CORRUPÇÃO
VENCEDORA?
O Brasil é, realmente, um país singular, como diria aquele intelectual após
entornar a quinta dose de uísque. A diferença é que ele falaria com a língua
enrolada pelo efeito entorpecedor do álcool. Já eu falo por sentir na própria
pele, na qualidade de brasileiro, a gravidade de tal afirmação. No campo médico
um paciente é dado como morto, embora apresente alguns sinais de vida, quando a
ministração de medicamentos, de remédios, de drogas, mesmo que as mais modernas
e de comprovada eficácia, não sinaliza mais seu retorno à vida. O médico não
pode afirmar que o paciente está morto – embora também não possa
catalogá-lo como um corpo vivo. É nesse estágio que está o Brasil no que diz
respeito ao combate à corrução. São tantos os casos, são tantos os envolvidos
e, pior, são tantos os processos, as investigações, que o organismo legal
brasileiro começa a dar sinais de infecção generalizada.
Os sinais de exaustão da máquina jurídica nacional são evidentes. Como são
também evidentes os sinais que começam a esborrotar da cabeça da opinião
pública brasileira, pelo altíssimo volume de informações, denúncias,
investigações, quebra de sigilo telefônico, quebra de sigilo bancário, e mais
aquilo, e mais aquilo outro. Quando se analisa a série história que envolve a
justiça brasileira, quando se olha para trás e se vê o mundão de casos ainda
sem encaminhamento, sem julgamento pela máquina judiciária, quando se observa o
sem número de casos de impunidade – e, inclusive, do significativo volume
de casos de corrução que envolve membros da própria justiça, a que conclusão
devemos chegar? Se os casos anteriores não tiveram, na justiça, o
encaminhamento que deveriam ter, a que desfecho chegarão os casos de agora,
quando, além do mais, envolvem gente grossa de todos os segmentos?
Santa ingenuidade é se esperar que dessa cartola saia algum coelho que nos
regenere a esperança. Pois a justiça está tão empanturrada de coisas para
fazer, investigar, julgar, que dificilmente se desincumbirá dessa tarefa, mesmo
que queira, nos próximos dez, vinte anos. Nesse período outras realidades se
instalarão, outros interesses serão estabelecidos, outros modismos ocuparão os
espaços da mídia e – o que é pior – a histórica falta de memória do
brasileiro se encarregará de jogar tudo em um profundo e insondável mar do
esquecimento. O que expresso, portanto, não é fruto de uma momentânea
demonstração de pessimismo, mas a constatação de que o volume de casos de corrução
no Brasil chegou a um volume tão alto, e de investigação tão simultânea, que o
país, à semelhança de um paciente terminal, não encontra mais forças, no seu
espaço judiciário, para buscar as soluções que o momento está a exigir.
Soluções à vista? Só o tempo, com sua enorme capacidade de
acomodação, pode responder a essa pergunta. O que se depreende do ponto de
vista histórico, e também o que pode vir a nos consolar, é que o Brasil já
enfrentou períodos indigestos de natureza política, traduzidos em simples
tremores e também em terremotos de grandes proporções, e sempre se saiu deles
de forma ordeira e pacífica – graças a Deus. Atualmente, do eleitorado
pouco se pode esperar pelos motivos já expostos. A esperança talvez resida no
surgimento de uma nova liderança. Liderança, afinal, que dê exemplo de
decência, de coerência, de visão voltada para o bem comum e para os interesses
maiores da nação brasileira. Por hora, só nos resta esperar e sonhar com um
provável novo tempo, enquanto, lamentavelmente, assistimos a corrução
generalizada ganhando a parada. Palmas para ela. E ela merece?
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