O fim do papo “olho a olho”
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
A
arte da conversação, considerado por muitos uma invenção francesa, anda em
baixa nos restaurantes e barzinhos.
No
início desse ano foram contabilizados, pelas operadoras de telefonia, mais de
200 milhões de aparelhos celulares habilitados. O Brasil é o quarto País do
Mundo a oferecer lucros às empresas de telefonia móvel.
No
passado, nos lugares públicos, as conversas rolavam soltas, demoradas, com
assuntos sérios e graves, ou superficiais, divertidos e hilários.
Nos
últimos tempos, esse convívio caloroso entre as pessoas baseado no jogo de
palavras e frases parece estar em declínio. Hoje em todos os locais existem
pessoas atentas ao celular.
O
primeiro culpado é o telefone celular e seus aliados, tablets, smartphones, que
têm suas presenças certas nas mesas das casas de pasto, ao lado dos pratos e
talheres. São conversas discretas, em tom baixo, que os demais não compartilham.
Alguns
não largam seus aparelhos nem na hora de comer. Não sei como conseguem
conciliar as duas coisas ao mesmo tempo.
Vivemos
uma completa mudança de hábitos. As pessoas se transformaram numa espécie de
confidentes desses aparelhos eletrônicos, secretários de suas tecnologias – com
eles a postos nas mãos ou nos ouvidos em conversas demoradas, das quais as
outras pessoas não participam.
Quando
não estão falando, estão lendo ou respondendo textos, alheios a tudo que
acontece ao seu redor. Por celulares as pessoas se comunicam sem se falarem
pessoalmente. Muitos se orgulham de possuir mais de mil amigos nas redes
sociais.
Às
vezes, temos a impressão de que essas pessoas superatarefadas desejariam estar
em outro lugar que não fosse em nossa companhia.
Sentimo-nos
intrusos pelos olhares que nos dão. Muitos não conseguem se desconectar do
aparelho. As pessoas mal se falam e quase não se escutam, ultra-atarefadas no
manuseio de seus aparelhos de comunicação. As solidões são amenizadas sem ser
necessário o contato visual.
O
segundo culpado pelo esvaziamento das mesas dos restaurantes é a proibição de
não poder fumar em lugares públicos – essa “sadia” proibição esvazia as mesas
de forma intensa e constante.
Os
fumantes procuram o refúgio dos chamados “fumódromos” de instante em instante. Vocês
nem imaginam quantas amizades iniciam nesses lugares abertos e arejados.
E,
nesse entra e sai constante dos “fumantes”, vemos que as mesas reduzem bastante
o número de ocupantes – às vezes, uma ou duas pessoas que ficam sozinhas, de
olhares vagos e sem ter com quem conversar. É a decadência da conversação. Aí,
não tem outra saída mesmo a não ser usar o celular. Interagir é a palavra da
vez!
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