DE VOLTA AO PASSADO VII –
ANTIGOS BLOCOS CARNAVALESCOS –
ÚLTIMA PARTE
Por Ormuz Simonetti
Finalmente chegamos ao último artigo sobre
os antigos blocos carnavalescos. Como
dissemos na crônica anterior, esses blocos
deixaram de animar as ruas e avenidas de
nossa capital, após o acidente ocorrido
com o bloco “Puxa Saco” no ano de 1984,
que ficou conhecido como
“A Tragédia do Baldo”.
Entretanto, os blocos que saiam à moda
antiga com alegoria, orquestra e puxados
com trator, deixaram de existir já em meados
dos anos 70. Os que permaneceram diferiam
dos tradicionais, pois não se utilizava o
sistema de alegorias, deslocavam-se a
pé e o número de componentes era bem
maior. Guardadas as devidas proporções,
assemelhavam-se em muito aos blocos
que hoje desfilam por ocasião do insistente
Carnatal.
CARNATAL - Imagem internet
Os antigos blocos carnavalescos tiveram o mesmo
destino que as nossas saudosas “serenatas” -
musicas cantadas no sereno -, costume boêmio
que herdamos no sangue lusitano, dentre outras
coisas vindas da Península Ibérica. Quando em
1972 parti para São Paulo Capital, onde
assumiria o meu primeiro emprego no
Banco do Brasil, a prática das serenatas em
nossa turma ainda era comum. Reuníamos
nos bares de então para os ensaios e
lá pela madrugada iniciávamos as serenatas,
de preferência na casa da namorada de alguém
da turma.
que limitava nossa atuação e os
bares escolhidos para os ensaios
ficavam estrategicamente próximos das
casas a serem visitadas. Posteriormente
vieram os carros, geralmente ganhos por
um de nós, como prêmio por ter obtido
aprovação no concurso do vestibular,
melhorando, assim, o alcance e o número
de casas visitadas.
em 1974, poucos eram os que se aventuravam
nessa prática, pois a evolução musical dos
ritmos e estilos, já empurrava o jeito
melodioso e poético das musicas cantadas
em serenatas para a marginalidade. Além do
mais esse tipo de música e seus intérpretes
eram taxados de piegas. Diziam-se bregas,
cafonas etc.
Conservatória, distrito de Valença no estado
do Rio de Janeiro. Em 1975, ainda morando
do Rio, tive a oportunidade de passar
um fim de semana prolongado nessa
encantadora cidade. No primeiro dia, ao
cair da tarde quando as luzes tênues
pendentes dos postes de madeira começavam
a iluminar a velha cidade, fiquei arrebatado
com o som que vinha das ruas.
A princípio distante, depois aos
poucos começou a se aproximar da
casa onde estávamos hospedados. Em
dado momento, surgiu no início da rua
um grupo de pessoas, na maioria formado
por casais que caminhava cantado ao
som de violões plangentes, tangidos
magistralmente por músicos, que
acompanhado de suas namoradas,
esposas e amigos peregrinavam pelas
centenárias ruas estreitas da cidade
enchendo o ar e o coração dos ouvintes
de uma melodia tão bela, que naquele
instante nos pareceu hinos celestiais.
observar que em cada casa daquela rua
e de outras também, havia uma placa
afixada na parede com a data da
serenata e o nome do compositor da
canção executada. Fiquei impressionado
e maravilhado com aquela tradição, que
se mantém até os dias de hoje.
perguntei aos amigos se ainda
aconteciam as nossas serenatas.Tive
como resposta frases de reprovação:
tá doido? Isso é coisa de brega!
Conformei-me e silenciei quanto
a minha experiência na cidade de
Conservatória. Não valia à pena
dizer o que tinha visto e sentido.
Para eles não fazia a menor diferença,
afinal minha cidade havia crescido e
com ela a mentalidade cosmopolita
daqueles amigos.
em 2010 um grupo de amigos, remanescentes
dos blocos Lorde’s e Apaches, movidos
pelo saudosismo, resolveram literalmente
“botar o bloco na rua”. Fizeram algumas
reuniões, ao modo como fazíamos
naqueles “anos dourados” e foram à
luta: contrataram orquestra, conseguiram
sempre, a cargo do artista plástico Levi
Bulhões. Teve como primeira formação os
seguintes foliões, que na quase totalidade
eram acompanhados por suas esposas: Beto
Coronado, os irmãos Claudinho e Sezio Ribeiro
Dantas, Minervino, Levi Buhões, Marcos
Monte, Julio Andrade, Mauricio Tarcino,
Iog Pacheco, Alfredo, Jaime Paiva, Sergio
Amarelinho, Rafael Maux, João Cláudio
(Joê) e José Bezerra (Ximbica).
ruas de Natal “OS APACHES” com
admiração e saudosismo dos mais
velhos que tiveram o privilegio de
conhecer ou mesmo de participar
dos antigos blocos carnavalescos.
APACHES - 2013
A partir de 2011, continuam saindo
mesmo sem alegoria, entretanto, não dispensam
a orquestra que no ano passado foi composta
por dez animados músicos. Vestidos com
fantasia simples onde se destaca o nome
do bloco na camisa, reúnem-se, inicialmente
na casa de Beto Coronado. De lá, partem para
os bares da vida de preferência no circuito da
praia de Ponta Negra, compartilhando alegria,
tocando a tradicional e boa musica carnavalesca
composta de frevos e machinhas e,
naturalmente, como bons saudosistas,
evocando os tempos que não voltam mais.
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