sábado, 17 de junho de 2023

 Santo Antônio, de Lisboa e de Pádua

Padre João Medeiros Filho 

Celebra-se sua festa litúrgica em 13 de junho. Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo era seu nome civil. Nasceu aos 15/08/1195, em Lisboa. Faleceu com apenas 35 anos, aos 13 de junho de 1231 em Pádua (Itália), onde vivera alguns anos. Por essa razão, passou a ser chamado de Santo Antônio de Pádua, não obstante sua origem lusitana. Inicialmente, ingressou na Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, tendo sido ordenado sacerdote no Mosteiro da Santa Cruz, de Coimbra, em 1220. Posteriormente, após uma tentativa frustrada de fixar-se no Marrocos – onde pretendia ser missionário entre os muçulmanos – partiu para a Itália. Durante a viagem, foi acometido de grave doença. O navio em que embarcara acabou desviado por uma tempestade para a Ilha da Sicília. Ali chegando, resolveu ir até Assis para conhecer São Francisco. Este o impressionou e marcou tanto sua vida, que resolveu deixar os agostinianos e ingressar na ordem franciscana. Sua lucidez e equilíbrio eram relevantes. Em carta, São Francisco o chama: “Meu bispo”. Grande pregador e conselheiro, Antônio orientou nobres e ricos de seu tempo. Intermediou vários casamentos entre membros da aristocracia europeia. Conta-se que ajudou muitas noivas a comprar o enxoval e pagar o dote esponsal. Daí, nascem a fama de promotor de matrimônios e o epíteto de “casamenteiro”, surgindo também a devoção das moças casadoiras. Combateu os erros doutrinários de sua época com tanta convicção e sabedoria que São Francisco o designou superior provincial dos franciscanos. Sediado no Convento de Arcella (Pádua), viajou pela Europa com tanta rapidez e frequência, a ponto de a tradição atribuir-lhe o dom de ubiquação, pelo qual podia estar em vários lugares ao mesmo tempo. Dotado de grande eloquência, inteligência privilegiada e exímio conhecimento teológico, reiterou que a virtude maior do cristianismo é a caridade. O convento onde morava era rodeado por pobres e famintos, que lhe suplicavam o pão material e o alimento espiritual. A tradição conserva até hoje o símbolo de sua atenção e amor pelos pobres: o pão de Santo Antônio, distribuído à porta dos conventos franciscanos às terças-feiras (dia da semana em que ocorreu o seu sepultamento). Compreendeu desde cedo a lição de Cristo: “O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis” (Mt 25, 40). Para pregar unicamente a Palavra de Deus, renunciou à cátedra da Universidade de Bolonha. Sabia da existência dos mais sedentos da Água que nos sacia e famintos do Pão da Vida. O ministério da pregação foi a prioridade de seu apostolado. Na verdade, transmitia “palavras de vida eterna” (Jo 6, 68). Na sociedade contemporânea, inundada de falas e informações pelas redes sociais e mídia, sua mensagem convida-nos a buscar os ensinamentos que nos salvam. Num mundo contaminado por falsos valores, que nos deixam perdidos e atônitos, ele nos leva a encontrar Deus, “tesouro que a traça não corrompe” (Mt 6, 19). Fez muitos descobrir Jesus Cristo. Impressionou tanto os cristãos e as autoridades eclesiásticas pela sua santidade e sabedoria que o Papa Gregório IX o elevou às honras dos altares, canonizando-o em apenas onze meses após a sua morte, declarando-o Doutor da Igreja. Dada à influência portuguesa e à catequese dos franciscanos, primeiros missionários a aportarem no Brasil, bem como à devoção por parte do povo mais simples, Santo Antônio foi integrado aos festejos juninos, ao lado de São João e São Pedro. Muitos conhecem o folguedo: “Matrimônio, matrimônio, isso é lá com Santo Antônio.” Sua influência contribuiu, à época, no registro batismal de muitos portugueses. Havia incidência significativa do prenome Fernando, oriundo das dinastias espanhola e lusitana. O ilustre frade mudou essa rotina. Muitos passaram adotar o nome do santo como prenome ou acrescentá-lo ao já existente. Exemplo relevante é o do poeta Fernando Pessoa. Essa tradição foi trazida para o Brasil. Podem ser encontrados vários registros de Fernando Antônio nos livros paroquiais de batismo e nos cartórios. Rezamos em nossas igrejas: “Bendito seja Deus nos seus anjos e nos seus santos.”

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