quarta-feira, 9 de abril de 2014

CRÔNICA DE RINALDO BARROS(*)


Em favor da vida


Contrapondo-se a um certo pessimismo crescente, ora em curso no patropi, tento mostrar, nesta conversa, que existe uma enorme expectativa em relação ao fato de que profissionais da área de educação em ciências e tecnologia possam responder prontamente, de modo competente e eficaz, às inúmeras e diversificadas demandas por métodos, materiais e projetos pedagógicos inovadores. Uma baita esperança!
À importância política e econômica do assunto para o desenvolvimento da sociedade soma-se, ainda, um aumento considerável de interesse (cultural) pela ciência e tecnologia de ponta produzidas nos mais distantes laboratórios dos tigres asiáticos, dos Estados Unidos, da União Europeia e do Japão, todos reforçando, no imaginário coletivo, a idéia de que, por meio de suas "aplicações" a C&T, mudará para sempre nossas vidas, para melhor. Será?
Desafios para os cientistas, desafios para os educadores, nós não poderíamos mais ignorar o quanto estamos impregnados por essa imagem de uma ciência que triunfa sem cessar e que, por isso mesmo, já não pode parar mais de produzir sentidos para a vida humana.
Se hoje tratamos de transgênicos e nanotecnologia nas páginas de economia e política dos jornais, é porque estamos de tal forma imersos em uma cultura científica e tecnológica que não distinguimos mais os discursos pelo o quê, de fato, eles trazem de conteúdo concreto para transformar nossas vidas.
Aos que se interrogam assim sobre a importância de ensinar bem ciências e tecnologia, tanto quanto a leitura e a matemática, nós diríamos que aí está o grande desafio do século XXI.
Afinal, não nos parece muito descabido mencionar, no atual contexto econômico e político, o fato de que o papel da educação em ciências e tecnologia, nas sociedades contemporâneas, transcende, de forma muito clara, os objetivos tradicionais do ensino.
Ao introduzir o tema da educação em geral queríamos, na verdade, fazê-lo para que se compreenda a irreversibilidade de dois fenômenos atuais.
De um lado, não se pode mais, felizmente, por em questão os princípios democráticos que regem nossa sociedade: igualdade de condições, respeito à liberdade, pluralismo de idéias e concepções, universalização do ensino fundamental e médio, valorização da escola e do professor, gestão democrática, garantia de qualidade e vinculação da escola ao mundo do trabalho e da vida social.
De outro, a ciência e tecnologia como um binômio indissociável e, ao mesmo tempo, como práticas enraizadas culturalmente em nossa sociedade. Já não basta fazermos as antigas distinções entre ciência pura, básica e aplicada. A ciência integra naturalmente o dia a dia.
Trata-se, enfim, de assumirmos um papel diferente em relação ao conhecimento e à formação do educando. Formar pessoas, produzir bens e serviços, criar empregos são objetivos que estão muito além de um discurso economicista, sindical, pouco sensível aos apelos humanistas em relação à educação como formação de valores e comportamentos.
Por fim, queremos ressaltar que a educação em ciências e tecnologia do nosso povo não se fará sem a participação, lado a lado, de cientistas e educadores. Todas as reflexões e estratégias para alcançar tal objetivo devem ser encaradas como uma tarefa coletiva.
Que se formem núcleos da educação em ciências e tecnologia capazes de pensar saídas para os muitos impasses vividos, em nossos dias, pela educação. Que sejam instalados laboratórios didáticos em escolas, associações, clubes, museus.
Que se construam parques tecnológicos, centros de ciência e arte, na capital e no interior, no centro e na periferia!
Certamente os dilemas que dividem hoje nossos cientistas e educadores não desaparecerão, mas, acreditamos que o fim da ideologia utilitarista em educação está próximo.
Resumo da ópera: é fundamental ter claro que difundir a ciência é algo que somente se pode fazer com um sentido claro em favor da vida. E esse é um posicionamento político.

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

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