segunda-feira, 16 de setembro de 2013


DE VOLTA AO PASSADO VII – 

ANTIGOS BLOCOS CARNAVALESCOS – 

ÚLTIMA PARTE


Por Ormuz Simonetti

Finalmente chegamos ao último artigo sobre 
os antigos blocos carnavalescos. Como 
dissemos na crônica anterior, esses blocos 
deixaram de animar as ruas e avenidas de 
nossa capital, após o acidente ocorrido 
com o bloco “Puxa Saco” no ano de 1984, 
que ficou  conhecido como 
“A Tragédia do Baldo”. 
Entretanto, os blocos que saiam à moda 
antiga com alegoria, orquestra e puxados 
com trator, deixaram de existir já em meados 
dos anos 70. Os que permaneceram diferiam 
dos tradicionais, pois não se utilizava o 
sistema de alegorias, deslocavam-se a 
pé e o número de componentes era bem 
maior. Guardadas as devidas proporções, 
assemelhavam-se em muito aos blocos 
que hoje desfilam por ocasião do insistente 
Carnatal.  

                               CARNATAL - Imagem internet

Os antigos blocos carnavalescos tiveram o mesmo 
destino que as nossas saudosas “serenatas” - 
musicas cantadas no sereno -, costume boêmio 
que herdamos no sangue lusitano, dentre outras 
coisas vindas da Península Ibérica. Quando em 
1972 parti para São Paulo Capital, onde 
assumiria o meu primeiro emprego no 
Banco do Brasil, a prática das serenatas em 
nossa turma ainda era comum. Reuníamos 
nos bares de então para os ensaios e 
lá pela madrugada iniciávamos as serenatas, 
de preferência na casa da namorada de alguém 
da turma. 

Imagem Internet

Naquela época o percurso era feito a pé, o 
que limitava nossa atuação e os 
bares escolhidos para os ensaios 
ficavam estrategicamente próximos das 
casas a serem visitadas. Posteriormente 
vieram os carros, geralmente ganhos por 
um de nós, como prêmio por ter obtido 
aprovação no concurso do vestibular, 
melhorando, assim, o alcance e o número
 de casas visitadas.

Imagem Internnet

Quando do meu primeiro retorno a Natal 
em 1974, poucos eram os que se aventuravam 
nessa prática, pois a evolução musical dos
 ritmos e estilos, já empurrava o jeito 
melodioso  e poético das musicas cantadas 
em serenatas para a marginalidade. Além do 
mais esse tipo de música e seus intérpretes 
eram taxados de piegas. Diziam-se bregas, 
cafonas etc.
                                       Imagem Internet
Entretanto, não era o que acontecia em 
Conservatória, distrito de Valença no estado 
do Rio de Janeiro. Em 1975, ainda morando 
do Rio, tive a oportunidade de passar 
um fim de semana prolongado nessa 
encantadora cidade. No primeiro dia, ao 
cair da tarde quando as luzes tênues 
pendentes dos postes de madeira começavam 
a iluminar a velha cidade, fiquei arrebatado
 com o som que vinha das ruas. 
A princípio distante, depois aos 
poucos começou a se aproximar da 
casa onde estávamos hospedados. Em 
dado momento, surgiu no início da rua 
um grupo de pessoas, na maioria formado 
por casais que caminhava cantado ao 
som de violões plangentes, tangidos 
magistralmente por músicos, que 
acompanhado de suas namoradas, 
esposas e amigos peregrinavam pelas 
centenárias ruas estreitas da cidade
 enchendo o ar e o coração dos ouvintes 
de uma melodia tão bela, que naquele 
instante nos pareceu hinos celestiais.

                                      Imagem Internet

No outro dia, andando pela cidade, pudemos 
observar que em cada casa daquela rua 
e de outras também, havia uma placa 
afixada na parede com a data da 
serenata e o nome do compositor da 
canção executada. Fiquei impressionado 
e maravilhado com aquela tradição, que 
se mantém até os dias de hoje.

                                        Imagem Internet

Quando retornamos para Natal, em 1976, 
perguntei aos amigos se ainda 
aconteciam as nossas serenatas.Tive 
como resposta frases de reprovação: 
tá doido? Isso é coisa de brega! 
Conformei-me e silenciei quanto 
a minha experiência na cidade de 
Conservatória. Não valia à pena 
dizer o que tinha visto e sentido. 
Para eles não fazia a menor diferença, 
afinal minha cidade havia crescido e 
com ela a mentalidade cosmopolita 
daqueles amigos.
        
Imagem Internet

       
Mas, de volta aos antigos blocos carnavalescos, 
em 2010 um grupo de amigos, remanescentes 
dos blocos  Lorde’s e Apaches, movidos 
pelo saudosismo, resolveram literalmente 
“botar o bloco na rua”. Fizeram algumas 
reuniões, ao modo como fazíamos 
naqueles “anos dourados” e foram à 
luta: contrataram orquestra, conseguiram 
o trator e as caçambas. 
APACHES - 2010

O desenho e a pintura da alegoria ficou, como
 sempre, a cargo do artista plástico Levi 
Bulhões. Teve como primeira formação os
 seguintes foliões, que na quase totalidade
 eram acompanhados por suas esposas: Beto 
Coronado, os irmãos Claudinho e Sezio Ribeiro
 Dantas, Minervino, Levi Buhões, Marcos 
Monte, Julio Andrade, Mauricio Tarcino, 
Iog Pacheco, Alfredo, Jaime Paiva, Sergio 
Amarelinho, Rafael Maux, João Cláudio 
(Joê) e José Bezerra (Ximbica).

                                            APACHES  2011

No sábado de carnaval daquele ano, retornava as 
ruas de Natal “OS APACHES” com 
admiração e saudosismo dos mais 
velhos que tiveram o privilegio de 
conhecer ou mesmo de participar 
dos antigos blocos carnavalescos.
APACHES - 2013

         A partir de 2011, continuam saindo 
mesmo sem alegoria, entretanto, não dispensam
 a orquestra que no ano passado foi composta 
por dez animados músicos. Vestidos com 
fantasia simples onde se destaca o nome 
do bloco na camisa, reúnem-se, inicialmente 
na casa de Beto Coronado. De lá, partem para 
os bares da vida de preferência no circuito da 
praia de Ponta Negra, compartilhando alegria, 
tocando a tradicional e boa musica carnavalesca 
composta de frevos e machinhas e, 
naturalmente, como bons saudosistas, 
evocando os tempos que não voltam mais. 

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