segunda-feira, 14 de abril de 2014

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1964 -  A DEMOCRACIA  ESPEROU 21 ANOS  (2)  
Geniberto Paiva Campos -  Brasília  - Fevereiro / 2014 

II) Origem e Formação do Pensamento “Revolucionário” no Brasil
2. “Graças a Deus, é a Grande Guerra!”  Escreveu  o general Vikctor Dankl, do exército austro húngaro, em final de julho de 1914. Marcando o início da I Guerra Mundial. (1) A partir deste período o mundo jamais seria o mesmo.
Para alguns historiadores atentos, o primeiro conflito de  escala mundial  marca o início do “breve século vinte”(2). Que veria a eclosão de outra “Grande Guerra”, a  Segunda, em 1939, duas décadas após a Primeira, ainda de maiores proporções que a anterior. E que redesenhou o mapa geopolítico do globo terrestre. Quando a humanidade  descobriu dispor de armas letais, utilizando energia atômica, jamais imaginadas,  capazes de destruição em grande escala.
Conflitos dessas proporções, envolvendo povos e nações, não se repetiram até o presente. Os confrontos  assumiriam outras características. Tornaram-se mais sutis, localizados, circunscritos a cidades, no limite, a países. Guerras não  formalmente declaradas. A maioria com motivação ideológica. Outros de cunho religioso. Nunca na amplitude e na escala de um guerra mundial. A humanidade entrou, talvez de maneira definitiva, no que se convencionou chamar de “Guerra  Fria”.  Caracterizada por confrontos bélicos não declarados, cheios de nuances. Geralmente encobrindo  golpes de estado, assassinatos, exílios e inúmeras violências camufladas. Outras, nem tanto.
O breve século XX foi marcado por conflitos de forte conteúdo ideológico. Foi chamado de “século da violência“.  Na perspectiva da Europa e de seus impérios foi uma espécie de matadouro.“ E por toda parte os vemos perecer, devorando-se uns aos outros e destruindo a si próprios”. (3)
3. Do ponto de vista da América Latina, e particularmente, do Brasil, podem ser claramente percebidas e examinadas as formas como as mudanças de um mundo conturbado, ocorridas na primeira metade do século XX, repercutiram , direta ou indiretamente, na filosofia e na prática de suas  políticas de poder.
A Guerra Fria instalou, em escala mundial, o confronto entre dois  modelos de organização política e econômica dos povos e nações: Capitalismo x Socialismo. Este último de origem marxista, ou baseado em lideranças caudilhescas, “pais da pátria”, salvadores, bem característicos da América Latina.
A Revolução Russa de 1917, ocorrida em plena I Guerra, inauguraria novas formas de organização social e econômica.  Abolindo a propriedade privada dos meios de produção. Criando o Capitalismo de Estado, fundamentado na teoria marxista. Exercendo forte controle sobre a sociedade. Propondo, implicitamente, a  troca da liberdade pelo direito ao acesso à moradia, à educação, ao alimento e outros bens.
Talvez exercendo maior influência no comportamento humano do que as revoluções americana e francesa.
A criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas/URSS, priorizando a industrialização, adotando planos econômicos quinquenais ou decenais, rigorosamente executados, restringindo direitos políticos consagrados no continente europeu, como o voto  livre e direto, e a  liberdade de expressão, provocou enorme espanto e inquietação em todo o mundo. Estavam postas as condições para um conflito permanente entre duas propostas ou visões do mundo, desencadeando um conflito que utilizaria de todos os meios ao alcance dos contendores. Conhecida como Guerra Fria. Em que a propaganda exerceria forte influência. Expressões como “Mundo Livre”, “Cortina de Ferro” passariam a fazer parte do vocabulário diário de povos  e nações.

O “Reich de Mil Anos”, proposto pelo Nacional Socialismo alemão liderado por Adolf Hitler, teve  curta duração no tempo. Mas  deixou um legado de intolerância política, preconceito étnico e violência. E legitimou, na prática, a pena de morte para adversários políticos; a eliminação física de “inimigos do Regime”; a destruição impiedosa de povos e nações baseada em determinantes ideológicas esdrúxulas e irracionais. Enfim, a Guerra Suja. A “banalização do mal”, segundo Hanna Arendt.
O confronto decisivo da II Guerra teria sido travado, segundo alguns historiadores, entre dois  regimes totalitários, o alemão e o soviético.
4. Os acontecimentos verificados originalmente na Europa na primeira metade do século XX exerceram influência decisiva no pensamento  e na ação dos atores políticos brasileiros.   
Por outro lado, praticamente todos os eventos que mereceram registro histórico no Brasil, ao longo do século  passado, contaram com a presença  ativa de representantes militares. 
O período entre as duas grandes guerras desenha uma clara linha de tempo, na qual militares e civis propuseram intervenções no processo político, com a utilização da força e com quebra da ordem jurídica e constitucional.   
A partir dos primeiros anos da década de 1920, teve início o que ficou conhecido como “tenentismo”. (Para muitos estudiosos desse período, nele se originaria o “Movimento de 64”). 
De forma resumida, o que caracterizava, ideologicamente o  “tenentismo”?  1) -  uma forte rejeição ao status quo, representado por governos “carcomidos” – termo empregado amplamente à época – incompetentes em suas ações, corruptos em seus procedimentos com a coisa pública; 2) -  como decorrência, tornava-se necessário tomar o poder pela força, com o nobre objetivo de execução de um programa estratégico de modernização, onde estavam incluídos “atalhos” para o desenvolvimento econômico e social, o progresso, a ordem – lemas positivistas da nossa bandeira – 3) - tudo isso executado dentro dos mais rigorosos padrões de honestidade.
Com algumas variações, esta foi a base política e ideológica que orientou os movimentos “revolucionários”, que ocorreram sequencialmente, nas décadas de 1920/30:  1. em 1922, com os “18 do Forte”; 2. 1924, pela “Coluna Miguel Costa”, conhecida posteriormente como a “Coluna Prestes”;  3. a “Revolução de 30”, com a chegada de Getúlio Vargas, à frente dos gaúchos ao poder central, no qual teve êxito, ao se manter por 15 anos no exercício da presidência, a maior parte como ditador; 4. em 1932, a “Revolução Constitucionalista de São Paulo”, cujo objetivo recôndito era desalojar Getúlio Vargas do poder; 5. em 1935, a “Intentona Comunista” com o intuito de implantar o socialismo marxista no país; 6. em 1937, o governo Getúlio dá “o golpe dentro do golpe”, com  a decretação do Estado Novo, anulando a Constituição promulgada em 1934, iniciando um tenebroso período ditatorial;   7. em 1938, o malogrado “Golpe Integralista “dos  adeptos de Plínio Salgado.(fig. 1)

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