1942 – O BRASIL e sua
GUERRA QUASE DESCONHECIDA
Carlos Roberto de
Miranda Gomes, escritor.
Com esse título, terminei de ler o livro escrito por João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso.
Confesso: possuído de um injustificável preconceito – por
ser o escritor um músico, acreditei tratar-se de um livro promocional. Ainda,
sob o sentimento mesquinho, achei que a capa era um chamativo, haja vista a
cobra representativa da FEB, uma águia da simbologia nazista, avião, fuzis e
bombas.
Dei-me à leitura e, logo nas primeiras páginas, fui
constatando o meu ledo engano. É um trabalho sério, muito honesto, bem escrito
e até cativante, no sentido de que, quando era obrigado a suspender a leitura,
ficava numa vontade irrefreável de retomá-la.
E assim fui devorando, capítulo a capítulo, rememorando
fatos históricos que já conhecia de trabalhos anteriores, mas pontilhado o
texto em comento por indicações particulares que aumentavam o meu interesse.
Afinal, o livro me trouxe emoções e conhecimentos,
transmitindo sensações de tristeza de um lado, mas orgulho de outro, ao
conhecer o empenho dos nossos pracinhas, mal equipados, com pouco treinamento,
mas exultantes de patriotismo e de amor à liberdade.
Bastante didática a narração dos prolegômenos da guerra
no Estado brasileiro, o recrutamento, os pendores iniciais, os torpedeamentos
de navios nas costas brasileiras, relação de batalhas, de navios, batalhões,
comendas, fotografias e mapas e o papel notável da mocidade da União Nacional
de Estudantes - UNE, aspecto fundamental para forçar uma definição do Governo
Vargas em entrar no Teatro da Guerra e ao lado dos Aliados contra a corrente
nazifascista que dividia o mundo.
Um destaque especial é a capacidade de improviso dos
nossos soldados, quando em uma cerimônia de formatura e desfile de boas-vindas
- enquanto a tropa americana cantava o hino da sua força aérea, o Brasil não tendo
algo semelhante em razão do pouco tempo da criação da sua Força Aérea, entoou a
conhecida marchinha “A jardineira”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto notabilizada
pelo Cantor das Multidões Orlando Silva, recebendo efusivos elogios dos membros
do Estado Maior da Guerra. A FEB só ganharia o seu hino “Canção do Expedicionário”,
no clamor da guerra, composta a música por Spartaco Rossi, ironicamente oriundo
da terra itálica e simpatizante do regime nazista e a letra de Guilherme de
Almeida, gravada pelo Rei da Voz Francisco Alves: “Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do engenho, Das selvas, dos cafezais, Da boa terra do coco, Da
choupana, onde um é pouco, Dois é bom, três é demais”... Os direitos foram
cedidos à Cruz Vermelha e foi assimilada pelos brasileiros.
O Brasil no palco da luta, as missões no campo de batalha,
as tragédias, as vitórias e as perdas - heroísmo. Nomes de pessoas (dezenas) e
lugares que se tornaram famosos como Natal, Recife, Montese, Monte Castelo, Fornovo,
Milão, Toscana, Emília-Romanha, Porreta Terme; expressões que marcaram na
história – “A cobra vai fumar”, “Senta a Pua”, a “Força Expedicionária”, a “Canção
do Expedicionário”.
No calor da batalha os pracinhas brasileiros
mostraram o seu diferencial – o humanismo, repartindo alimentos com a população
sofrida da Itália e por isso reconhecidos até os dias presentes, pois o
alimento chegara no momento mais crítico daquela contenda.
Por fim a paz, a desmobilização e o descaso do Governo
brasileiro com os seus heróis, mas não do povo. Ficou em Pistoia o registro da
grandeza dos brasileiros.
Ao concluir a leitura, com sua última oração: “Os
caboclos brasileiros, os pracinhas da FEB, foram os que deixaram as melhores
lembranças”, tive um gesto espontâneo e impulsivo: beijei o livro, como o faço
tão logo concluo a minha leitura diária da Bíblia. Fui dormir feliz e em paz,
guardando no recôndito da alma a expressão:
“Non
dimenticare”.
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