terça-feira, 24 de setembro de 2013


AUTORIDADE, PODER E DIÁLOGO
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO (pe.medeiros@hotmail.com)

Os evangelistas narram a admiração dos ouvintes de Cristo, diante de seus ensinamentos. “Ele falava como quem tem autoridade, não como os escribas” (Mt 7, 20). Autoridade é um termo latino, derivado de auctoritas, de onde provém também a palavra autor. Pode-se inferir que o vocábulo em latim não significa, em princípio, poder. Alguém se reveste de autoridade, quando cria, inova, mostra originalidade. Um mestre, chefe, religioso ou pai a possui, enquanto apresenta algo de novo e, por isso, é respeitado. Os contemporâneos de Jesus eram meros repetidores. Quem tem autoridade não impõe, propõe; não dita, dialoga; cativa, não amedronta; é seguido, não obedecido por temor. A mensagem de Jesus, repleta de novidade, era diferente daquela dos doutores da lei, escribas e fariseus. Daí, a palavra Evangelho. Ensinou, em vez de vingança, perdão; de ira, mansidão; de incompreensão, benevolência; de arrogância, ternura; de presunção, humildade; de ódio, amor e misericórdia. É sempre atual a prece de Moisés Ben Maimônides, o Espanhol: “Senhor retira de mim a ideia do poder e no meu coração põe algo de novo, cheio de afeto e amor”.
“Todo poder vem de Deus” (Rm 13, 1), afirma São Paulo. No entanto, é mister entender as palavras do apóstolo, do ponto de vista bíblico e semântico. O étimo deriva de potere, cujo presente do indicativo é possum, de onde se origina posso. A conotação da palavra é indispensável para a vida humana e social. Possum (de post+sum) significa ser depois, estar após, o que vem em segundo plano. O poder, portanto, deve vir não em primeiro lugar, mas complementar o homem e não o destruir. É-nos dado para aperfeiçoamento do outro. Eis, pois, o sentido da expressão de Paulo. Deus no-lo concede para ajudar o homem na sua perfeição. Assim, perceberemos que ele é serviço, nunca dominação, proveito, mordomia, exploração, e sim capacidade de vir após o outro para ajudá-lo e completá-lo. Desta forma, devem caminhar todos os poderes, nas diferentes esferas da sociedade.
A consequência da autoridade e do poder é o diálogo.  O termo provém do grego diá+logos (que significa palavra que vem através ou a favor de). Cristo dialogava porque os possuía verdadeiramente: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra” (Mt 28, 17). Quando alguém, em casa, na empresa ou na Igreja, exclama: “Aqui, quem manda sou eu”, é porque está inseguro e desprovido daqueles atributos. Estes não se expressam pela força, mas pela capacidade de ouvir e responder de forma justa e coerente. Quando Cardeal de Buenos Aires, Bergoglio dizia: “Para dialogar, é preciso ter o coração aberto para escutar. À medida que o homem tem mais fé, ele fecha menos portas, pois sabe em quem está apoiado”.
Vivemos numa sociedade de inúmeras reuniões, congressos, conferências e muitas falas, mas pouco diálogo. Vários se isolam, temendo que o outro possa destruir sua identidade. No Brasil de hoje, envolto em manifestações, passeatas e greves, os cidadãos ressentem-se de monólogo. Não podemos esquecer que dialogar é divino. Temos no Gênesis as duas primeiras tentativas. Partem de Javé. A primeira mostra-nos Adão, escondido e com vergonha, cheio de desculpas e escusas.  Na segunda, Deus pergunta a Caim: “Onde está o teu irmão”. Ele respondeu, com uma evasiva: “Não sei. Por acaso sou guarda do meu irmão”? (Gn 4, 9).  O diálogo é sagrado, oriundo do âmago divino, palavra celestial. Cristo se fez Verbo e quis habitar entre nós. O Eterno quis falar sempre conosco, porém, fechamo-nos uns para os outros e para o próprio Criador. Deus não cerra suas portas ao ser humano. O evangelista João apresenta-nos uma alegoria, em que define Cristo como sendo a Porta. O Papa Francisco entendeu tudo isso e afirmou: “Abramos as portas da Igreja, deixemos entrar quem quiser, pois enquanto católica, deve ser a casa de todos os filhos de Deus”.


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