1964 - A
DEMOCRACIA ESPEROU 21 ANOS (1)
Geniberto Paiva Campos -
Brasília - Fevereiro / 2014
I) INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA
Há um pressuposto, adotado por atores políticos de diversas tendências, o qual enfatiza: os complexos problemas enfrentados
pela nação brasileira somente serão resolvidos, pela sua gravidade, se adotadas
soluções duras, remédios amargos. As
quais necessariamente implicam em trocá-las pela perda das liberdades
democráticas, pela supressão dos direitos constitucionais, pela interrupção do
processo civilizatório. Enfim, pela
instauração de um regime totalitário, mas, cheio de boas intenções, o qual
levará o
Brasil pelos atalhos do desenvolvimento
e para o progresso dentro da ordem,
conforme está explicitado em nossa bandeira. Esta ideologia, aparentemente
simples, às vezes perigosamente simplória, permeia, há quase um século, os
movimentos salvacionistas que impedem o
país de caminhar com tranquilidade pelas
trilhas da Legalidade e do respeito às normas inscritas na Constituição,
preservando os valores bem definidos nas
regras da Democracia, há séculos adotada e preservada intransigentemente pelos
povos civilizados. E desenvolvidos.
Nesta série de textos sobre o “Movimento de 1964”, na oportunidade em que se celebra o seu
cinquentenário, procuraremos demonstrar
a existência de uma lógica, um fio condutor, que liga os diversos
movimentos “revolucionários” das últimas décadas
do século passado, os quais semearam a ideologia do intervencionismo de
salvação da pátria, através da força e da quebra da ordem vigente e,
consequentemente, dos direitos de cidadania dos brasileiros.
Nunca perguntaram ao povo brasileiro, através de consultas,
plebiscitos ou referendos, se concordava ou dava seu apoio aos esquemas
intervencionistas. Geralmente uma categoria social, bem localizada no topo da pirâmide sociocultural, assume a
liderança do processo intervencionista, deixando de ouvir o principal
interessado. E , às vezes, a vítima de tal processo: o Povo, soberano do regime
democrático.
É chegada a hora do
“Movimento de 1964” ser submetido ao escrutínio da História. De ser avaliado com serenidade e isenção, os
eventuais avanços e retrocessos que promoveu na sociedade brasileira. O que o
país aprendeu nesse período, no qual foi submetido a um regime autoritário, de
exceção, fora dos cânones constitucionais. Nessa análise, deveria ser evitada,
por contraproducente, qualquer posição revanchista, de sentido meramente punitivo, passando-se
a perseguir os perseguidores daquela época ou demonizando
as Forças Armadas enquanto instituição essencial na defesa do território, da população e das riquezas do Brasil, como nação
livre e soberana. Um país com as características territoriais e geopolíticas do
Brasil, com 8 mil quilômetros de costa marítima e cerca de 10 mil de fronteiras
secas, cuja economia situa-se,
inquestionavelmente entre as dez maiores
do mundo. Um país de 200 milhões de
habitantes, inserido naturalmente no processo de globalização, um grande
mercado consumidor que não pode mais ser ignorado, pelo seu peso no contexto
mundial.
É com serena coragem e humildade que submetemos este
conteúdo ao crivo de alguns poucos brasileiros,
como o autor, preocupados com os destinos do seu país.
II) Origem e Formação do Pensamento “Revolucionário” no Brasil
1. Passados 50 anos do
“golpe militar” ou da “revolução redentora”
- a definição depende dos critérios de
quem avalia o Movimento de 1964 – talvez
esteja chegando o momento adequado de estudar, com a isenção possível, as
suas causas e consequências: políticas, sociais, econômicas, institucionais.
Enfim, o que de fato representou a tomada do poder pelas Forças Armadas do
Brasil e a consequente adoção de um modelo autoritário de gestão pública,
durante 21 anos. Tal avaliação é por demais importante para a história política
contemporânea do país. Dizem que se deve buscar o passado para orientar o
presente e o futuro. Não se trata, no
caso, de punir os que cometeram crimes ou, como dissemos, perseguir os
perseguidores. Mas colocar o Movimento de 64 em seu exato contexto histórico. E dar sequência, enfim, ao processo de
reconciliação nacional.
Meio século de distância dos acontecimentos, infelizmente, ainda não possibilita
que estes venham a se tornar História ou, pelo menos, matéria de Memória para que possam, finalmente, ser analisados
com a isenção que o tempo histórico permitiria. Parece que 1964 vai se tornando
“o passado que não passa”. Ou como
dizem alguns, ”uma história sem ponto final”.
É correto supor haver um acordo
tácito entre os eventuais protagonistas remanescentes que vivenciaram o episódio,
tanto do lado que apoiou o Movimento,
como dos que lhe opuseram resistência, no sentido que permaneça, para sempre,
obscuro, polêmico, incompreendido. Inserido, definitivamente, no rol dos
temas insolúveis. Uma espécie de assunto
proibido, semelhante aos que existem no âmbito
de tantas famílias e nações espalhadas pelo mundo.
Há que se reconhecer os esforços
de acadêmicos, historiadores, jornalistas e instituições como OAB, CNBB, ABI, Comissões de Anistia, entre outras, que
lutaram pelo volta ao estado democrático
de direito. Cujos documentos e testemunhos constituem importante acervo para a
compreensão e interpretação deste período. O livre acesso aos Arquivos Oficiais,
inclusive das Forças Armadas, constituiriam outra fontes de preciosas
informações sobre o período em estudo.
Os eventos históricos
relacionados a 1964 começam cerca de quatro décadas antes, quando o mundo
enfrentava períodos de grave turbulência, com a ocorrência de conflitos armados
generalizados, iniciados no continente
europeu, envolvendo povos e nações. Esses fatos bélicos que mudariam o mundo iriam, naturalmente,
repercutir na América Latina e no
Brasil.
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