Hoje,
véspera de São Pedro, ainda em homenagem aos festejos juninos, a ACLA
leva até vocês um trecho do livro “Memórias do Timbó, à Sombra da
Timbaúba”, da Acadêmica Maria da Conceição Cruz Spinelli (ocupante da
Cadeira número 19) onde a autora evoca uma festa junina, passada na
fazenda dos seus avós, a “Ilha Grande”, quando ela ainda era criança.
Na foto, os avós e o genitor da autora, figuras centrais deste capítulo do livro.
Na foto, os avós e o genitor da autora, figuras centrais deste capítulo do livro.
O SÃO JOÃO NA ILHA GRANDE
Dos festejos comemorados ao longo do ano, o São João era e ainda é o
mais esperado, o mais animado para mim. Acredito que foi pelo empenho e
valor que Papai João dava a essa data, ao festejar o santo do seu nome.
Na véspera, meu avô ia para Ceará-Mirim, ele e um morador da fazenda, levava um burro com caçuás que vinham abarrotados de fogos, uma ou duas dúzias de foguetões, que no outro dia ele soltava logo cedo, pelas cinco horas da manhã, embaixo do coqueiro em frente à sua casa. Dizia-nos que era para acordar São João, que dormia o ano inteiro. Eu acreditava na estória de Papai João, que o santo só acordava com o barulho dos foguetões que meu avô soltava.
Além dos foguetões, ele nos presenteava com estrelinhas, peido de velha, pistolas, bombas bujões (soltadas em companhia de uma pessoa adulta), lágrimas de prata, chuveiros; era um show pirotécnico sem igual. Eu me contentava com as estrelinhas, e pensava enquanto as soltava por trás da porta, no escuro: elas estão caindo do céu pelas minhas mãos!
Na mesa, muita comida de milho, canjica, pamonha salgada (minha preferida), pamonha doce, milho verde cozinhado, milho assado na fogueira, grude, tapioca molhada ao coco, cocada de rapadura, meu Deus! Era um banquete!
A noite se esticava mais que as outras. Eu tinha sono, ficava cansada, cheirava a pólvora dos fogos e a fumaça da fogueira que a cada ano aumentava de tamanho, mas resistia até o fim da festa.
Adultos e crianças, amigas e filhos dos amigos, moradores e seus filhos também realizavam o culto do batismo, do parentesco (primos) e até casamentos na fogueira. Quando ela deixava de soltar labaredas, ficava só em brasas, meu pai Paulo da Cruz ficava descalço e caminhava sobre elas. Não se queimava, ele se preparava para a façanha como um destinado no culto ao santo, no final dos festejos (vi durante muitos anos papai repetir esse feito).
Eu ia dormir pensando que papai era um herói. No outro dia ia verificar se a sola dos pés dele estava queimada, tudo normal. Na frente da casa, as cinzas da fogueira, papéis de fogos espalhados pelo alpendre e terreiro, sabugos de milho, e já a saudade dos festejos de São João na Ilha Grande.
Na véspera, meu avô ia para Ceará-Mirim, ele e um morador da fazenda, levava um burro com caçuás que vinham abarrotados de fogos, uma ou duas dúzias de foguetões, que no outro dia ele soltava logo cedo, pelas cinco horas da manhã, embaixo do coqueiro em frente à sua casa. Dizia-nos que era para acordar São João, que dormia o ano inteiro. Eu acreditava na estória de Papai João, que o santo só acordava com o barulho dos foguetões que meu avô soltava.
Além dos foguetões, ele nos presenteava com estrelinhas, peido de velha, pistolas, bombas bujões (soltadas em companhia de uma pessoa adulta), lágrimas de prata, chuveiros; era um show pirotécnico sem igual. Eu me contentava com as estrelinhas, e pensava enquanto as soltava por trás da porta, no escuro: elas estão caindo do céu pelas minhas mãos!
Na mesa, muita comida de milho, canjica, pamonha salgada (minha preferida), pamonha doce, milho verde cozinhado, milho assado na fogueira, grude, tapioca molhada ao coco, cocada de rapadura, meu Deus! Era um banquete!
A noite se esticava mais que as outras. Eu tinha sono, ficava cansada, cheirava a pólvora dos fogos e a fumaça da fogueira que a cada ano aumentava de tamanho, mas resistia até o fim da festa.
Adultos e crianças, amigas e filhos dos amigos, moradores e seus filhos também realizavam o culto do batismo, do parentesco (primos) e até casamentos na fogueira. Quando ela deixava de soltar labaredas, ficava só em brasas, meu pai Paulo da Cruz ficava descalço e caminhava sobre elas. Não se queimava, ele se preparava para a façanha como um destinado no culto ao santo, no final dos festejos (vi durante muitos anos papai repetir esse feito).
Eu ia dormir pensando que papai era um herói. No outro dia ia verificar se a sola dos pés dele estava queimada, tudo normal. Na frente da casa, as cinzas da fogueira, papéis de fogos espalhados pelo alpendre e terreiro, sabugos de milho, e já a saudade dos festejos de São João na Ilha Grande.
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