OS IRMÃOS SE ENCONTRAM NA POESIA
O GATO ARIEL
Vinte e dois de setembro.
Madrugada.
“Nem uma névoa no
estrelado véu...” (Augusto dos Anjos)
Banhei a face
despreocupada,
respirei forte,
contemplando o céu.
A Morte se apaixona.
Enamorada,
vai-nos a vida para o seu
vergel.
Safo de Fáon foste
desprezada...
Cavalga a morte fúlgido
corcel.
“Se lá no assento etéreo
se consente,” (Camões)
“Vive tranquilo, as nobres
atitudes
de esfinge a olhar além
das solitudes...” (C.
Baudelaire)
Deixaste a vida
prematuramente
para melhor cingir justo
laurel,
pobre amigo querido, meu
Ariel!
(Daltro de Paiva Oliveira – n. 04/07/1937; m. 29/05/1996)
Sobre a lenda de Fáon, escreveu o professor Jônatas
Batista Neto, em seu blog JONATASNETO’S BLOG, edição de 08/10/2011:
Fáon, Safo e Alceu: três personagens da ilha
de Lesbos, envolvidos numa trama meio-histórica, meio-mitológica. Os antigos
diziam que o barqueiro Fáon – um velho pobre e feio – tinha dado, um dia,
carona à deusa Afrodite (Vênus) sem lhe cobrar passagem, naturalmente.
Agradecida, a divindade presenteou-o com um frasco de unguento mágico:
esfregando-o repetidas vezes sobre o corpo, Fáon recuperou a juventude e ainda
conseguiu tornar-se o mais belo homem da ilha, a ponto de deixar todas as
mulheres caídas por ele. Até a célebre poetisa Safo apaixonou-se pelo
barqueiro, só que, por alguma razão, não teve sorte: rejeitada, atirou-se da
falésia de Lêucade e encontrou a morte “nas ondas verdes do mar”. Aristóteles
diz que foi castigo porque, um pouco antes, ela havia descartado o notável
poeta Alceu, que também morava na ilha.
MOVIMENTO PENDULAR
o dia
o dia
arrebol
arrebol
novo sol?
novo sol?
algo novo
algo velho
o balanço
indeciso
o vértice
o vórtice
o alfanje
o algoz
o trem
o trem
o sol?
o sol?
o poço
o pêndulo
a lâmina
o sino
o fim
a fome
a morte
a queda
o pulo
o rato
o giz
o giz
a hora
deserta
o tempo
feliz
o jazz
o triz
o tic-tac
o tic-tac
o tic-tac
o tic-tac
(Horácio
Paiva)
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