E “LA NAVE VA”. PARA ONDE NINGUÉM SABE
Tomislav R.
Femenick – Mestre em economia, com extensão em sociologia
Nos tempos em que vivemos, a realidade supera todos
os conceitos estabelecidos pela ciência. Tomemos só dois exemplos: o governo federal se impõe sobre o senso comum e o senso
cientifico, ao dizer que a cloroquina cura; um físico italiano, Carlo Rovelli,
afirma de pés juntos que o tempo não existe. Isso nos leva a um caos que dá um
nó na cabeça de todos, situação em que só as teorias de ponta podem nos salvar.
Vamos à ciência. Paralelamente aos estudos que
culminaram com a teoria do caos, outras pesquisas “culminaram na formulação da mecânica quântica na segunda metade da
década de 1920 [...], quando Max
Planck logrou explicar, através de uma hipótese que a ele próprio repugnava, o
espectro de radiação do corpo negro” – não confundir com buraco negro
(CHIBENI, s.d.).
Esse
novo ramo da física, a mecânica quântica, basicamente estuda sistemas (na
física, sistema é uma parte da realidade escolhida como objeto de estudo) que
estão em escala atômica ou lhe são inferiores: moléculas, átomos, prótons,
elétrons, nêutrons e demais partículas subatômicas. Sua aplicação prática está
relacionada, por exemplo, aos estudos da superfluidez e da supercondutividade,
para o que os instrumentos usados pela física tradicional se mostram
inapropriados. Quando um fenômeno exige a aplicação dos conceitos da mecânica
quântica, é porque esse evento tem as características do que se convencionou de
chamar de “momento angular” de ação.
Ao
introduzir o conceito da imprevisibilidade ou do
acaso, a mecânica quântica substituiu o determinismo científico por uma visão
probabilística da natureza, entendendo que a matéria é uma consequência física
de um estado que precede a outro estado. Para a mecânica quântica não há
movimentos estáticos e lineares, todos os movimentos podem ser dinâmicos,
inesperados e incertos. Em síntese, a
mecânica quântica trabalha com elementos imprevisíveis, para evidenciar
probabilidades. E como, na realidade brasileira!
Partindo do princípio de que as ciências interagem
entre si, a mecânica quântica terminou por fazer surgir um novo ramo da
matemática. Tradicionalmente essa é uma ciência que trabalha com quantidades
mensuráveis – absolutas, relativas, geométricas ou topológicas –, usando
fórmulas, equações, teoremas e funções como instrumentos de suas análises e
constatações, empregando números reais ou números complexos (assim chamados os
números que têm um determinante imaginário). Foi nas “análises funcionais”, aquelas que tratam de dimensões e espaços
imensuráveis, que a mecânica quântica foi buscar o ferramental necessário para
a sua formulação teórica.
A nova visão da matemática incorporou os estudos dos
chamados grupos quânticos. Porém, Hakon et al (1999) afirmam que “não há uma definição satisfatória
universalmente reconhecida do que seja um grupo quântico. Todas as propostas em
vigor sugerem a ideia de deformação de um objeto clássico, que pode ser, por
exemplo, um grupo algébrico, ou um grupo de Lie [Álgebra de Lie é
uma estrutura algébrica usada como ferramenta para o estudo
das rotações infinitesimais]. E em
todas as propostas os objetos deformados perdem as propriedades de grupo:
assim, ‘grupos’ quânticos não são grupos. O que sempre se procura preservar nas
deformações é o entendimento das diversas representações que os objetos
admitem”.
A
matemática quântica faz uso da análise, geometria, topologia e álgebra com
funções não lineares, trabalhando com elementos imprevisíveis para demonstrar
possibilidades de resultados, isso é, resultados possíveis. Embora inicialmente
contestada, hoje a mecânica quântica é amplamente aceita, depois que seu
posicionamento teórico se comprovou correto. Em síntese, a matemática quântica
trabalha com elementos imprevisíveis, para detectar probabilidades.
Viram
como o mundo está difícil de entender? Pois bem, o Brasil está mais ainda. O
presidente da República desrespeita as recomendações do seu ministro da Saúde,
uma CPI do Parlamento transforma-se em um circo de horrores e um general agride
o Regimento do Exército. E “la nave va”.
Não se sabe para onde.
Tribuna
do Norte. Natal, 02 jun. 2021.
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