GESTOS DO PAPA
FRANCISCO
PADRE
JOÃO MEDEIROS FILHO (pe.medeiros@hotmail.com)
São Francisco de Assis converteu-se, ao ouvir o Crucifixo
da capela de São Damião lhe dizer: “Francisco,
vai e restaura a minha casa. Ela está em ruínas” (cf. Legenda Maior II, 1).
No inicio, não entendeu a revelação e tomou ao pé da letra as palavras,
reconstruindo a igreja da Porciúncula. Após meditar e rezar, compreendeu que se
tratava de algo espiritual: reconstruir a “Igreja
que Cristo resgatou com seu sangue” (op.cit). Foi então que começou um
movimento de renovação da Igreja. Morou com os hansenianos e de braço com um
deles percorria as ruas e estradas, anunciando o Evangelho. Não era sacerdote,
mas simples leigo. Os papas de sua época proibiam aqueles que não eram
ordenados de pregar. Por isso, quase no final de sua vida, aceitou ser diácono
para se tornar ministro da Palavra de Deus.
O Cardeal Bergoglio inspirou-se na vida do Santo de Assis.
Percebeu uma Igreja mergulhada em ataques, críticas e escândalos. Então, sentiu
que tinha como missão restaurá-la. Por isso, Francisco não é apenas um nome,
escolhido pelo Papa. É muito mais. Representa uma visão de Igreja simples,
pobre, humilde e maternal, que trata a todos indistintamente como filhos.
São Francisco foi obediente à Igreja, mas, seguiu seu
próprio caminho, ensinando um evangelho de pobreza, caridade e simplicidade.
Bento XVI, ainda quando era simples padre, escreveu que a vida do “Poverello de
Assis” é um “protesto profético”. Não
fez discursos, pronunciamentos eloquentes, simplesmente mostrou uma nova face
da Igreja, voltada para os que sofrem, despojada, preocupada com o Evangelho e
não com a honra e a glória.
Na sua primeira aparição em público, Francisco mostrou que
tem em mente uma Igreja fora dos palácios e dos símbolos do poder. Não usou a
mozeta, bordada e com brocados de ouro. Chegou simplesmente vestido de branco e
com a cruz de bispo. Pediu humildemente que rezassem por ele. Somente após orar
com o Povo de Deus, abençoou os fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Aparece
como servidor, “servo dos servos de Deus”,
como se escreve nos documentos oficiais da Igreja. Evitou a pompa e a
exaltação. Passou uma imagem de serenidade, ternura, bondade e amor. Irradiava
paz e confiança Não usou da retórica vaticana. Falou como um pastor ao seu
rebanho.
Recentemente, alguns jornais
italianos publicaram uma foto do Papa preparando-se para celebrar uma missa,
cujos convidados eram os jardineiros e o pessoal de limpeza do Vaticano.
No início da celebração, pede a todos que rezem em silêncio por ele e por todos. Levanta-se
da cadeira presidencial e vai sentar-se no final da capela para fazer sua
oração. Prefere que contemplem a verdadeira razão da sua existência: o Cristo
Eucarístico. Na foto, vê-se a diferença entre o lider e o chefe. Este sempre se
coloca em evidência, pondo-se à frente para que todos o vejam e lhe obedeçam. O
líder sabe quando sentar atrás. É capaz de desaparecer no momento oportuno,
para que outros cresçam e se voltem para quem é verdadeiramente
importante. Na fotografia, o admirável Francisco está de costas.
Talvez muitos desejassem vê-lo de frente, mas quis ficar naquela posição e
volver a face para Cristo, o irmão de todos.
Quantos chefes, até mesmo
eclesiásticos, terão a postura de ir sentar-se numa cadeira, no fundo da sala?
Terão coragem e humildade de voltar às costas aos aplausos, aos cliques dos
fotógrafos, aos microfones, às câmeras, aos elogios, às palmas e mostrar um
coração despido de vaidade e ostentação?
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