segunda-feira, 9 de setembro de 2013


A mais pura verdade... vale a pena ler.

CARTA QUE O APRESENTADOR FLAVIO CAVALCANTI (1923-1986) ESCREVEU A SEU NETO

Meu neto:

Pelo que você já me disse com o seu sotaque de anjo, percebo que você
me considera uma criança grandona e desajeitada, e me acha, mesmo
assim, seu melhor companheiro de brinquedos.

Pena que tenhamos tão pouco tempo para brincar, tão pouco porque só
sei brincar de passado, e você só sabe brincar de futuro. E ainda
estarei brincando de recordação quando você começar a brincar de
esperança.

Mas antes que termine o nosso recreio juntos, antes que eu me torne
apenas um retrato na parede, uma referência do meu genro, ou quem sabe
até uma lágrima de minha filha, quero lhe dizer meu neto, que vale a
pena.

Vale a pena crescer e estudar. Vale a pena conhecer pessoas, ter
namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções. E, a despeito
de tudo isso, ir renovando todos os dias a sua fé e a bondade
essencial da criatura humana, e o seu deslumbramento diante da vida.

Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga sua
recompensa; que não há livro que não traga ensinamentos; que os amigos
têm mais para dar que os inimigos para tirar; que se formos bons
observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto com a vida
do ignorante.

Vale a pena casar e ter filhos. Filhos, que nos escravizaram com o seu amor.

Vale a pena viver nesses assombrosos tempos modernos, em que milagres
acontecem ao virar de um botão; em que se pode telefonar da Terra para
a Lua; lançar sondas espaciais, máquinas pensantes à fronteira de
outros mundos, e descobrir na humildade que toda essa maravilha
tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar um segundo
sequer a chegada da primavera.

Vale a pena, meu neto, mesmo quando você descobrir que tudo isso que
estou tentando ensinar é de pouca valia, porque a teoria não substitui
a prática, e cada um tem que aprender por si mesmo que o fogo queima,
que o vinagre amarga, que o espinho fere, e que o pessimismo não
resolve rigorosamente nada.

Vale a pena, até mesmo, envelhecer como eu e ter um neto como você,
que me devolveu a infância.

Vale a pena, ainda que eu parta cedo e a sua lembrança de mim se torne
vaga. Mas, quando os outros disserem coisas boas de seus avós, quero
que você diga de mim, simplesmente isso:

“Meu avô foi aquele que me disse que valia a pena. E não é que ele
tinha razão?!”
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Este e-mail foi enviado pelo amigo Roberto Furtado de Mendonça.

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