terça-feira, 15 de janeiro de 2019

CARTAS DE COTOVELO 6 - 2019



CARTAS DE COTOVELO (VERÃO DE 2018/2019)
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes (nº 06)

        Um trivial passeio matinal nas areias límpidas de Cotovelo, cercanias das falésias do Barramares, em passos mansos com a minha Therezinha, dei-me a contar-lhe algo da história daquele local.
Precisamente nas águas do pontal onde agora se instala o Condomínio Porto Brasil, na grande enseada que ali começa e vai até a barreira do inferno, em 1633 aportaram algumas naus de holandeses, já invasores das terras recifenses, para alargarem sua audácia na direção de Natal, haja vista o malogro de uma tentativa anterior em outubro de 1631, com uma grande expedição, que terminou face à reação eficaz do capitão mor Cipriano Pita Porto Carreiro.
Desta feita, com quatro navios e outras pequenas embarcações, partiram do Recife em 5 de dezembro e dois dias depois fundearam os veleiros na costa de Cotovelo, depois levantaram âncoras, contornando o pontal desta bacia e novamente, com grande cautela, aportaram na praia de Ponta Negra, no rumo da Fortaleza dos Três Reis Magos, poucos quilômetros dali em 8 de dezembro de 1633, sob o comando do Amirante Jean Cornelisseb Liichthord e mais 808 homens. Entre eles, registram-se as presenças do tenente-coronel Baltasar Bima, comandante das operações militares e o conselheiro Carpentier e Matais ou Matthijs van Ceulen, um dos diretores da Companhia das Índias Ocidentais, que emprestou o seu patronímico para a mudança do nome da Fortaleza como “Castelo de Keulen” ou Ceulen, (Kasteel Keulen). 

A tomada não foi pacífica, haja vista que “diante da recusa do Comandante do Forte, Pero Mendes Gouveia, em ceder ao pedido dos holandeses, que queriam tomar o Forte, o combate se inicia em 8 de dezembro. No dia 10, o comandante do Forte é gravemente ferido. No dia 12, surge uma bandeira branca sobre as muralhas da Fortaleza, pedindo paz, a luta era de total incompatibilidade, 808 flamengos contra 85 portugueses. Ao ver a bandeira branca, o tenente-coronel Baltasar envia uma mensagem ao comandante do Forte, pedindo que ele se rendesse imediatamente; este, no entanto, negou-se e afirmou não ter sido dele a ideia de pedir paz.
Dentro do Forte havia pessoas estranhas e estes haviam colocado a bandeira pedindo a paz, entre as pessoas estavam um foragido, um condenado à morte e outro que havia vindo na expedição. O coronel Baltasar recebe uma carta de rendição e a recusa por não ter a assinatura do comandante, mas o Sargento Sebastião Pinheiro Coelho, que era o foragido que estava refugiado no Forte, afirma ter assumido o comando, uma vez que Pero Mendes encontrava-se enfermo e incapaz de tomar alguma decisão.
As negociações são feitas, os holandeses atendem a algumas reivindicações dos derrotados e, no forte, é hasteada a bandeira dos flamengos, substituindo a bandeira portuguesa. Após tomarem o Forte, os holandeses se mostraram solidários com os derrotados, prestaram socorro ao comandante Pero Mendes e o enviaram para Recife. Há historiadores que consideram a tomada do Forte como sendo possibilitada por uma traição, visto as negociações terem sido feitas com um preso e outro condenado à morte. Outros consideram realmente rendição.”

A Fortaleza teve a construção iniciada em 06 de janeiro de 1598 – Dia dos Santos Reis, que lhe deram o nome. Depois reconstruída, com formato em cinco pontas. Os invasores chegaram ao seu objetivo em 12 de dezembro de 1633, dando início de um domínio que durou até 1654, quando foram expulsos.
Durante o domínio holandês o nosso Estado foi governado por três capitães: Joris Garstman foi o primeiro holandês a comandá-la (diz-se que foi genro de João Lostão Navarro? dono da casa de pedra de Pium). Depois Johans Blaenbeeck, Jan Denniger e um major: Bayert, todos eles flamengos.
O Conde Maurício de Nassau (1604-1679) mandou repará-la (1638). Esse nosso marco histórico tem sido vítima do descaso oficial, mas agora existe uma determinação de restaurá-lo. Que assim seja!

(Cotovelo/Natal, 15 de janeiro).




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