terça-feira, 29 de julho de 2014

Guga




                                                        Sabedoria popular
Por: Augusto Coelho Leal, engenheiro civil
                Manhã de um dia do mês de julho. Pego meu carro e decido ir até Mossoró com um itinerário saudosista, em vez de ir direto, resolvi ir por Macau, depois Pendências, Alto do Rodrigues, Ipanguaçu e Assu. Esse itinerário fiz muitas vezes lá pelos anos setenta, recém formado, como engenheiro do DER. As estradas não eram asfaltadas e a BR 406 era uma RN. Na época do inverno davam muitas preocupações.

                Pois bem, lembrei-me que durante esse tempo conheci um jovem que morava perto de Jandaíra e que tinta muito interesse nos serviços realizados na rodovia, fica sempre curioso de saber por que não se asfaltava de vez aquele trecho, já que era asfalto até João Câmara. Eu pacientemente lhe explicava tudo, até o porquê das maquinas paradas, e pensava comigo – Um dia esse rapaz vai ser gente.

                Aproveitei e parei em Jandaíra para tomar um café e perguntar por Amaro Feliciano como era conhecido, e se ele morava por perto. Recebi como resposta que ele morava em Natal, mas que tinha uma fazenda mais adiante e que vivia de um indústria de fabrico da cal (oxido de cálcio), usado muito na construção civil.

                Pois sim, ensinado o caminho e nome da fazenda parto para encontrar o velho companheiro de curiosidades rodoviárias. Para minha alegria, chegando lá vejo Amaro sentado em uma cadeira de balanço lendo um jornal de Natal. Vendo-me ficou meio parado – fazia muito tempo que a gente não se via- desci do carro e me dirigi até ele, que quanto me reconheceu falou.

                - Menino que alegria, quanto tempo doutor Guga, e foi me dando um grande abraço. Ofereceu-me uma cadeira e disse – Vamos prosar um pouco. Ao seu lado tinha vários jornais. Perguntou por tudo, quantos filhos, quantos netos, se eu ainda trabalhava no DER. Respondi todas as perguntas, mas deixei que ele conduzisse a conversa.

                - Amigo, - disse-me, fico emputecido da vida quando leio essas noticias nos jornais.  Mostra-me uma reportagem de capa na Tribuna do Norte onde se ler: Saneamento à espera do MP. Em baixo o resumo da matéria – lagoa de captação e estação de tratamento de esgotos do Pium, concluídas há dois anos e que já poderiam está atendendo ao Litoral Sul, desde janeiro passado, esperam pelos resultados de um novo estudo ambiental, solicitado pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente. Mais adiante ele abre o jornal nas pagina da reportagem e me mostra – Obras paradas em cinco cidades, em baixo, “ESGOTAMENTO” No RN, são 74 obras em 17 municípios. Em cinco deles, os serviços estão parados. No caso do Pium, estrutura corre risco de deterioração por falta de utilização.

                Li e quando acabei ele olhou-me e disse-me – Guga, isto é um absurdo, conheço aquela obra, a utilidade dela, os lençóis freáticos já contaminados, é urgente a sua liberação, e você ainda lê uma asneira dessa, o que é que você acha disso?

                - Olha Amaro, a justiça para mim é uma grande incógnita, tenho bons amigos que fazem parte deste poder, são pessoas boas honestas e capazes, mas de vez enquanto vejo umas barbaridades que nem entendo e por isso não sei explicar, essa é uma delas. Até que me provem que focinho de porco não é tomada, a vaca já tem ido para o brejo há muito tempo.

                - É Guga, não dá para entender, meu pai sempre me dizia. “Meu filho toma cuidado, quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado.” Aí vem o nosso passado. Guga, eu me lembro muito bem, você socado nesse meio de mundo, comendo chuva ou sol e poeira, para dá agilidades as obras, não tinha intervenção IDEMA, IBAMA, promotoria do meio ambiente e outros órgãos. As obras andavam, eram concluídas nos prazos, a população toda satisfeita. Mas agora? É diferente, cada um quer ser estrela e dá pitaco em muitas coisas sem necessidade, as obras atrasam, fica difícil trabalhar assim. Vez por outra recebo visita aqui desses órgãos fiscalizadores, que não me trazem solução e sim problemas. E esse é o nosso futuro.  Mas mudando de assunto, Natal não é chamada de a Cidade do Sol, agora pode ser chamada também de Cidade da Lua, porque tem tantos buracos e crateras imensas, que está competindo com a lua, à diferença Guga, é que a lua é dos namorados e Natal dos marginais. Já viu o perigo que estamos correndo em trafegar pela nossa cidade? A criminalidade é muito grande e as policias inoperante, uma barbaridade. Mas deixa pra lá, - abre o O Jornal de Hoje na pagina de esporte e pergunta. O que você acha do Dunga na seleção?

                - Olha em vez do Dunga, eu preferia a Branca de Neve, para mim muito mais saudável. Você já imaginou em vez de a gente está vendo o Dunga zangado, gritando, dando bofetes em tudo que está perto dele, com cara de mau, estaria Branca de Neve, de neve só o nome, pois deveria ser um morenaço no banco dos reservas, com um biquininho, de deixar muito marmanjo de queijo caído, - o resto já está caído, pela nossa idade.

                - É isso amigo, esse é o nosso Brasil. Vou indo, pois fiquei de almoçar com meu guru, Brenju, lá em Macau. Fica com Deus e um grande abraço.

               

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