DIA DE ELEIÇÃO
Era dia de eleição. A cidade estava em festa, com
movimentação estupenda. Caminhões “Mistos” transportando eleitores chegavam a
toda hora. Os candidatos a Prefeito pelos antigos partidos políticos, UDN E
PSD, ofereciam mesa farta aos votantes famintos, que, normalmente, enchiam a
barriga às custas dos dois. Nem votar direito sabiam. Eram eleitores
analfabetos, que sabiam somente desenhar o nome. Com as antigas cabines de
votação fechadas, o voto acontecia mesmo secretamente. Os eleitores ficavam
reservados, e ninguém os via dentro da cabine. Levavam o modelo da chapa de
votação, que servia de cola para a chapa oficial entregue pelo mesário.
José Maria Silva, um eleitor matuto que iria votar
pela primeira vez, entrou na cabine de votação e fechou a porta. Passado o
tempo estipulado para votação, o eleitor não saiu da cabine. O mesário se
aproximou, bateu na porta, mas ele não respondeu. Cinco minutos depois, o
mesário bateu novamente e o chamou pelo nome que constava na lista de
eleitores. Dessa vez, ouviu sua voz cansada dizer:
– TEM GENTE!!!
O eleitor, marinheiro de primeira viagem e nervoso,
fora acometido de desastrosa e inoportuna dor de barriga, dessas de chicotada,
e de dar arrepios. A dor de barriga, assim como a morte, também é fator
nivelador da humanidade. Pode atingir o Papa Francisco, como também um pobre
eleitor de uma pequena cidade do interior.
Sem ter como evitar, o jeito foi o eleitor
satisfazer, ali mesmo, a humilhante necessidade fisiológica. Usou a cabine de
votação como privada, num canto da parede. Limpou-se com todos os santinhos da
campanha eleitoral com fotos de candidatos, que guardava nos bolsos, inclusive
os seus preferidos; modelos de chapas para votação e também a chapa oficial que
lhe fora entregue pelo mesário.
O principal ele não fez, que foi exercer seu
direito de voto pela primeira vez, na época em que não se conhecia o grau de
periculosidade dos políticos. Acabrunhado, o eleitor saiu da cabine de votação
como um raio. Não conseguia aceitar o que acontecera, pois esperava com
ansiedade o momento do seu primeiro voto.
Se fosse hoje, seria muito mais vantajoso não ter
votado!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário