Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor
O cronista esportivo Everaldo Lopes, nem sempre bem informado, continua insistindo em equívocos, sem providenciar a devida retificação.
Ao tempo em que escreveu o seu livro “Da bola de pito ao apito Final”, o ilustre jornalista omitiu um fato incontestável na história do América Futebol Clube, qual seja, o de que o terreno onde hoje possui a sua sede, foi adquirido ao Governo do Estado do Rio Grande do Norte pela quantia de nove contos de réis, conforme autorização feita pelo Ofício 368, datado de 21 de maio de 1929, expedido pelo Palácio da Presidência, tendo sido objeto de escritura pública lavrada no livro 134, fls. 36 a 38, em 02 de junho daquele ano, no Cartório de Notas do tabelião Miguel Leandro, hoje pertencente ao acervo do 1º Ofício de Notas desta Capital, com a escritura assinada, em nome do América, pelo Tenente Júlio Perouse Pontes, Vice-Presidente, em exercício, e pelo Governo do Estado o Procurador Fiscal do Departamento da Fazenda e do Tesouro Doutor Bellarmino Lemos, objeto da Carta de Aforamento nº 429, da Municipalidade de Natal, medindo uma área de 15.100 m2.
A compra ocorreu por iniciativa do Dr. José Gomes da Costa (Presidente nos anos de 1929 e em 1939), com recursos obtidos de uma cotização entre ele próprio, Orestes Silva, Júlio Perouse Pontes e Omar Lopes Cardoso, os quais rasgaram as promissórias que ensejariam o reembolso, no tempo, o que significou que houve doação.
Desses, apenas Orestes Silva não destruiu aquele título de crédito, mas também não efetuou qualquer cobrança. Com sua morte, alguém da família ao encontrar o documento, andou dando entrevista reclamando o não pagamento da dívida (por sinal, já prescrita). O jornalista insistiu que o terreno foi doação isolada de Orestes Silva, o que não representa a verdade. Aliás, o América, posteriormente, homenageou os seus benfeitores com título de “beneméritos” e colocou os nomes de José Gomes da Costa e Orestes Silva a duas quadras de tênis que havia na sede velha da Rua Maxaranguape, onde hoje está construído um prédio.
Em outro momento, gravando filme sobre o Machadão para programa da TV Assembleia, o vetusto jornalista proclama, com pose de historiador, que o Arquiteto Moacyr Gomes da Costa (filho do Dr. José Gomes da Costa), teria copiado o projeto quando foi à Alemanha.
Amigo, Moacyr concebeu o projeto de um estádio quando terminou o seu curso de arquitetura no Rio de Janeiro, em 1954, sob a supervisão do Professor Pedro Paulo Bernardes Bastos, um dos quatro arquitestos responsáveis pela obra do Maracanã e que foi o seu orientador, dando-lhe a nota máxima e solicitando que Moacyr explicasse aos seus colegas a razão de sua concepção da forma de menor marquise por trás das traves, tendo como resposta o fato de que assim agiu como torcedor e sabia que nesses locais ficam os retardatários, com visão precária. Ademais disso, o Dr. Moacyr jamais, em tempo algum, saiu do Brasil.
Quando foi convidado para projetar o Estádio de Lagoa Nova, aproveitou o seu estudo e o aperfeiçoou de maneira a dar conformação do projeto com o local de sua construção, isto é, adaptando-o à visão das dunas do Tirol para não agredir a paisagem. Portanto, outro lamentável “chute”.
Agora, em sua coluna “Apito Final”, confessa que a maquete do Arena das Dunas o entusiasma, dando conta da sua beleza, ao mesmo tempo em que tece comentários pouco lisonjeiros ao demolido Machadão, quanto aos “geraldinos”, que tinham péssima visão do gramado (o que era ponto comum dos estádios da época), mas que com o tempo foi tendo alterações dentro da modernidade.
A questão das latinhas jogadas existiu e existe ainda, em todo o mundo e haverá no futuro, pois é questão de educação doméstica, que nenhum gênio poderá evitar arquitetonicamente, senão através do policiamento.
Diz, ainda, que no Arena das Dunas, ninguém fica sentado em cimento duro e seu veículo terá lugar seguro. Ora, os estádios antigos também mantinham assento em cimento e só com o tempo foi conquistando adaptações, providência facílima de solução.
Já em relação ao estacionamento, não é questão do estádio Arena das Dunas, mas de efetiva ocupação de todo o espaço do complexo esportivo, que já existia no tempo do Machadão, mas o governo cedeu para outros fins.
Enfim, nada que o Machadão não pudesse ser adaptado, como, aliás, foi proposto, apresentado e aprovado pelos homens da Fifa, mas que a especulação e o interesse financeiro de algumas pessoas procuraram evitar, com o aplauso de uns poucos jornalistas que acreditaram nas promessas do legado da Copa.
Agora a minha visão, ao reverso do que afirma o cronista esportivo - o que é possível notar é uma maquete apresentando um corpo estranho, parecendo até ter vindo de um outro planeta, que certamente será uma agressão à paisagem daquele local, que um dia teve um poema de concreto. De qualquer forma, com a existência do Frasqueirão e a construção da Arena do Dragão, o novo estádio perderá a sua finalidade e o povo não ficará com legado nenhum.
Ó tempora! Ó mores!
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