CRÔNICA DE RINALDO BARROS(*)
Em favor da
vida
Contrapondo-se a um certo pessimismo crescente, ora em
curso no patropi, tento mostrar, nesta conversa, que existe uma enorme
expectativa em relação ao fato de que profissionais da área de educação em
ciências e tecnologia possam responder prontamente, de modo competente e
eficaz, às inúmeras e diversificadas demandas por métodos, materiais e projetos
pedagógicos inovadores. Uma baita esperança!
À importância política e econômica do assunto para o
desenvolvimento da sociedade soma-se, ainda, um aumento considerável de
interesse (cultural) pela ciência e tecnologia de ponta produzidas nos mais
distantes laboratórios dos tigres asiáticos, dos Estados Unidos, da União
Europeia e do Japão, todos reforçando, no imaginário coletivo, a idéia de que,
por meio de suas "aplicações" a C&T, mudará para sempre nossas
vidas, para melhor. Será?
Desafios para os cientistas, desafios para os
educadores, nós não poderíamos mais ignorar o quanto estamos impregnados por
essa imagem de uma ciência que triunfa sem cessar e que, por isso mesmo, já não
pode parar mais de produzir sentidos para a vida humana.
Se hoje tratamos de transgênicos e nanotecnologia nas
páginas de economia e política dos jornais, é porque estamos de tal forma
imersos em uma cultura científica e tecnológica que não distinguimos mais os
discursos pelo o quê, de fato, eles trazem de conteúdo concreto para
transformar nossas vidas.
Aos que se interrogam assim sobre a importância de
ensinar bem ciências e tecnologia, tanto quanto a leitura e a matemática, nós
diríamos que aí está o grande desafio do século XXI.
Afinal, não nos parece muito descabido mencionar, no
atual contexto econômico e político, o fato de que o papel da educação em
ciências e tecnologia, nas sociedades contemporâneas, transcende, de forma
muito clara, os objetivos tradicionais do ensino.
Ao introduzir o tema da educação em geral queríamos,
na verdade, fazê-lo para que se compreenda a irreversibilidade de dois
fenômenos atuais.
De um lado, não se pode mais, felizmente, por em
questão os princípios democráticos que regem nossa sociedade: igualdade de
condições, respeito à liberdade, pluralismo de idéias e concepções,
universalização do ensino fundamental e médio, valorização da escola e do
professor, gestão democrática, garantia de qualidade e vinculação da escola ao
mundo do trabalho e da vida social.
De outro, a ciência e tecnologia como um binômio
indissociável e, ao mesmo tempo, como práticas enraizadas culturalmente em
nossa sociedade. Já não basta fazermos as antigas distinções entre ciência
pura, básica e aplicada. A ciência integra naturalmente o dia a dia.
Trata-se, enfim, de assumirmos um papel diferente em
relação ao conhecimento e à formação do educando. Formar pessoas, produzir bens
e serviços, criar empregos são objetivos que estão muito além de um discurso economicista,
sindical, pouco sensível aos apelos humanistas em relação à educação como
formação de valores e comportamentos.
Por fim, queremos ressaltar que a educação em ciências
e tecnologia do nosso povo não se fará sem a participação, lado a lado, de
cientistas e educadores. Todas as reflexões e estratégias para alcançar tal
objetivo devem ser encaradas como uma tarefa coletiva.
Que se formem núcleos da educação em ciências e
tecnologia capazes de pensar saídas para os muitos impasses vividos, em nossos
dias, pela educação. Que sejam instalados laboratórios didáticos em escolas,
associações, clubes, museus.
Que se construam parques tecnológicos, centros de
ciência e arte, na capital e no interior, no centro e na periferia!
Certamente os dilemas que dividem hoje nossos
cientistas e educadores não desaparecerão, mas, acreditamos que o fim da
ideologia utilitarista em educação está próximo.
Resumo da ópera: é fundamental ter claro que difundir
a ciência é algo que somente se pode fazer com um sentido claro em favor da
vida. E esse é um posicionamento político.
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