sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014


Briga em um cabaré da Ribeira


Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ

elisio@mercomix.com.br



Não sabemos ao certo como começou aquela confusão. Num minuto, estava formado o maior quebra-pau dentro do cabaré.

Os dois antagonistas engalfinhavam-se, trocando socos e rolando pelo chão. De repente um dos rapazes levou um pontapé na barriga – levantou-se e saiu distribuindo socos a torto e a direito... pegasse em quem fosse. Aí a coisa complicou.

As prostitutas gritavam apavoradas, corriam e se refugiavam debaixo das mesas do salão. Os três garçons largaram as bandejas e se esconderam atrás do balcão do bar.

A luz vermelha do salão foi apagada e luzes normais acesas. No entanto, a essa altura, a confusão já estava formada. Um homem puxou um punhal, mas foi desarmado pelos seguranças da casa. Garrafas, copos e cadeiras eram arremessados de todos os lados.

O chão logo se encheu de perigosos estilhaços de vidro. Os dois rapazes que deram origem a confusão engalfinhavam-se, rolavam e trocavam socos no chão.

Correrias, gritos pavorosos e urros chegam até a Rua 15 de Novembro. Os guardas-noturnos das ruas próximas apitavam sem parar.

As mulheres gritavam apavoradas. Logo a rua estava cheia de curiosos que queriam ver o que acontecia lá dentro do cabaré.

As inquilinas da casa corriam desesperadas de um lado para outro. Algumas seminuas não sabiam o que fazer diante de tamanha confusão.

Os dois “leões de chácara” do cabaré não tinham o que fazer – era gente demais envolvida na briga. Ninguém sabia ao certo como tinha começado aquele bafafá. A briga já durava mais de dez minutos. O prejuízo era enorme.

Quando finalmente a polícia chegou, o salão estava todo quebrado – mesas, cadeiras em pandarecos – até a radiola de fichas não fora poupada. Havia gente de cabeça quebrada, dente fraturado, equimoses pelo corpo...

O grupo de rapazes a quem atribuíram a origem da confusão tinha se “escafedido” do local.

Naquela noite o cabaré fechou bem cedo. Um dos seguranças da casa, um negro de quase dois metros, tinha um olho roxo e um corte no lábio inferior.

- Iam lhe arrancando um olho, disse um dos garçons ao vê-lo. Será que não ofendeu a vista?

Na porta dos fundos, um cidadão gritava, dizendo que tinha perdido cinco mil réis durante a confusão. Quem vai me pagar? Quem vai me pagar? Perguntava preocupado.

Alguns dos envolvidos na briga foram detidos e levados até a delegacia de plantão, que, por sinal, não era muito distante do local. Funcionava ali mesmo, no bairro da Ribeira.

Na delegacia um dos detidos, metido à valente, contava “goga”, a respeito de sua atuação na briga. Ao ser interrogado pelo delegado de plantão, respondeu às perguntas que lhe foram feitas com ar de deboche. Pelo visto, queria dar uma de arrochado. O delegado não contou conversa e mandou meter o insolente no xilindró.

- Você que é disposto chegou na hora certa. Disse, enquanto o soldado conduzia-lhe até uma das celas.

Depois de colocado atrás das grades, o soldado informou-lhe: “Você vai fazer a faxina”. E lá foi o “brabo” de vassoura e balde fazer a faxina completa do local. Os outros presos e soldados olhavam a cena – alguns até riam disfarçadamente.


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