"DOSSIÊ MEGAEVENTOS" - (XXXI) - Dra. Lúcia Capanema
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MORADORES DAS ÁREAS OCUPADAS TEMEM O
QUE ACONTECERÁ DEPOIS DOS MEGAEVENTOS.
Fala de um morador da Rocinha que preferiu não se identifi car: “É claro que eu tenho medo que o tráfi co volte para a Rocinha. Moro aqui há 28 anos e não tenho qualquer motivo para confi ar no poder público. Só vamos ter a certeza de que essas UPPs são realmente uma solução para acabar com o tráfico depois da Copa e das Olimpíadas”. A mesma dúvida esteve presente durante a inauguração da UPP da Mangueira, quando moradores expressaram o receio que essa fosse apenas uma solução temporária até o fi nal da Copa e Olimpíadas.
É importante ainda problematizar o próprio funcionamento atual das UPPs. Não apenas os riscos da sua descontinuidade, mas aquilo de danoso que já vêm concretamente produzindo nas comunidades ocupadas, especialmente considerando-se as declarações de autoridades públicas (Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame94, e ex-Ministro de Justiça, Luiz Paulo Barreto95) quanto à possível exportação do modelo para outros Estados. Em dezembro de 2011, o Secretário de Segurança da Bahia anunciou a instalação de uma Base Comunitária de Segurança, versão baiana das UPPs, em Porto Seguro.96
Para Malaguti97, a principal denúncia contra as UPPs é seu caráter seletivo e seu objetivo oculto de “ocupação militar e verticalizada das áreas de pobreza que se localizam em regiões estratégicas aos eventos desportivos do capitalismo vídeo-financeiro”. O elo com os megaeventos não é apenas uma construção discursiva, mas é sentida pelos próprios moradores: Cleonice Dias, líder comunitária da Cidade de Deus, localidade “pacificada” pela instalação de uma UPP, reclama: “Nós que somos da comunidade, sabemos que a UPP está ligada a uma satisfação pública para o Rio de Janeiro e o Brasil de que o Estado tem o controle das comunidades. Querem dizer que haverá segurança porque nós, pobres, estaremos controlados e que podem vir todos os investimentos para os megaeventos.”98
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OS MUROS DAS FAVELAS CARIOCAS
Embora nem sempre associada à política de segurança, a construção de muros ao redor das favelas cariocas é outro triste exemplo da forma como o Poder Público vem tratando os moradores dessas localidades e como os megaeventos servem para potencializar tais práticas.
A Favela da Maré, localizada no trajeto entre o Aeroporto Internacional e a Zona Sul - região nobre da cidade -, foi recentemente cercada por um muro que o governo afi rma ter fi nalidade de isolamento acústico. Segundo levantamento feito pelo Observatório de Favelas, pela ActionAid e pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Favelas e Espaços Populares, 73% dos moradores do bairro acreditam que o muro foi construído apenas para esconder a favela. Moradores afi rmam também que o muro faria parte do processo de maquiagem do espaço urbano em virtude da realização da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016.
Fonte: http://www.redesdamare.org.br/noticias/pesquisa-revela-que-moradores-da-mare-acham--que-muro-foi-construido-para-%E2%80%9Cesconder-favela%E2%80%9D/
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