Dalton Melo de Andrade
Escrevinhador
Caiu do Céu. Para
um governo acossado, para um Congresso encurralado, ambos sem respostas
inteligentes e sérias para os protestos de rua, essa tal espionagem do governo
americano veio mesmo a calhar.
Fizeram um
estardalhaço. Uma reação grotesca, exagerada, injustificável e especialmente
infantil, se comparada aos países europeus que sofreram da mesma doença
(excluam-se os latino-americanos, mais infantis do que nós), mostra bem a
necessidade que tinha o governo de algum acontecimento para desviar a atenção
do povo de suas mazelas e alvo de seus protestos, para algo que minimamente
lhes afeta, mas que servem para patriotadas. Como disse o ex-ministro Lampreia
numa entrevista ao Globo News, é jogar para a arquibancada.
Espionagem nasceu
com Adão e Eva. A serpente os espionava e vendo que não rolava nada, soprou a
história da maçã. Desde que o mundo é mundo faz parte da nossa cultura. E começa em nosso próprio meio e vai ao nível de
nações. Se há alguma coisa constante e repetida na história, é a espionagem. Em
todos os níveis. Só ficou mais sofisticada, com o passar dos tempos.
Mas, fico
pensando, que diabo o governo americano espiona no Brasil? Você só espiona algo
para tirar vantagem. Óbvio. Seria sobre a compra dos caças da FAB, uma
indecisão que há anos voa (sem sair do chão) por aí? Segredos de nossa
indústria, cada vez mais atrasada e sem nenhuma inovação que parta dela? Sofisticações que existam nesse campo são
introduzidas pelas multinacionais, e as trazem de fora. Informações sobre nossa
fulgurante indústria nuclear, e a possibilidade de fabricarmos uma bomba
atômica? Pesquisas de ponta nas nossas universidades? Os nossos pesquisadores,
e os temos muito bons, estão, a maioria, no exterior, por falta de apoio local.
Busco para cima e para baixo, e não vejo o que possa despertar tanto interesse
por nossos “segredos”.
Há um assunto
porém que talvez tenha merecido essa atenção: o problema do terrorismo. Desde o
11 de setembro esse assunto enche de preocupação o governo e o povo americano. Com
razão. Por diversas vezes têm dito que a região de Foz de Iguaçu, fronteira com
Paraguai e Argentina, é possível foco de terrorismo na America Latina. Para
acompanhar o que lá ocorre, diga-se, nosso governo pouco ou nada tem feito.
Esse pode ser um dos motivos dessa suposta espionagem. Reconheça-se, no
entanto, que se for essa a razão e identificarem possíveis focos de perigo,
teriam que nos avisar. Não acredito que pretendam invadir o país para
combatê-los. Se deram muito mal no Afeganistão e no Iraque.
Alguns se
preocupam com o “pulmão” do mundo. O governo americano poderia estar
interessado em conhecer detalhes do Amazonas. Sua riqueza mineral e florestal.
A destruição das matas. Mas, para isso,
não precisam de espiões escondidos. Os seus satélites, que todos sabemos
existir e muitos dos quais utilizamos, mostram todos esses detalhes de forma
minuciosa. E, dizem, já dominam as reservas indígenas.
Com o advento da
internet, Google, Facebook, Twitter, e tantos outros programas, dos quais
tantos brasileiros são adeptos, inclusive eu, com o mundo digital ditando
normas, a privacidade foi para o espaço. Todo mundo sabe tudo de todo mundo. Já
digitou o seu nome no Google? Experimente. Veja quanto de sua vida está exposta.
Segredos? Nem de alcova. Já era.
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