OS PENSARES DE HORÁCIO PAIVA
CENA DOMÉSTICA
(Conversa
com meu pai)
Eu que viajara pelo mundo
certa vez perguntei ao
meu pai
que nunca saíra do Brasil
se havendo a escolha de
apenas um
país qual gostaria de
conhecer.
- A Inglaterra,
disse.
A pergunta seguinte
a razão ou lado subjetivo
de sua resposta
nunca lhe fiz.
A sua admiração à
resistência na segunda grande guerra?
A sua doutrina do
trabalho?
O seu perfil estoico
entre liberal e
conservador?
A pontualidade?
A organização do tempo
que sempre teimava em querer
controlar
mesmo ante a perspectiva
da morte?
Tantas identidades...
TRÊS TRISTES TIGRES
Título reverencial alusivo
à obra de Cabrera Infante
OS MORTOS ESTÃO AO MEU
LADO
de pires na mão
esperais
a revolta que não
chega
os mortos estão ao
meu lado
mas se recusam a
combater
talvez não mais
acreditem
em petardos e heróis
ou porque estando
mortos
não tenham mais vida
a perder
o tempo passou para
eles
e se passou para
eles
passou também para
mim
À TARDE VAMOS À PRAIA
nunca sabemos quando o
mar nos quer
à tarde vamos à praia
e desafiamos as ondas
que bebem nossos planos
de conquista
também procuramos
encontrar
o rosto do sol
mas este segue o poente
e se esconde aos não
iniciados
assim jamais obtemos
resposta
e à nossa revelia o
destino
vagos enigmas planta na
areia
o vento os confunde e os
refaz
e de novo indecifráveis
aos sonhos do coração
agonizante
A HORA RASA
não há mais onde abrigar-se
o quarto é um símbolo mudo
e a calmaria
sinal de perigo
os odres estão vazios
e muita cautela é preciso ao pisar
as nuvens de silêncios inflamáveis
outrora havia rumor de
tambores
que anunciavam a chuva
mas os ventiladores pararam
o quarto está despido
sem sombras e sem luz
sem qualquer movimento de espera
exceto a expectativa
de que uma porta se abra
e retorne em triunfo
a exterioridade dos ruidos
O NATAL DE SÃO FRANCISCO E DO POETA HORÁCIO PAIVA
-São
Francisco refletia sobre as chagas de Jesus e a esperar se quedava transido de
frio e jejum.
“- medito em profundo silêncio e
solidão!
-Que
procurais São Francisco nesta noite de Natal? A quem chamais, pobrezinho na
noite fria de Assis?
“ - Procuro pelos desvalidos deste
mundo”
-Já
não tendes o presépio e vossa fé bem plantada? Vosso bordão, vosso hábito e as
vossas orações?
“-Sim, tenho tudo isso. Contudo,
preciso buscar a todos,
Para que não se perca nenhum”
-As
sete chagas chamais de Nosso Senhor Jesus Cristo profundo e simples quereis
compartir a sua sorte.
“-Sim, o Verbo é simples!”
-Há
uma estrela a guiar o caminho até as chagas há o sangue derramado sobre a neve
sossegada.
“- Sim,o seu sangue não foi em vão.
Sobre a neve nascerão rosas e Esperança”.
(Horácio Paiva - Natal de 2012)
(Eduardo Gosson – Natal de 2012)
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