POVO, CIÊNCIA E PODER
Por Rinaldo Barros
Começo a conversa de hoje com algumas perguntas fundamentais, e muito pouco presentes na mente da maioria. De onde viemos? Para onde iremos, após a morte? A vida é apenas um fenômeno físico, ou existe também um mundo puramente espiritual? Para que estamos aqui, neste planeta? A vida humana tem alguma finalidade definida, frente à complexidade do Universo? Ou não?
As respostas variam conforme a ideologia e a crença de cada grupo social ou até conforme a fase da formação de cada pessoa, já que somos mutantes.
O acentuado progresso da Ciência e Tecnologia, acelerado neste século, gerou condições para a melhoria da qualidade de vida das sociedades. Estes benefícios, contudo, ainda não alcançaram grande parte da população do mundo. Saúde, instrução, habitação, alimentos, água e energia, e muitos outros aspectos relacionados à construção da cidadania, ainda são negados a uma parcela significativa da população mundial.
Para que isso ocorra, as barreiras que dificultam o aproveitamento das oportunidades de uso da Ciência e Tecnologia para a solução dos problemas que afetam essa parcela subalterna (ou dominada) necessitam ser debatidas e enfrentadas com clareza e visão holística, envolvendo todos os agentes da sociedade civil organizada, e não somente com aqueles pertencentes às comunidades científicas e governamentais.
Ao mesmo tempo em que a Ciência e Tecnologia avançam, a importância dos aspectos ambientais, de segurança e éticos aumenta: aplicações possíveis de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) podem ameaçar o futuro da humanidade.
É necessário que se exercitem visões de futuro, de forma a colocar o desenvolvimento científico e tecnológico na direção da visão de futuro desejada como evolução do “Homo Sapiens sapiens” e, também, sob algum tipo de controle ou acompanhamento.
Esse desafio passa necessariamente pela consolidação de canais de diálogo e reflexão sobre o futuro das atividades de CT&I com os mais diversos setores da sociedade.
Entre os principais problemas que vêm pressionando as sociedades modernas destacam-se: 1) os avanços do desenvolvimento econômico e o aquecimento global; 2) questões relacionadas à segurança e ao terrorismo; 3) água e energia limpa e o controle de doenças infectocontagiosas; 4) as nanotecnologias, a biotecnologia e os organismos geneticamente modificados; 5) a clonagem humana e os problemas de bioética relacionados.
Esforços internacionais no sentido de buscar soluções para essas questões são cada vez mais requeridos, pois se torna imperativo aproveitar as oportunidades sem, entretanto, esquecer que os riscos devem ser controlados.
Por conta do aumento da complexidade dos problemas que a humanidade enfrenta atualmente, dos imperativos da globalização e do crescimento da competitividade entre os conglomerados econômicos nos mercados internacionais. Os riscos que se apresentam encontram-se, muitas vezes, além do controle dos Estados nacionais. Perigosamente, o poder real está nas mãos dos conglomerados econômicos internacionais.
Tais questões também estão fora do controle das comunidades científicas e tecnológicas, porque muitos dos problemas a serem enfrentados envolvem a construção de consensos, baseados numa postura ética responsável e no princípio da prudência ecológica, que permitam a elaboração de um conjunto de normas legais, visando instituir a regulação internacional sobre as questões já citadas.
As políticas públicas brasileiras enfrentam o desafio de incentivar a participação dos cidadãos, em questões que envolvem ciência, tecnologia e sociedade. As decisões deveram ampliar-se até iniciativas que contemplem o direito à informação e à participação da sociedade como um requisito fundamental para o exercício da democracia.
Espera-se com isso gerar e difundir conhecimentos que possam resultar em novo momento para essas atividades no Brasil, refletindo uma tendência internacional que tem demonstrado a importância crescente da participação da sociedade no conjunto das decisões sobre o futuro, no contexto da produção do conhecimento.
Com a esperança de que seja um instrumento estratégico capaz de responder a perguntas fundamentais para a vida neste Planeta.
.Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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