segunda-feira, 28 de julho de 2014



Matheus Nachtergaele escreve carta para Ariano Suassuna!

E Ariano arrodeia o céu.
Digam logo que é mentira. Desdigam essa bestagem de que a morte é de verdade verdadeira. Falem, aí, que num tem literatura se acabando em choro, num tem caba macho das letras se arriando ao contrário pro meio céu.
Oxe. Avisem que ele é pai de Chicó, que brinca de morrer, morre, desmorre e ressucita com a gaita de João Grilo… Depois corre pra dançar. Dançar com as palavras
Chamem a Compadecida para dar colo ao nosso susto. “Mainha, a gente não quer ser filho de um mundo sem o talento monstruoso de um homi assim”.
Cabô o pantim. Cabô o aperreio. Nosso mestre não deu pinote. A vida nao foi pirangueira nos seus 32 mil dias de reinação.
Foi tudo graça pra nos fazer Severino de besta. Foi fuleragem, foi gaiatice. E deixem um cotôco de esperança pra gente soluçar.
Toquem o clarim. Tenham misericórdia do nosso egoísmo. Manguem que a gente quase que quase acreditou. Os gênios jamais morrem.
Ave Maria. Ave José. Que cordel triste se fez hoje. Chora a cachorrinha. Chora a mulher do padeiro. Chora quem arrastou com ele um sotaque tão nordestino e um tão nordestino coração. Chora o Movimento Amorial. Chora de novo a mulher chorona do padeiro. Chora seu Manoel, chora Rosinha, chora o gatilho do cangaceiro. Chora, quietinha, a Academia Brasileira de Letras. Choram os livros. Choram os palcos. Choram até os grilos, seus homenageados.
O céu, meu pai, faz zuada, sorri feliz e se enche de causos. De palhaços, da mulher vestida de Sol. Se enche das harpas de Sião e dos homens de barro. Se enche de amor. De humor. O céu inteiro corre. E sua… ssuna.
O santo. A porca.
O homem da vaca.
O príncipe de Sangue.
A Caseira. A Catarina
Fernando e Isaura.
A onça Caetana.
Nas conchambranças de Quaderna… Se danam a rir e a chorar.
Corta.
No último do penúltimo ato, o paraibano-pernambucano abre o olho pra reclamar: “Deixe já dessa frescura. Eu sou eterno quando lido, e lido bem com isso. Esse negócio de eternidade deve cansar”.
Mas a gente segue agoniado, abuticado… E olho dele volta a fechar.
Corta.
“João! João! Morreu! Ai meu Deus, morreu pobre de João Grilo! Tão amarelo, tão safado e morrer assim! Que é que eu faço no mundo sem João? João! João! Não tem mais jeito, João Grilo morreu. Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre. Que posso fazer agora?”.
Que posso fazer agora?
Que posso sentir agora?
Que posso dizer agora?
Que posso contar agora se não dessa orfandade que hoje me pariu?
…Não sei. Só sei que foi assim.
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