Verdades
cruzadas - VI
CARLOS ROBERTO DE
MIRANDA GOMES, Professor aposentado do Curso de Direito da UFRN e Presidente da
Comissão da Verdade. Sócio do IHGRN.
Eis que surge um novo
tempo na terra potiguar, mais precisamente nas cercanias da Cidade do Natal,
quando o povo elegeu como seu líder maior a figura popular e ativa de Djalma
Maranhão, irmão de Luiz Ignácio Maranhão Filho, ambos simpatizantes da
esquerda.
Implanta-se no Rio Grande do Norte uma verdadeira
revolução no ensino, através de um Projeto voltado para a educação das nossas
crianças e também a alfabetização de adultos, despertando a admiração da
maioria e o ressentimento de outros, como passamos a melhor explicitar.
A administração de Djalma Maranhão na
Prefeitura de Natal será a mais democrata que a cidade já teve. Destacam-se
entre as suas realizações a ‘Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler’, o
Centro Popular de Cultura e o Fórum de Debates, que trouxe a Natal intelectuais
de nomes renomados para discutir temas relevantes da conjuntura nacional e
internacional.
Homero Costa (Caderno de História), 1996 apud Carlos H.P.Cunha e Walclei de A.Azevedo – Podres
Poderes-política e repressão. Natal: Infinita imagem, 2013.
Durante
esse período os segmentos político, da Igreja Católica Apostólica Romana e da
administração do Estado tomam iniciativas marcantes na direção da difusão do
ensino e conscientização da população, surgindo campanhas em três frentes -
inicialmente distintos, mas que se entrelaçaram no idealismo dos seus
construtores: o Prefeito Djalma Maranhão
e a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, na defesa da dignidade da pessoa humana e pela opção libertária
“é caminhando que se faz o caminho”, incrementando vários núcleos de Cultura
Popular, como grupos de Teatro, Rádio, de Cinema, de Alfabetização e Educação
de Base, de Canto e Música Popular, de Dança, desenvolvimento de habilidades
manuais e profissionalizantes, prática de Ecologia e outros, com localização
nos bairros periféricos.
A
ideia era também de interiorização, o que teve início com a adesão de algumas
prefeituras. Registram-se, até então, cerca de nove acampamentos e 300
escolinhas e a procura por outros Estados brasileiros, Conchas Acústicas,
Galerias de Arte, Museus, Coral.
Faziam
parte, ainda do revolucionário Projeto a construção de Teatrinhos do Povo.
Para
bem difundir o perfil da Campanha “De Pé no Chão Também Se Aprende a Ler” foi
composto um hino pelo potiguar Dôsinho:
Povo
pobre, Natalense!
Chegou
a vez para quem quer aprender.
Como
sofre o ser humano,
Quando
o seu nome não sabe escrever.
A
Prefeitura abre a campanha,
Para ajuda
de ensino e do saber.
Pela
meta do Prefeito Maranhão,
De Pé
no Chão Também se Aprende a Ler.
Tinha, também, uma
bandeira, outro fator de orgulho da campanha, apresentando dois pés impressos a
preto sobre um pano branco, com a legenda em azul: “De Pé no Chão Também se
Aprende a Ler”. Projeto e desenho do pintor Newton Navarro e tudo isso, quando
não gratuito, era realizado com recursos nativos.
