A POESIA MAGISTRAL DO POETA ANTONIO FRANCISCO - Mossoró/RN.
Ei-lo aí um dos maiores Poetas da Literatura de Cordel do Brasil, aliás ouso bem dizer, o hoje maior Poeta em atividade criativa neste genero do nosso país - Antonio Francisco de Mossoró - RN. E além de grande homem e gente do bem é também a simplicidade em pessoa. O Poeta Antonio Francisco é o atual ocupante da cadeira de nº 15 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cujo patrono é o saudoso poeta cearense Patativa do Assaré, que assumiu em 15 de Maio de 2006. A partir daí, já vem sendo chamado de o “novo Patativa do Assaré”, devido à cadeira que ocupa e à qualidade de seus versos, bem como a simplicidade e afabilidade que trata as pessoas que o procura para ouvir seus belos versos. Este eu abraço, escuto e aplaudo de pé, porque merece. Para os amigos do Facebook segue a postagem do belo poema abaixo: A CASA QUE A FOME MORA Antonio Francisco Vi o orgulho ferido Nos braços da ilusão, Vi pedaços de perdão Pelos iníquos quebrados, Vi sonhos despedaçados Partidos antes da hora, Vi o amor indo embora Vi o tridente da dor, Mas nem de longe vi a cor Da casa que a fome mora: Vi num barraco de lona Um fio de esperança, Nos olhos de uma criança, De um pai abandonado, Primo carnal do pecado, Irmãos dos raios da lua, Com as costas semi-nuas Tatuadas de caliça Pedindo um pão da justiça Do outro lado da rua. Vi a gula pendurada No peito da precisão, Vi a preguiça no chão Sem ter força de vontade, Vi o caldo da verdade Fervendo numa panela, O jejum numa janela Dizendo: aquí ninguém come! Ouvi os gritos da fome, Mas, não vi o rosto dela. Passei a noite acordado Sem saber o que fazer, Louco, louco pra saber Onde a fome residia E por que naquele dia Ela não foi na favela E qual o segredo dela, Quando queria pisava Amolecia e matava E ninguém matava ela? No outro dia eu saí De novo á procura dela, Mas não naquela favela, Fui procurar num sobrado Que tinha do outro lado Onde morava um sultão. Quando eu pulei o portão Eu vi a fome deitada Em uma rede estirada No alpendre da mansão. Eu pensava que a fome Fosse magricela e feia, Mas era uma sereia De corpo espetacular E quem iria culpar Aquela linda princesa De tirar o pão da mesa Dos subúrbios da cidade ou pisar sem piedade Numa criança indefesa? Engoli três vezes nada E perguntei o seu nome. Respondeu-me: sou a fome Que assola a humanidade, Ataco vila e cidade Deixo o campo moribundo, Eu não descanso um segundo Atrofiando e matando Me escondendo e zombando Dos governantes do mundo. Me alimento das obras Que são superfaturadas, Das verbas que são guiadas Pros bolsos dos marajás E me escondo por tráz Da fumaça do canhão, Dos supérfluos da mansão, Da soma dos desperdícios, Da queima dos artifícios Que cega a população. Tenho pavor da justiça E medo da igualdade, Me banho na vaidade Da modelo desnutrida, Da renda mal dividida Na mão do cheque sem fundo, Sou pesadelo profundo Do sonho do bóia fria E almoço todo dia Nos cinco estrelas do mundo. Se vocês continuarem Me caçando nas favelas, Nos lamaçais das vielas Nunca vão me encontrar, Eu vou continuar Usando meu terno xadrez, Metendo a bola da vez, Atrofiando e matando, Me escondendo e zombando Da burrice de vocês. * Coleção Queima-bucha de Cordel, Mossoró-RN, Outubro de 2006. |
terça-feira, 29 de abril de 2014
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