domingo, 3 de fevereiro de 2013



OS PENSARES DE HORÁCIO PAIVA  

     
CENA DOMÉSTICA 
(Conversa com meu pai)

Eu que viajara pelo mundo
certa vez perguntei ao meu pai
que nunca saíra do Brasil
se havendo a escolha de apenas um
país qual gostaria de conhecer.

-  A Inglaterra, disse.

A pergunta seguinte
a razão ou lado subjetivo de sua resposta
nunca lhe fiz.

A sua admiração à resistência na segunda grande guerra?
A sua doutrina do trabalho?
O seu perfil estoico
entre liberal e conservador?
A pontualidade?
A organização do tempo
que sempre teimava em querer controlar
mesmo ante a perspectiva da morte?

Tantas identidades...

                                   


TRÊS TRISTES TIGRES
Título reverencial alusivo à obra de Cabrera Infante


                      OS MORTOS ESTÃO AO MEU LADO
                            de pires na mão esperais
                            a revolta que não chega

                            os mortos estão ao meu lado
                            mas se recusam a combater

                            talvez não mais acreditem
                            em petardos e heróis
                            ou porque estando mortos
                            não tenham mais vida a perder

                            o tempo passou para eles
                            e se passou para eles
                            passou também para mim
                                                                             

À TARDE VAMOS À PRAIA

nunca sabemos quando o mar nos quer

à tarde vamos à praia
e desafiamos as ondas
que bebem nossos planos de conquista

também procuramos encontrar
o rosto do sol
mas este segue o poente
e se esconde aos não iniciados

assim jamais obtemos resposta
e à nossa revelia o destino
vagos enigmas planta na areia

o vento os confunde e os refaz
e de novo indecifráveis
aos sonhos do coração agonizante
                              

A HORA RASA

não há mais onde abrigar-se                           
o quarto é um símbolo mudo
e a calmaria
sinal de perigo
        
os odres estão vazios
e muita cautela é preciso ao pisar
as nuvens de silêncios inflamáveis
        
outrora havia rumor de tambores
que anunciavam a chuva
 mas os ventiladores pararam
        
o quarto está despido
sem sombras e sem luz
sem qualquer movimento de espera
exceto a expectativa
de que uma porta se abra
e retorne em triunfo
a exterioridade dos ruidos
  

                                              
O NATAL DE SÃO FRANCISCO E DO POETA HORÁCIO PAIVA 

 -São Francisco refletia sobre as chagas de Jesus e a esperar se quedava transido de frio e jejum.
“- medito em profundo silêncio e solidão!

 -Que procurais São Francisco nesta noite de Natal? A quem chamais, pobrezinho na noite fria de Assis? 
“ - Procuro pelos desvalidos deste mundo”

 -Já não tendes o presépio e vossa fé bem plantada? Vosso bordão, vosso hábito e as vossas orações? 
“-Sim, tenho tudo isso. Contudo, preciso buscar a todos,
Para que não se perca nenhum”
 -As sete chagas chamais de Nosso Senhor Jesus Cristo profundo e simples quereis compartir a sua sorte. 
“-Sim, o Verbo é simples!”
 -Há uma estrela a guiar o caminho até as chagas há o sangue derramado sobre a neve sossegada. 
“- Sim,o seu sangue não foi em vão. Sobre a neve  nascerão rosas e Esperança”.

 (Horácio Paiva - Natal de 2012)
(Eduardo Gosson – Natal de 2012)

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