terça-feira, 17 de setembro de 2013


A MISSA SEGUNDO ADÉLIA PRADO

PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO (pe.medeiros@hotmail.com)

Adélia Luzia Prado Freitas, poeta e prosadora, renomada escritora brasileira contemporânea, nasceu, aos 13 de dezembro de 1935, na cidade de Divinópolis (MG). Em 1975, Drummond sugere a Pedro Paulo de Sena Madureira, da Editora Imago, a publicação do livro de Adélia, cujos poemas considerava fenomenais. Envia ao editor os originais daquele que viria a ser seu primeiro livro, intitulado Bagagem. No dia 09 de outubro do mesmo ano, o Poeta de Itabira publicou uma crônica no Jornal do Brasil, chamando a atenção para o trabalho ainda inédito da escritora. Ali, Adélia descreve seu espírito místico e cristão: “Descobri que a experiência poética é sempre religiosa, quer nasça do impacto da leitura de um texto sagrado, de um olhar amoroso sobre o outro, ou de observar formigas trabalhando. Deus é o personagem principal de minha obra. Ele está em tudo. Não apenas Ele, mas a fé, a oração e o amor”.
Em novembro de 2007, no festival de música e cultura de Aparecida, intitulado Vozes da Igreja, pronunciou uma conferência sobre o tema da linguagem poética e religiosa. Falou também sobre a missa: “É a coisa mais absurdamente poética que existe. O absolutamente novo, sempre. É Cristo se encarnando, tendo a sua paixão, morrendo e ressuscitando. Nós não temos de pôr mais nada em cima disso. É só isso”. Comentou que como cristã de confissão católica não pode ficar indiferente à liturgia, ao espaço sagrado e às manifestações religiosas, propondo o resgate da beleza das celebrações litúrgicas. E diz, comentando num certo tom de tristeza: ”Olhem, há algumas celebrações, em que a gente sai da igreja com vontade de procurar um lugar para rezar”.
Adélia colocou então a questão da música na liturgia. Especialmente aquela que deve ter um novo significado. Recordara o padre francês Joseph Gelineau, S.J., que fez a transição do gregoriano para a música moderna. Insistiu que, muitas vezes, o canto de nossas igrejas não ajuda a rezar. “O canto não é ungido, e sim algo fabricado. Faz-se urgente e indispensável redescobrir o canto oração”, disse, citando Max Thurian – monge protestante de Taizé – que fora observador, no Concílio Vaticano II, posteriormente convertendo-se ao catolicismo e ordenado sacerdote.
Adélia reforçou as observações, enfatizando que a música agitada, com instrumentos e microfones ruidosos, não facilita a oração, mas impede o espaço de silêncio e serenidade contemplativa. Lamentou que o encontremos tão pouco em nossas igrejas. “Parece que há um horror a ele”. Não se pode parar por um minuto sequer”. Falta silêncio. E não havendo este, não se ouve a Palavra nem há escuta do mistério que se celebra.
A escritora mineira comentou as interpretações equivocadas que se fizeram do Vaticano II no que concerne à reforma litúrgica. “Não é o fato de ter passado do latim para o português, que haja necessidade de vulgarizar a linguagem e o culto, empobrecendo a sua própria natureza, isto é, a beleza.”. Segundo Prado, banalizou-se o espaço do sagrado e da liturgia com letras e melodias desprovidas do sublime e do belo.
Ao destacar que a missa é como um poema, que dispensa acréscimos, Adélia Prado afirmou que a celebração da Eucaristia “é perfeita” na sua simplicidade. Concluiu sua conferência com estas palavras: “Colocamos enfeites, cartazes para todo lado, procissão disso, procissão daquilo, palmas para tudo”. São coisas que vão quebrando o ritmo. “E a missa tem o seu ritmo. É um mistério”. Concluiu a Poeta de Divinópolis: Mysterium Fidei (Mistério da fé). E este é inefável, de uma magnitude tal, que as palavras são insuficientes, pobres e até desnecessárias. Devemos contemplá-lo, adorá-lo e vivê-lo! 

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