A AÇÃO INEXORÁVEL DO TEMPO
Carlos Roberto de Miranda Gomes,
escritor.
Sem maiores pretensões buscava algum programa na televisão
para aplacar a insônia e, na busca dos canais, de repente tomou a telinha a
figura emblemática de Abelardo Barbosa, o “Chacrinha”, com suas roupas
berrantes e a inseparável buzina.
Constatei que a “GNT” fazia uma homenagem aos programas do “Velho
Guerreiro”, trazendo cenas daquele tempo, entrecortadas com entrevistas e
depoimentos de personagens bizarras que com ele conviveram, de artistas
decaídos e outros ainda em atividade, e das suas famosas “Chacretes”,
funcionários e diretores d ´antanho.
No desenvolver do programa senti nostálgico o desfilar de
vetustas figuras, algumas já com evidentes sinais de declínio físico e, ou
mental, algumas até grotescas quando insistiram em vestir as fantasias de
outrora, tentarem repetir os passos da coreografia sob o som da famosa música “Abelardo
Barbosa, está com tudo e não está prosa ... oh Terezinha, Ó Terezinha.... é um
barato o Cassino do Chacrinha”.
Artistas dão os seus testemunhos, contam os seus dramas –
alguns causando espanto pelo estado físico, como Nelson Ned, Wanderley Cardoso,
Rosemary, Agnaldo Timoteo, com dificuldade para emitir suas vozes. músicos e
maestros deformados pela gordura, calouros idosos repetindo as suas execráveis
performances, como também artistas que souberam envelhecer mantendo a postura
adequada da sua idade, como Roberto Carlos, Wanderléia, Gilberto Gil, Fábio
Júnior, Alcione, Ney Matogrosso, Beth Carvalho e outros.
Foi um programa de longa duração, que terminou com o
testemunho do velho “Russo” e uma canção pungente de Alceu Valença nominando os
personagens dos programas do Chacrinha, que acompanhei por muito tempo, dado o
inusitado e o estranho que dominavam as tardes de sábado e domingo, com a
Discoteca e o Cassino do Chacrinha.
Diz um ditado que “Recordar é Viver”. Mas nesse programa eu diria
que “Recordar é sofrer”.
Foi doloroso para mim. Tive que ser medicado para me acalmar.
Triste filme ou triste fim.
A velhice não merece esse vexame!
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