segunda-feira, 25 de janeiro de 2021


Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-9

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

Segunda-feira amanhece continuando com a chuva que vem caindo nessas últimas 48 horas. No veraneio, contudo, tudo é válido, tudo é bom, pois o resguardo da caminhada permite a introspecção para leituras, pensamentos e meditação. A propósito estou lendo o excelente e instigante livro Jean Mermoz, do nosso conterrâneo Roberto da Silva.

A minha tarefa diária mereceu hoje uma nova conotação – a vintenária mesinha de plástico, amiga confidente de longo curso, mas que está chegando ao tempo de aposentação.

Com o tempo perdeu o viço, o brilho e até a cor, deixando transparente a sua velhice, com rugas e alguns cortes profundos que demonstram a dificuldade de suportar o peso do meu computador e do meu corpo quando me debruço pensativo.

Mesmo que dificulte a serventia, não será desprezada de nenhuma maneira, ficará no meu quarto da praia, coberta com um pano apropriado, um pequeno jarro com flores nativas da região e um retrato da minha inesquecível Thereza, que sempre fazia dela uso para escrever seus pensamentos.

Muitos leitores poderão pensar que meu comportamento com um objeto já indica a decrepitude de cuidar de uma coisa tão trivial. Replicarei perguntando, quem de vocês, que gosta de escrever, não tem um movelzinho especial assim, onde a familiaridade descamba numa intimidade e cumplicidade? O amor também existe no apego às coisas que trazem satisfação – uma mesinha cai bem nesse tipo.

Não sei se a saudade exigirá a sua presença na varanda do primeiro andar. Se tal acontecer, convocarei a mesinha, hoje tão meiga e fraquinha, como são as coisas que o tempo cuidou de conservar. Mas o farei com o cuidado, como quem cuida de um cristal.  

Procurei na internet alguma poesia, pensamento, comentário sobre alguém que amou um objeto do seu cotidiano e nada encontrei. A ordem materialista não comporta sentimentalismos – isso só acontece com os que são sensíveis, Graças a Deus.


8 comentários:

  1. Tio Carlos, foi com muita emoção que lhe o seu texto: sensível, reflete seu zelo, cuidado e Gratidão sentimentos que extrapolam às coisas tangíveis, beijam a alma e querem ficar no tempo e na memória exatamente pela força e cumplicidade que foi/É/sempre será...
    PARABÉNS!!!!👏👏👏👏👏👏

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  2. Quando Eu crescer quero ser igualzinha a você...admiro demais!!!😍

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  3. É verdade, amigo, só seres sensíveis, especiais, sabem eternizar o afeto, seja por alguém ou algo que lhe seja, particularmente, caro.
    Há um texto que, de uma certa forma, me remete ao valor afetivo que dedicamos à algumas coisas e, especialmente, a alguém.
    "Na minha época tudo era feito para durar, os móveis, os carros, os eletrodomésticos, o amor, a amizade.
    E quando estragava, a gente remendava, costurava, reformava. Hoje não, hoje tudo é deixado de lado, jogado no lixo, tudo tem que ser novo, mesmo que seja frágil, que não valha a pena. Saudade de quando a vida passava mais devagar, as coisas tinham valor e sonhávamos com um tempo onde o mundo seria melhor para todos, este tempo que nunca chegou e, deste jeito, nunca chegará."
    Um saudoso abraço.
    Didi Avelino

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  4. Sempre profundo e sensivel o querido Professor e amigo Dr. Carlos.Avante!

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  5. Admiro a sua sensibilidade
    Não vejo como materialismo amar algo que fez parte da nossa vida e da nossa história
    Eu mesma conservo objetos que estão comigo
    a mais de trinta anos
    Até mesmo plantas
    O valor material é o que menos importa
    PARABÉNS AMIGO

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  6. Papai penso como vc e mamãe, graças a este pensamento sigo em frente em razão da saudade que sinto da minha alma gêmea. Ao ver a casa de vcs, os materiais que me faz sentir a presença dela, o seu escritório, biblioteca e muito mais continuo firme aqui na Terra. Sei que muitas pessoas n concordam, respeito mas não me importa, quando um sabe de si e a vontade de ser feliz. Te amo❤❤❤😚🌹

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  7. Querido Irmão Carlos,olhando seu relato sob a mesinha que conserva ao lado da sua cama,senti o mesmo com as minhas que conservo até hoje é que tem muita serventia, pois guardo
    objetos antigos inclusive os óculos do nosso pai,para que me dê mais incentivo à leitura.
    Desejo a você Carlos,muitos anos de vida, e com a memória de um grande escritor.
    Um abraço da sua irmã Lêda

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