terça-feira, 26 de fevereiro de 2013



LEMBRANDO O BAR, CAFÉ E LANCHONETE 

DIA E NOITE

Jahyr Navarro, médico e escritor  

Somos apenas a sombra das nossas 
lembranças.


Ao longo dos anos, Natal ficou conhecida 
por ter pontos tido comerciais como 
bares, cafés e lanchonetes, cujo atrativo 
não justificavam a freguesia cativa que 
possuía. Eram locais de extrema 
simplicidade, mas que prendiam seus 
fregueses pelo bom atendimento, um 
cardápio simplificado que atendia ao 
paladar de todos, além de 
oferecer um ambiente descontraído 
onde quase todo mundo se conhecia.

Procurando conhecer a origem desse 
comércio – dia e noite mais 
promissor - , encontrei nos alfarrábios, 
textos que lembram a nossa cidade  
numa data mito recuada, quando 
verifica-se que tudo teve seu início 
com o surgimento de um bar que 
foi pioneiro nesse setor. Este 
foi inaugurado na travessa Aureliano,
na Ribeira, com o nome de bar “Chile”, 
que serviu de modelo aos demais 
seguidores.
     

                                      Bairro da Ribeira - Natal RN    

   Logo depois, sequenciado pelo 
modismo que já existia à época, 
surgiu o bar “Antártica”, ainda na 
Ribeira que depois de muito 
sucesso cedeu seu espaço físico ao 
“Cova da Onça”, que já chegou aos 
nossos dias num estado agonizante.
            Descobri ainda, que na Cidade 
Alta, precisamente que na Rua Ulisses 
Caldas, foi inaugurado o bar 
“Potiguarânia”, seguindo a 
mesma trilha de seus antecessores, 
fazendo algumas inovações que 
caíram no gosto de seus frequentadores. 
Perdurou alguns anos, até ser 
absorvido com toda sua estrutura 
pelo “Magestic”, que deu continuidade 
ao mesmo estilo.

                        Confeitaria Cisne - Rua João Pessoa - Natal RN
                                
Na Rua João Pessoa, - no Grande Ponto 
do meu tempo – tivemos o café “Maia” 
de Rossini Azevedo. O “Vesúvio” de 
Maiorana, o “Botijinha” de Jardelino 
Lucena, o bar e confeitaria “Cisne” de
 Múcio Miranda e o “Dia e Noite” de 
Nilton Armando de Souza. Este, com
larga vivência no ramo – ex-garçom-, 
mas, sabia como ninguém, lidar com 
sua freguesia usando a devida  leveza, 
o prazer de servir e a dignidade 
profissional que ostentava.


Esse bar, próximo aos outros na 
Rua João Pessoa, ficava quase em 
frente à Caixa Econômica Federal, 
com seu espaço físico sendo 
ocupado hoje por uma loja que 
vende óculos e outras bugigangas 
de somenos importância. Abrigava 
uma pequena área delimitada por 
duas fileiras de mesas dispostas 
paralelamente, e no meio, um corredor 
por onde transitava o garçom e os 
convidados de ocasião. Lá no fundo, 
um balcão e  por trás dele, a figura 
sempre presente de seu proprietário 
que se atinha a tudo o que se passava 
no recinto. No final,  existia uma  
parede divisória e à sua direita, 
uma pequena abertura de forma 
semicircular que servia de comunicação 
com a cozinha e por onde eram 
enviados os  pedidos e comandas. 
No cardápio constavam os 
mesmos itens desde sua 
inauguração e quando ocorria 
alguma alteração, era quase 
sempre na ordem inversa de seus itens.

Entretanto, o seu ponto alto era o 
garçom, vítima de todo tipo de 
gozação. Muito estimado por todos, 
atendia pelo apelido de “Gazolina” 
e possuía o dom da tolerância, sem 
nunca ter revidado as irreverências 
recebidas. Nunca perdia a fleuma, 
nem mesmo, quando os pedidos 
estava inserido o duplo sentido, 
tais como: -  “Gazolina, suspenda os 
ovos e passe a língua...” E assim por diante.
                                      Rua João Pessoa - Natal RN

Esse bar, que nunca fechava, razão 
do nome – era também palco 
de muita confusão, principalmente 
nas madrugadas dos fins e semana, 
quando as rixas iniciadas nos 
clubes sociais, terminavam quase 
sempre no seu âmbito, ou 
nas circunvizinhanças. Os motivos?
 – Os mesmos de sempre: o ciúme, 
a política, a polícia e o esporte. 
Havia ainda uma particularidade pouco 
observada, que era a ausência do 
sexo feminino no seu interior. 
Quando muito, elas eram atendidas 
em seus automóveis que ficavam 
nas imediações do bar.

Ainda lembro de muitos que 
frequentavam esse bar com certa 
assiduidade. Todos foram bem 
sucedidos nas  escolhas profissionais 
que fizeram e houve quem atingisse 
o topo na política, outros, nas 
empresas e os demais nas profissões 
que abraçaram. Citarei o nome de  
alguns para poupar os poucos 
leitores desse incômodo: Artuzinho, 
Hélio Santa Rosa, Sidney e Ronald 
Gurgel, Haroldo e Franklin Bezerra, 
Marcos e Marciano Oliveira, Oscar e 
Osmar Medeiros, José e Ivo Barreto, 
Diógenes da Cunha Lima, Syllos 
Carvalho, Fernando Bezerra, 
Roberto Furtado, Lenilson 
Carvalho, Mário Sá Leitão, 
Waldemar Mattoso, Bentinho, 
Murilo Concentino, Aldanir Araújo e 
Abreu Junior.

Não darei ênfase – como fazia antes -, 
ao velho adágio que diz: “aqui tudo 
já teve”. Realmente, tivemos o 
“Dia e Noite”, que sem a mínima 
pretensão, marcou sua presença na 
história da nossa cidade, quando 
cativou pela plêiade de frequentadores 
que deu a ele o prestígio que necessitava.
Lembrar o “Dia e Noite” é massagear 
o ego de muitos que ainda guardam 
em seus corações as lembranças 
desse tempo. Somos apenas a 
sombra das nossas lembranças.    

Jahyr Navarro – médico e escritor

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