A
“QUARTELADA” DO CONGRESSO NACIONAL
Geniberto Paiva Campos
Brasília, DF/ Julho 2015
Geniberto Paiva Campos
Brasília, DF/ Julho 2015
1.
Na América Latina de meados do século 20, o
termo “quartelada” assumiu o significado de movimentos mal-sucedidos e
atabalhoados de tomada do Poder Constituído. Com a participação de organizações
civis ou militares, sob os mais variados pretextos. O termo adquiriu, como
esperado, conotações pejorativas. Mas as quarteladas trouxeram enorme
contribuição à instabilidade política da região. E a insistente repetição do
método viria a marcar a América Latina como uma região de permanente atraso,
truculência e violência política desmedidas e muito, muito distante da
Civilização.
No
Brasil, a história política contemporânea foi sempre pontuada por movimentos de
“salvação da pátria”. Desde a Proclamação da República pelo Marechal Deodoro da
Fonseca em 1889, junto com os “movimentos redentores” criou-se a cultura da
instabilidade política, quase como norma de organização do Estado. Uma espécie
de artigo – cláusula pétrea - sub-repticiamente
inserido nas disposições transitórias das constituições brasileiras.
Em
aproximadamente meio século de história política, contado a partir de 1920 a 1960,
foram inúmeros “movimentos de salvação nacional”. A década de vinte foi marcada
pelo “tenentismo”. Um movimento iniciado em 1922, com os “18 do Forte”; seguido
pela “Coluna Prestes” em 1924 e culminando com a “Revolução de Trinta”, a qual
teve êxito na tomada do poder no âmbito federal, com a deposição do presidente
Washington Luis e a ascensão de Getúlio Vargas. Que deu início ao seu período
de governo ditatorial, por longos quinze anos: 1930/1945.
Já
em 1932, líderes políticos paulistas desencadearam o que passou à história com
o nome de “Revolução Constitucionalista”. As forças leais ao governo Vargas
sufocaram o movimento dos bandeirantes. Que, embora derrotado, marcou
profundamente a vida política do país. Em 1934 foi promulgada uma nova
constituição, mas preservando e buscando dar legitimidade ao mandato
presidencial de Vargas.
Finalmente,
em 1935 ocorre o golpe comunista, chamado de “Intentona”; em 1938 o “putsch”
integralista, todos prontamente controlados pelas forças do governo. Exemplos
de movimentos mal sucedidos fruto de avaliações conjunturais mal feitas e
precipitadas.
A
ascensão política e militar da Alemanha nazista desencadeia a II Guerra Mundial
em 1939, com a vitória final das Forças Aliadas, as quais tiveram decisiva
participação das Forças Armadas brasileiras no teatro de guerra europeu. Em
1945, terminada a II Guerra, ocorre a deposição de Vargas pelos seus ministros
militares. Com a redemocratização do país, assume o governo, através de
eleições diretas, o general Eurico Gaspar Dutra, dando início a um período
democrático, no qual, mesmo com turbulências e instabilidades, as instituições
mantiveram algum resquício de legalidade: suicídio de Vargas em 1954; “golpe
democrático” do general Lott em 1955; movimentos contra a posse de Juscelino
Kubitschek em 1956 (Aragarças e Jacareacanga); renúncia de Jânio Quadros em
1961 e consequente ascensão de João Goulart à presidência, deposto em 1964 por
um golpe, denominado civil-militar, o qual deu início a um longo período
autoritário de vinte e um anos. No qual o estado democrático de direito e a
legalidade sofreram um longo hiato histórico, em nome da segurança nacional.
2.
Como se vê pela descrição sucinta da linha do
tempo da história da Democracia na vida contemporânea do Brasil, a turbulência
e a instabilidade políticas são marcas significativas de uma estranha e
persistente luta pelo Progresso e
pelo Desenvolvimento, palavras
mágicas a designar o sonho declarado dos nossos dirigentes. Mesmo que seja à
custa da Liberdade, da Democracia e dos Direitos Humanos.
O
ano de 1985 marca a retomada democrática do Brasil. A partir daí, são, até
agora, trinta anos de Legalidade e de Democracia, uma conquista muito cara a
todos brasileiros. E após 1988 passamos a viver sob a égide de normas
constitucionais. São valores a serem preservados. E que estão reconduzindo o
país rumo ao processo civilizatório. Assim esperamos.
