domingo, 15 de dezembro de 2013


Verdades cruzadas - V
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, Professor aposentado do Curso de Direito da UFRN e Presidente da Comissão da Verdade. Sócio do IHGRN.
A vida política e administrativa no Estado do Rio Grande do Norte vivia a monotonia do “mesmismo” – nada de novo nas práticas políticas; nenhum surgimento de político inovador; nenhuma prática administrativa marcante.
No campo da cultura vivíamos ainda dos movimentos do século anterior e o clima universitário ainda não brotara na terra potiguar, senão nos encontros dos acadêmicos quando vinham de férias. Experiências isoladas, já no pós-guerra, contudo, foram os passos iniciais de um novo momento que somente viveríamos no correr dos anos 50.
A luta do velho contra o novo que não era novo – disputas entre Dinarte Mariz e Aluízio Alves pela liderança política do Rio Grande do Norte.Carlos H.P.Cunha e Walclei de A.Azevedo – Podres Poderes-política e repressão. Natal: Infinita imagem, 2013.
Experiências isoladas no RN: Escola de Pharmácia e Odontologia de Natal, 1920 – depois Faculdade de Farmácia e Odontologia, 1947; Outras escolas – clima universitário com os estudantes potiguares em férias de outras faculdades fora do Estado. Escola de Serviço Social, 1945; Universidade Popular, 1948; Faculdade de Direito, 1949; Faculdade de Medicina e Faculdade de Filosofia, 1955; Escola de Engenharia e Facudade de Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais, 1957; Criada a Universidade do Rio Grande do Norte, 1958, transformada em UFRN, 1960 pela Lei nº 3.849, de 18/12/1960.Veríssimo de Melo e Carmen Lúcia de Araújo Calado (Síntese cronológica da UFRN – 1958-2010. Natal: EDUFRN, 2011).
No Rio Grande do Norte a vida corria num diapasão de estado conservador, apesar de circunstancial alteração ao tempo da “Intentona comunista de novembro de 1935”, retornando em seguida ao acomodamento de um cosmopolitismo em contraste com os vizinhos, que defendiam um padrão municipalista, de “bairrismo” e preservação de suas mais recônditas tradições.
Aqui surgiu um clima universitário emprestado, a partir dos encontros dos nossos jovens em período de férias dos cursos frequentados em Recife, Maceió, Salvador e Rio de Janeiro, principalmente, oportunidade em que trocavam informações e vaticinavam pela criação de cursos superiores em nosso estado.
Experiências isoladas – Escola de Pharmacia e Odontologia de Natal nos idos de 1923 e após a 2ª Guerra Mundial com o Instituto Filosófico São João Bosco (1941); Escola de Serviço Social (1945); Faculdade de Farmácia e Odontologia (1947); Faculdade de Direito (1949); Faculdade de Medicina (1955); Faculdade de Filosofia (1955); Faculdade de Engenharia (1957); entre outras.[1][1]
Segundo registra o Professor Paulo de Tarso Correia de Melo[2][2] foram precursores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Dinarte de Medeiros Mariz, Onofre Lopes da Silva, Luís da Câmara Cascudo, Januário Cicco ao que acrescentamos Luiz Soares de Araújo.
A 8 de março de 1958, durante a passagem do Diretor do Ministério da Educação e Cultura Jurandyr Lodi, José Teixeira – chefe de Seção do MEC que o acompanhava, sugere a Onofre Lopes, então Diretor da Faculdade de Medicina, a criação de uma universidade para o Estado. Deste para o Governador Dinarte Mariz que remete mensagem à Assembleia Legislativa em 3 de junho que no dia 25 do mesmo mês e ano aprova a Lei nº 2.307, sancionada no Palácio Potengi.
Estava criada a Universidade do Rio Grande do Norte composta das Faculdades já mantidas pelo Estado e as agregadas mantidas por entidades de caráter privado, tendo como primeiro Reitor o Professor Onofre Lopes e Vice-Reitor o Professor Otto de Brito Guerra. Instalação solene em 21 de março de 1959 no Teatro Alberto Maranhão com memorável discurso proferido pelo Professor Câmara Cascudo.[3][3]
Daí por diante foi a luta sem fronteiras para a federalização afinal obtida através da Lei nº 3.849, de 18 de dezembro de 1960, sancionada pelo Presidente Juscelino Kubitschek (DOU de 21.12.60).
Já existia, então, o clima universitário próprio, com o engajamento de jovens sonhadores e promissores que fizeram a história da UFRN.
A literatura histórica registra acontecimentos que marcam “sinais dos tempos”, assim explicitados nas percepções do Papa João XXIII, motivados pelo grande aumento demográfico, da reordenação da economia mundial, com reflexos, também, na América Latina, face à ascensão da burguesia industrial e suas alianças com as camadas médias urbanas.[4][4]


[1][1] SOUZA, Itamar de. Universidade para quê? Para quem? Natal: Clima, 1984 (apud Portal da Memória – UFRN, 2005). P. 19.
[2][2] Portal da Memória – UFRN, 2005, p. 35-43.
[3][3] Carlos Newton Júnior. Portal da Memória – UFRN, 2005, p. 17-31.
[4][4] “havia dificuldade de se formular uma resposta aos anseios participativos dos estudantes católicos na vida política. E foi o padre Almery quem formulou a teoria do Ideal Histórico, apresentada no Encontro da JUC em 1959...”MARIA CONCEIÇÃO PINTO DE GÓES, A aposta de Luiz Ignácio Maranhão Filho, p.129. Depois desse Encontro da JUC em 1959, tudo ficou claro. Não se abriria mão do Evangelho nem da História.

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