domingo, 13 de abril de 2014

Um cantinho de emoção


O TÉDIO
Poesia de um poeta alemão HENRICH HEINE. 
Tradução de Guilherme Almeida.

DOUTOR
Eu venho consutar-lhe uma enfermidade
Que me punge doutor e martiriza
Rouba-me a razão a mocidade
Negro cancro que nunca cicatriza.
É a moléstia que gera a hipocondria 
Mui vulgar, porém insuportável
Rouba-me sem trégua, implacável
O sossego do espírito e a alegria.
Vós que sóis um filósofo profundo
Conhecedor do coração humano
O médico mais sábio desse mundo
Eu creio que curareis o mal insano que me atrofia a mente e esmaga.
Eu tenho um coração que não palpita
Cabeça que não pensa e não divaga
O tédio negro me envenenou os dias
Tédio que mata, tédio que assassina
Como os beijos vendidos na orgia de uma noite intérmina
Noite libertina.
O sábio, meditava em face do cliente
Tem razão, o senhor está muito doente
No entanto, a moléstia estranha que o devora
Mui vulgar e comum nesses tempos de agora,
Uma grande emoção, um grande sentimento
Às vezes valem muito e operam no momento o milagre da cura
O tédio é uma sombra, uma fatal loucura
É a noite indefinida do humano coração 
Faz esquecer a sorte, faz esquecer a vida
Faz esquecer o eu e faz lembrar a morte
Diga-me: nunca amou? 
Nunca em sua vida um coração bateu de encontro ao seu emocionado?
Não…
Pois é preciso mover-se
Aturdir-se meu caro,
Em busca de um prazer,
De um prazer bem raro.
Já foi à Grécia? 
Ao Oriente, a Terra Santa? 
Lá onde tudo fala
E tudo canta?
Num passado já morto, de mortas tradições
Que amesquinham, no entanto, as novas gerações,
Gastei a mocidade. Em híbridos prazeres viajei
Viajei, como um judeu errante da lenda secular

E dentre as mulheres que meus lábios beijaram
Numa hora delirante de loucura infernal
Nenhuma só sequer
Deixou de ser para mim uma estranha mulher
Desculpe meu doutor
O mal é sem remédio
Cura-se tudo
Mas não se cura o tédio
Vá ao circo senhor! 
Talvez as liguinadas do palhaço
Que as multidões inteiras não cessam de aplaudir
Lhe arranquem a boa gargalhada e lhe façam sorrir

Já sei o meu doutor, que o mal é incurável!
Quem as multidões diverte a ri no Coliseu,
O riso que ele tem é um riso aparvalhado
Que a miséria encobre, um riso desgraçado
Esse palhaço sou eu.
_______________
Colaboração do leitor Genilson Galvão

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