Nos
últimos vinte anos, mesmo com alguma turbulência política, por exemplo, o impedimento/renúncia
do presidente Fernando Collor, a jovem Democracia brasileira logrou avanços
significativos.
O
país controlou a inflação, passou a dispor de uma moeda estável, tornou-se uma
das dez maiores economias mundiais, um dos maiores produtores de alimentos,
graças aos avanços na área agrícola, ganhou autossuficiência em petróleo e
ainda dispondo de um eficiente parque energético, incorporou avanços
científicos e inovações tecnológicas, em todos os campos. Conquistas realizadas dentro do estado
democrático de direito.
E
nos últimos dez anos deu início a um lento e gradual processo de inclusão
social: garantia do emprego, que em 2014 atingiu picos históricos; reajustes
salariais com aumento real; empresas e bancos com lucros significativos;
aumento da oferta de vagas nas universidades para segmentos sociais, vítimas
históricas de exclusão; proteção ao trabalho doméstico; combate intensivo ao
trabalho infantil e análogo ao escravo; regionalização da produção cultural e
garantias de liberdade na Internet. (Balthazar,
PAA, julho, 2015). Todas essas conquistas em meio a uma séria crise estrutural/conjuntural
do sistema capitalista, que está pondo em cheque todo o equilíbrio do sistema.
Com sérias repercussões internacionais.
3 .
Desde outubro de 2014, com a derrota da candidatura oposicionista para a
presidência da república, foi montado um cenário de caos incontrolável na
conjuntura política do país, com reflexos nas áreas econômica, administrativa e
social.
Sob
a liderança da chamada Grande Imprensa,
líder inconteste do bloco de Oposição, teve início a operação desmonte. Eis que de repente, a presidente Dilma Roussef,
eleita para um segundo mandato, foi colocada contra as cordas, declarada
incapaz e incompetente e então iniciada a implacável operação, através do
recurso aos velhos métodos, tão familiares aos brasileiros.
Até hoje
há quem pergunte onde estava a lama do “Mar de Lama” do Palácio do Catete, à
época ocupado pelo presidente Getúlio Vargas, levado ao suicídio pelo esquema
golpista; para onde foi a “ameaça comunista” que pairava sobre o Brasil na
presidência do presidente João Goulart, ambos, coincidentemente do Partido
Trabalhista Brasileiro. E, em época mais recente, qual o destino do “Fiat
Elba”, responsável mais evidente pelo afastamento do presidente Fernando
Collor.
O
que têm em comum esses eventos políticos tão marcantes na história recente do
Brasil? A presença da Grande Imprensa,
capaz de eleger e derrubar líderes políticos que lhe desagradam ao implementar
políticas públicas progressistas.
Cabe,
então a pergunta na atual conjuntura política: - por que a presidente Dilma
estaria perdendo a condição de governabilidade,
a outra palavra mágica do jogo político do presidencialismo de coalizão? Talvez pelos mesmos motivos que levaram
ex-presidentes ao suicídio, ao exílio e ao impeachment! No caso atual,
procura-se o pretexto.
O
estúdio cenográfico agora montado para o desenrolar desta nova ópera política
conta com personagens menores, caricaturais. Meros coadjuvantes alçados ao
palco principal. Mas potencialmente capazes de levar o país de volta para as
trevas do Autoritarismo, que a duras penas aprendemos, somente sabemos como
começa.
Resta
a persistente e inquietante sensação de que já vimos essa montagem de quinta
categoria...
Os
brasileiros que defendem a Paz, a Justiça e a Legalidade esperam que as forças
democráticas da nação, unidas, consigam deter a marcha dos golpistas
irresponsáveis e insensatos, na busca lamentável da sua “quartelada”, em pleno
século 21.
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Comentário: A opinião é do Médico Geniberto Campos, mas indago aos estudiosos do assunto, qual a saída pacífica? O povo está quase sem paciência e as respostas são paliativas, inconsistentes. Onde estão os Economistas?
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Comentário: A opinião é do Médico Geniberto Campos, mas indago aos estudiosos do assunto, qual a saída pacífica? O povo está quase sem paciência e as respostas são paliativas, inconsistentes. Onde estão os Economistas?
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