser que outros não enxerguem assim.
Todavia, a razão de trazer à baila a discussão desse assunto é
para suscitar entre os sociólogos, professores e pesquisadores sociais a
elaboração de um trabalho ou de uma tese. Por que Mossoró é tida e havida como
cidade bairrista? Que sentimentos alimentam o seu povo para assim se
conduzirem? Emulação com Natal? Perscrutar a psique social é uma tarefa para os
cientistas dessa área. A antropologia cultural, por outro lado, irá apreciar as
características inerentes a cada homem no que tange aos costumes e as crenças,
de par com outras ciências, a fim de determinar a teluricidade comportamental
dos naturais de cada município ou região. Trata-se de apaixonante assunto que
acredito interessar a todos os interioranos do Rio Grande do Norte. Macaíba,
Parnamirim, Ceará-Mirim, São Gonçalo, que integram a região metropolitana
preservam algum bairrismo? Ou a proximidade com a capital é motivo de dispersão
ou de falência sentimental? O que dizer do Seridó, região mais hermética e de
características sociais atípicas? E como a abordagem é perfunctória e
indagativa, que outros ingredientes como o clima e o solo influem na formação
do sentimento telúrico? Ficam as indagações para os estudiosos.
(*) Escritor
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