VESTÍGIOS
Ciro José Tavares
É esse semblante cansado que aflige.
São teus bruxuleantes olhos que não
veem,
teus lábios pálidos decorados de estrias
sem o
fulgor do fogo e a doçura
do néctar dos deuses
São as mãos ás peras e trêmulas que
me ferem
e o
trôpego andar buscando
inalcançável, que dá pena.
São as marcas senis maculando a pele
alva que se esgarça,
o castanho claro dos cabelos agitados
nos brancos esvoaçantes.
Olha-te no largo e retangular espelho
do teu quarto.
Acredita, és tu ou o que te resta,
entardecida e só.
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O BLUES DE DEUS
Não rias de Deus
Não ponhas Deus no trapézio
ou na ribalta
Nem mesmo digas:
- “é mais que isto
não se importará”
Nosso Deus perdoa
e sabe que o homem
é um nicho de revoltas
Mas mesmo assim perdoa
Um pai leva o filho à escola
a todo custo
o pai quer ver o filho crescer
- o filho voa
(Horácio Paiva)
Para iniciar o dia, os Poetas Pedro Pereira e Ivam Pinheiro ofertam aos
bons amigos de todas as cores, a doce magia na poesia do afeto que brilha no
visual sabor fraternal do "Café com Flores". Bom Dia e Luz Divina de
Deus para Todos!
CAFÉ COM FLORES.
Ivam Pinheiro
É café com flores
toda oferta certa
na fé de amores.
Para bons amigos
brilhos das cores
é o afeto na seta
que aponta e sigo.
É café com flores
com bons amigos
de todas as cores.
E se é amigo digo
vale qualquer cor.
Na paz de querer
bem na vida viver
plantei a fé na flor
que trago comigo.
Natal, RN, Brasil, 04.09.2013.
* Poesia idealizada a partir de diálogo intertextual e visual com frase e imagem postada por Pedro Pereira:
"Bom dia!!!
Café com flores para os amigos de todas cores.
Pedro Pereira".
**Poema dedicado aos bons amigos de todas as cores, tantos os da minha amizade, quantos os que povoam o viver do meu amigo Pedro Pereira.
Café com Flores - Imagem, sem identificação de
autoria, disponível na página de Pedro Pereira
CAFÉ COM FLORES.
Ivam Pinheiro
É café com flores
toda oferta certa
na fé de amores.
Para bons amigos
brilhos das cores
é o afeto na seta
que aponta e sigo.
É café com flores
com bons amigos
de todas as cores.
E se é amigo digo
vale qualquer cor.
Na paz de querer
bem na vida viver
plantei a fé na flor
que trago comigo.
Natal, RN, Brasil, 04.09.2013.
* Poesia idealizada a partir de diálogo intertextual e visual com frase e imagem postada por Pedro Pereira:
"Bom dia!!!
Café com flores para os amigos de todas cores.
Pedro Pereira".
**Poema dedicado aos bons amigos de todas as cores, tantos os da minha amizade, quantos os que povoam o viver do meu amigo Pedro Pereira.
Café com Flores - Imagem, sem identificação de
autoria, disponível na página de Pedro Pereira
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ENCONTRO COM A
POESIA
- INTERLÚDIO (II)
(Por Horácio Paiva)
TRÊS
JÓIAS DO ROMANTISMO
Neste
intervalo contemplativo, ainda sob o domínio da emoção romântica, estampo três
caros poemas, lidos e relidos no tempo que me coube: O INFINITO, do italiano
Leopardi; TRISTEZA, do francês Musset; e ODE SOBRE UMA URNA GREGA, do inglês
Keats. Os seus tradutores são, pela ordem: Vinicius de Moraes, Guilherme de
Almeida e Augusto de Campos. No final, introduzo uma nota sobre o genial poeta romeno Eminesco, acompanhada de uma de
suas poesias, um soneto traduzido por Nelson Vainer. Há uma segunda nota em que apresento a tradução d’O INFINITO feita por Ivo
Barroso. Muito boa também. Mas dei preferência a de Vinicius por amá-la há
muito tempo e sabê-la de cor. Vejamos então:
GIACOMO LEOPARDI (1798-1837)
O INFINITO
Sempre cara me foi esta colina
Erma, e esta sebe, que de tanta parte
Do último horizonte o olhar exclui.
Mas sentado a mirar, intermináveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e uma calma profundíssima
Eu crio em pensamentos, onde por pouco
Não treme o coração. E como o vento
Ouço fremir entre essas folhas, eu
O infinito silêncio àquela voz
Vou comparando; e vem-me a eternidade
E as mortas estações, e esta, presente
E viva, e o seu ruído. Em meio a essa
Imensidão meu pensamento imerge
E é doce o naufragar-me nesse mar.
ALFRED DE MUSSET (1810-1857)
TRISTEZA
Eu perdi minha vida, e o alento
E os amigos, e a intrepidez,
E até mesmo aquela altivez
Que me fez crer no meu talento.
Vi na Verdade, certa vez,
A amiga do meu pensamento;
Mas, ao senti-la, num momento
O seu encanto se desfez.
Entretanto, ela é eterna, e aqueles
Que a desprezaram
- pobres deles! -
Ignoraram tudo talvez.
Por ela Deus se manifesta.
O único bem que ainda me resta
É ter chorado uma ou outra vez.
JOHN KEATS (1795-1821)
ODE SOBRE UMA URNA GREGA
Inviolada noiva de quietude e paz,
Filha do tempo lento e da muda harmonia,
Silvestre historiadora que em silêncio dás
Uma lição floral mais doce que a poesia:
Que lenda flor-franjada envolve tua imagem
De homens ou divindades, para sempre errantes,
Na Arcádia a percorrer o vale extenso e ermo?
