A República desencontrada
Advogado, membro da ALEJURN
Senhoras
e senhores, distinto público. Neste momento, honrado com o espaço que
me confere este conceituado Jornal, gostaria de me referir ao progresso,
ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social do nosso País.
Mas, como todos estão vendo, e muito mais, sentindo, estamos vivendo uma
crise, cujo fenômeno que a enseja tem bases muito mais forjadas no
atacado, produzido pelo artificialismo da ação política, de interesses
duvidosos, do que no varejo exsurgido das relações sociais, resultante
das manifestações protagonizadas pelo inconsciente coletivo.
Considerando que não há nada nas relações sociais que não proceda de uma
matriz política, pode-se deduzir que se essa matriz for mal produzida
ou praticada nefastos serão os efeitos desfavoráveis aos interesses
maiores da coletividade.
Lamentavelmente, temos assistido nos
últimos tempos, sobretudo neste pós eleição presidencial, a uma
animosidade política que transcende à racionalidade, ao ponto de
determinados segmentos clamarem irrefletidamente pelo encarceramento das
liberdades democráticas. Mas, voltemos ao eixo da questão. O que
estamos nos propondo aqui é retratar os desencontros da República. E aí
vão. No plano municipal todo dia se ouve falar de parlamentares
encalacrando prefeitos para que seus pleitos (nem sempre legítimos)
sejam atendidos com prioridade e até justificando corrupção. No plano
estadual notícias veiculadas nacionalmente dão conta de parlamentares
com até duzentos assessores, sem se falar que utilizam do poder para
viabilizar negócios privados. No plano federal, muitos parlamentares
flagrados em desvios estão sendo processados nos tribunais superiores.
Essas condutas reprováveis chamam à atuação o Ministério Público e o
Poder Judiciário causando ruídos e ranger de dentes, em que pese a
postura genuflexa, regra geral, do Poder Legislativo diante desses dois
últimos. No plano do custeio o Poder legislativo majorou a sua despesa,
em regra, nesses últimos doze anos em praticamente trezentos por cento.
No
plano do Poder Judiciário a coisa se passa um pouco diferente, a
exceção da despesa que também vem sendo aumentada à galope. Em primeiro
lugar, seus membros não são eleitos e a sociedade para protegê-los, bem
como a independência da Justiça, lhes propicia garantias institucionais
tais com vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de
vencimentos, estes denominados subsídios. O problema é que este Poder,
associando forças internas, exógenas e contando com autonomia
administrativa e financeira, vem enxertando esses subsídios com
penduricalhos tais como auxílio moradia (para que tem casa), auxílio
alimentação, auxílio saúde, e dizem que outros tantos estão sendo
cogitados, o que tem causado à boca miúda críticas ácidas.
No
plano nacional, ultimamente, o desencontro na República ficou por conta
do ajuste fiscal que a Presidente da República tenta firmar para fazer
frente a uma crise que se instala no País. Esse ajuste para surtir
efetivo efeito deveria contar com o apoio incondicional dos Poderes. Mas
aí o Presidente do Supremo Tribunal Federal diz que o apoia, mas não
admite que tal ajuste imponha sacrifícios em seus quadros. O Presidente
da Câmara, a seu turno, põe em votação projetos (engavetados) que
aumentam despesas substancialmente, como foi caso da emenda
constitucional que estendeu os reajustes do salário mínimo a todos os
aposentados e pensionistas, o que majora a despesa pública em torno de
nove bilhões de reais. Aliás, pessoalmente quero registrar que a
proposta evidenciada é mais do que justa. Apenas que a gravidade do
momento impõe o seu diferimento.
Por fim, fica o questionamento:
por que um País que gera um PIB de mais de cinco trilhões de reais
(2014) não poder fazer um esforço para cortar 2% (dois por cento) desse
montante, para assegurar e prevenir os efeitos de uma crise que não se
sabe a dimensão de suas consequências, sem ditas providências. Os
poderes precisam se encontrar, mesmo porque têm muito a corrigir além de
suas muralhas, até para que a sociedade não lhes perca a confiança.
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