Foram
criadas Praças de Cultura com o apoio dos novos intelectuais da terra, como
Newton Navarro, Sanderson Negreiros, Zila Mamede, Nísia Bezerra, Paulo de
Tarso, Marcelo Fernandes, Yaponi Araújo, Nei Leandro de Castro, Berilo
Wanderley, Ticiano Duarte, Luis Carlos Guimarães, Moacy Cirne, Miguel Cirilo,
sob a coordenação de Mailde Pinto, dentre outros. [1]
Para
todo esse trabalho o Prefeito contava com o apoio dos seus auxiliares Moacyr de
Góes, Professoras Mailde Pinto, Denise Felippes, Zilda Lopes, Lourdes Varela,
do Pastor da Igreja Presbiteriana do Alecrim Herly Parente. Ainda, Omar
Pimenta, Hélio Xavier de Vasconcelos, Olívia Marinho, Lia Campos, Severino
Fernandes de Oliveira, Eunice Rocha, Eulina Agra, Osvaldo Carlos, Ilza Soares,
Maria das Dores, Cleomar Dantas, Isabel Alves, Nandí, Maria Salviano, Lenira de
Souza, como também de estudantes universitários como Margarida de Jesus Cortez
a quem foi confiada a coordenação pedagógica e, ainda, Maria Laly Carneiro,
Diva da Salete Lucena, Josemá Azevedo, Geniberto Campos, Juliano Siqueira, Ivis
Bezerra, Edisio Pereira, Icleiber Calife, Olindina Santos, Anaíde Dantas,
Francisco das Chagas Alberto Pinheiro, Antonio Campos, Berenice de Freitas,
Terezinha Braga, Danilo Bessa, José de Ribamar, Francisco Ginani, Socorro
Barreto, Gileno Guanabara, Carlos Lima, Carlos Lyra, Padre Manoel Barbosa,
Pastor José Fernandes Machado e outros.
Também
estiveram compondo essa gama de atividades os Sindicatos, a UFRN através de
convênios com as Faculdades de Farmácia, Odontologia, Medicina – tudo na
direção do futuro.[2]
A
citação de tantos nomes não representa exagero porquanto o projeto era de uma
vastidão nunca vista, tendo como fundamento o ensino e a cultura, representados
em expressões próprias da época: “Nenhum povo é dono do seu destino se antes
não é dono de sua cultura.”
Várias
foram as fases em que se desenvolveu, daí a arregimentação de tanta gente.
Outro
construtor desse ideário foi Dom Eugênio
Sales, fundador da Rádio Rural e Escolas Radiofônicas, responsável pelo
projeto do “Movimento de Educação de
Base” (MEB), arregimentando universitários como Marcos Guerra, Ney Lopes, Jardelino
Lucena, Safira Bezerra, Otomar Lopes Cardoso, Marco Antônio Rocha, Francisco de
Assis Câmara, Pedro Neves Cavalcanti e a Professora Maria Rodrigues, contando
com o apoio do português Manuel Chaparro, dos religiosos José Penha Filho e
Nivaldo Monte e do Professor Otto de Brito Guerra, com a direção do jornal “A
Ordem”, contando com um corpo de redatores como Otomar, Ney, Marco Antônio,
Tarcisio Monte, Jardelino, Arlindo Freire e outros. Compunham o que se
conhecida por “Movimento de Natal”.
Um
terceiro segmento era arregimentado pelo Governador
Aluízio Alves, que mandou buscar em Recife o Professor Paulo Freire, criador de um método revolucionário de
alfabetização de adultos, implantando um Projeto de Alfabetização de Adultos no
Município de Angicos, também com o recrutamento de jovens universitários, como
Ivis Bezerra, Geniberto Campos, Arruda Fialho, Francisco Ginani e outros,
aquele movimento revolucionário no campo educacional, que tantos benefícios
trouxe para a população daquela região.
A
tônica era, igualmente, a tarefa de alfabetização pelo rádio e presencial, numa
ação paralela com os ideais da Campanha do Prefeito Djalma Maranhão e do Movimento
de Natal comandado por Dom Eugênio Sales e auxiliado pelo estudante João
Faustino Ferreira Neto diretor do SAR – Serviço de Assistência Rural.
Esses
movimentos pioneiros, que tiveram até o reconhecimento da UNESCO e OEA, foram
interrompidos com o golpe de 31 de março de 1964, por terem sido considerados como
de caráter subversivo e aqueles que emprestaram o seu entusiasmo e engajamento
foram presos, perseguidos e processados pelo governo militar e, estranhamente,
também pelo Governo do Rio Grande do Norte e até pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, embora tenham contribuído para o desenvolvimento daquelas
experiências, seja diretamente executando programas ou mediante a celebração de
convênios.[3]
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