CARTAS
DE COTOVELO (VERÃO DE 2018/2019)
Por:
Carlos Roberto de Miranda Gomes (nº 05)
Após um domingo movimentado, onde saboreei um atum branco, preparado no velho
bar Cotovelo, de Dona Helena de saudosa memória, complementado por uma maxixada
feita por Cleide, deletei-me o resto do dia com as minhas leituras. No momento “Nove
Papas contra a destruição do mundo”, de Betho Ieesus e o permanente passeio
pela internet, através do qual recebi e-mail do meu velho amigo Geniberto
Campos, contemporâneo da vida universitária nos anos 60, que me enviou um
artigo interessante: “Por que o educador Paulo Freire tanto incomoda a elite
brasileira“, com a recomendação de fazê-lo chegar a Ivan Maciel, o que já fiz.
O sono não me acalentou a noite, pois
não foi bom o efeito de um almoço exagerado. Madruguei sob o cair de chuva. Em
meio a um veraneio ela nem sempre é bem vinda. Mas se tratando de nordeste, o
adágio perde a razão. Foi recebida com respeito e agradecimento ao Criador.
Logo voltou o Sol, escondido intercaladamente entre nuvens carregadas. O que
fazer? Uma rede resolve tudo, pois abriga o corpo como um ventre materno.
A leitura é uma “doença” e não demoro
muito no ócio praiano, volto às leituras e ao computador. Veja o que recebi
agora, quentinha: uma poesia atribuída a Carlos Jales. Gostei tanto que vou
aqui reproduzi-la:
Por que calaram a voz do menino?
Por que calaram a voz do menino que dorme na memória?
Por que o impediram de ouvir pássaros em profusão e o
proibiram
de pegar o sol descendo as ladeiras?
Há vozes que não escuta mais,
corredores que se fecham ao romper da aurora,
bois que se perderam de seus antigos currais.
O menino não as ouve, nem os vê.
Por que plantam a dor no coração do menino e
arrancam do seu peito o canto do mar e suas ilhas?
Por que o menino olha para o céu e as estrelas não
respondem?
Perderam suas rotas?
Mágicos as transformaram em trevas?
Anotem:
O menino vencerá a morte?
Ou vivo, desfraldará a bandeira de todos os absurdos?
Suas estrofes conduzem à meditação do
viver e da vivência, situação mais adequada nas calmarias de um veraneio – esse
lúdico período de refazimento das canseiras do corpo e do espírito.
Eu, menino, continuo percorrendo, na
memória, outros tantos veraneios de um tempo que passou, mas deixou o passado
que ficou, como disse Tristão de Athayde: O
passado não é aquilo que passa, mas o que fica do que passou”.
(Cotovelo/Natal, 14 de janeiro).
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