domingo, 3 de novembro de 2013


1942 – O BRASIL e sua GUERRA QUASE DESCONHECIDA
Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor.
           
             Com esse título, terminei de ler o livro escrito por João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso.
            Confesso: possuído de um injustificável preconceito – por ser o escritor um músico, acreditei tratar-se de um livro promocional. Ainda, sob o sentimento mesquinho, achei que a capa era um chamativo, haja vista a cobra representativa da FEB, uma águia da simbologia nazista, avião, fuzis e bombas.
            Dei-me à leitura e, logo nas primeiras páginas, fui constatando o meu ledo engano. É um trabalho sério, muito honesto, bem escrito e até cativante, no sentido de que, quando era obrigado a suspender a leitura, ficava numa vontade irrefreável de retomá-la.
            E assim fui devorando, capítulo a capítulo, rememorando fatos históricos que já conhecia de trabalhos anteriores, mas pontilhado o texto em comento por indicações particulares que aumentavam o meu interesse.
            Afinal, o livro me trouxe emoções e conhecimentos, transmitindo sensações de tristeza de um lado, mas orgulho de outro, ao conhecer o empenho dos nossos pracinhas, mal equipados, com pouco treinamento, mas exultantes de patriotismo e de amor à liberdade.
            Bastante didática a narração dos prolegômenos da guerra no Estado brasileiro, o recrutamento, os pendores iniciais, os torpedeamentos de navios nas costas brasileiras, relação de batalhas, de navios, batalhões, comendas, fotografias e mapas e o papel notável da mocidade da União Nacional de Estudantes - UNE, aspecto fundamental para forçar uma definição do Governo Vargas em entrar no Teatro da Guerra e ao lado dos Aliados contra a corrente nazifascista que dividia o mundo.
            Um destaque especial é a capacidade de improviso dos nossos soldados, quando em uma cerimônia de formatura e desfile de boas-vindas - enquanto a tropa americana cantava o hino da sua força aérea, o Brasil não tendo algo semelhante em razão do pouco tempo da criação da sua Força Aérea, entoou a conhecida marchinha “A jardineira”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto notabilizada pelo Cantor das Multidões Orlando Silva, recebendo efusivos elogios dos membros do Estado Maior da Guerra. A FEB só ganharia o seu hino “Canção do Expedicionário”, no clamor da guerra, composta a música por Spartaco Rossi, ironicamente oriundo da terra itálica e simpatizante do regime nazista e a letra de Guilherme de Almeida, gravada pelo Rei da Voz Francisco Alves: “Você sabe de onde eu venho? Venho do morro, do engenho, Das selvas, dos cafezais, Da boa terra do coco, Da choupana, onde um é pouco, Dois é bom, três é demais”... Os direitos foram cedidos à Cruz Vermelha e foi assimilada pelos brasileiros.  
            O Brasil no palco da luta, as missões no campo de batalha, as tragédias, as vitórias e as perdas - heroísmo. Nomes de pessoas (dezenas) e lugares que se tornaram famosos como Natal, Recife, Montese, Monte Castelo, Fornovo, Milão, Toscana, Emília-Romanha, Porreta Terme; expressões que marcaram na história – “A cobra vai fumar”, “Senta a Pua”, a “Força Expedicionária”, a “Canção do Expedicionário”.
              No calor da batalha os pracinhas brasileiros mostraram o seu diferencial – o humanismo, repartindo alimentos com a população sofrida da Itália e por isso reconhecidos até os dias presentes, pois o alimento chegara no momento mais crítico daquela contenda.
            Por fim a paz, a desmobilização e o descaso do Governo brasileiro com os seus heróis, mas não do povo. Ficou em Pistoia o registro da grandeza dos brasileiros.
            Ao concluir a leitura, com sua última oração: “Os caboclos brasileiros, os pracinhas da FEB, foram os que deixaram as melhores lembranças”, tive um gesto espontâneo e impulsivo: beijei o livro, como o faço tão logo concluo a minha leitura diária da Bíblia. Fui dormir feliz e em paz, guardando no recôndito da alma a expressão:
  “Non dimenticare”.

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