Que deuses ou mortais? Que virgens vacilantes?
Que louca fuga? Que perseguição sem termo?
Que flautas ou tambores? Que êxtase selvagem?
II
A música seduz. Mas ainda é mais cara
Se não se ouve. Dai-nos, flautas, vosso tom;
Não para o ouvido. Dai-nos a canção mais rara,
O supremo saber da música sem som:
Jovem cantor, não há como parar a dança,
A flor não murcha, a árvore não se desnuda;
Amante afoito, e o teu beijo não alcança
A amada meta, não sou eu quem te lamente:
Se não chegas ao fim, ela também não muda,
É sempre jovem e a amarás eternamente.
III
Ah! folhagem feliz que nunca perde a cor
Das folhas e não teme a fuga da estação;
Ah! feliz melodista, pródigo cantor
Capaz de renovar para sempre a canção;
Ah! amor feliz! Mais que feliz! Feliz amante!
Para sempre a querer fruir, em pleno hausto,
Para sempre a estuar de vida palpitante,
Acima da paixão humana e sua lida
Que deixa o coração desconsolado e exausto,
A fronte incendiada e a língua ressequida.
IV
Quem são esses chegando para o sacrifício?
Para que verde altar o sacerdote impele
A rês a caminhar para o solene ofício,
De grinaldas vestida a cetinosa pele?
Que aldeia à beira-mar ou junto da nascente
Ou no alto da colina foi despovoar
Nesta manhã de sol a piedosa gente?
Ah, pobre aldeia, só silêncio agora existe
Em tuas ruas, e ninguém virá contar
Por que razão estás abandonada e triste.
V
Ática forma! Altivo porte! em tua trama
Homens de mármore e mulheres emolduras
Com galhos de floresta e palmilhada grama:
Tu, forma silenciosa, a mente nos torturas
Tal como a eternidade: Fria Pastoral!
Quando a idade apagar toda a atual grandeza,
Tu ficarás, em meio às dores dos demais,
Amiga, a redizer o dístico imortal:
“A beleza é a verdade, a verdade a beleza”
- É tudo o que há para
saber, e nada mais.
-x-x-x-x-x-
NOTAS:
(1) Dentre tais
expoentes europeus - e outros de igual magnitude - uma
estrela brilha na Romênia e seu brilho aquece o ocidente, embora pouco notado
entre nós: MIHAIL EMINESCO, aquele que disse o seu epitáfio nesses versos:
“Tenho ainda um desejo:
Na tarde silente
Me permitais morrer
Na beira do mar.”
Conheço-o
graças à ANTOLOGIA DA POESIA ROMENA, traduzida e organizada por Nelson Vainer,
editada em 1966 (pela Editora Civilização Brasileira), e que tenho a subida honra de possuir desde então,
como presente do hermano Hermano.
Dele faz
rasgados elogios Giuseppe Ungaretti: “Raramente
se encontra na literatura dos últimos dois séculos uma figura de escritor e
poeta mais complexa e mais completa que a de Mihail Eminesco.” “(...) poeta de
sentimento torturado e ardente até à conquista do mais alto esplendor, que faz
dele um dos maiores poetas do seu tempo e de todos os tempos, através da
humanidade, Eminesco permanece para sempre um dos mestres da palavra poética
profundamente inspirado.”
Bernard
Shaw, em carta dirigida à escritora Sylvia Pankhurst que, em 1930, publicara,
em Londres - e pela primeira vez em inglês -, uma coletânea de poemas de Eminesco, situa
o poeta entre os maiores poetas românticos do século XIX.
O meu amigo
e poeta, o norte-rio-grandense Jarbas Martins, que acolhe e coleciona sonetos,
certamente gostará deste, romântico. Não é a obra-prima de Eminesco, geralmente
assim considerado o seu poema LÚCIFER (Estrela da Manhã), um longo de 46
quadras, ou seja, 184 versos. Mas o soneto escolhido é belo e traz, bem
talhada, a medida do romantismo:
SONETO
Quando a própria voz dos pensamentos se cala,
e em mim ressoa um canto doce e piedoso
então, te invoco; ouvirás o meu apelo?
Das brumas frias em que nadas, irás libertar-te?
Irão iluminar a noite profunda
os teus olhos grandes, portadores de paz?
Ressurges da sombra dos tempos idos,
Para ver-te voltar
- como em sonho, assim, viva!
Desces devagar... perto, mais perto,
aconchegas-te novamente sorrindo à minha face,
oh, teu amor com um suspiro mostra-o,
com tuas pestanas tocas as minhas pálpebras,
que eu sinta a vibração do teu abraço
perdida para sempre, eterna adorada.
(2) E, novamente,
O INFINITO de Leopardi, agora na tradução de Ivo Barroso:
O INFINITO
Sempre cara me foi esta colina
Erma e esta sebe, que de extensa parte
Dos confins do horizonte o olhar me oculta.
Mas, se me sento a olhar, intermináveis
Espaços para além, e sobre-humanos
Silêncios e quietudes profundíssimas,
Na mente vou sonhando, de tal forma
Que quase o coração me aflige. E, ouvindo
O vento sussurrar por entre as plantas,
O silêncio infinito à sua voz
Comparo: é quando me visita o eterno
E as estações já mortas e a presente
E viva com seus cantos. Assim, nessa
Imensidão se afoga o pensamento:
E doce é naufragar-me nesses mares.
-x-x-x-x-x-
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