quarta-feira, 17 de julho de 2013

Caiu do Céu





Dalton Melo de Andrade
Escrevinhador

            Caiu do Céu. Para um governo acossado, para um Congresso encurralado, ambos sem respostas inteligentes e sérias para os protestos de rua, essa tal espionagem do governo americano veio mesmo a calhar.
            Fizeram um estardalhaço. Uma reação grotesca, exagerada, injustificável e especialmente infantil, se comparada aos países europeus que sofreram da mesma doença (excluam-se os latino-americanos, mais infantis do que nós), mostra bem a necessidade que tinha o governo de algum acontecimento para desviar a atenção do povo de suas mazelas e alvo de seus protestos, para algo que minimamente lhes afeta, mas que servem para patriotadas. Como disse o ex-ministro Lampreia numa entrevista ao Globo News, é jogar para a arquibancada.
            Espionagem nasceu com Adão e Eva. A serpente os espionava e vendo que não rolava nada, soprou a história da maçã. Desde que o mundo é mundo faz parte da nossa cultura. E  começa em nosso próprio meio e vai ao nível de nações. Se há alguma coisa constante e repetida na história, é a espionagem. Em todos os níveis. Só ficou mais sofisticada, com o passar dos tempos.
            Mas, fico pensando, que diabo o governo americano espiona no Brasil? Você só espiona algo para tirar vantagem. Óbvio. Seria sobre a compra dos caças da FAB, uma indecisão que há anos voa (sem sair do chão) por aí? Segredos de nossa indústria, cada vez mais atrasada e sem nenhuma inovação que parta dela?  Sofisticações que existam nesse campo são introduzidas pelas multinacionais, e as trazem de fora. Informações sobre nossa fulgurante indústria nuclear, e a possibilidade de fabricarmos uma bomba atômica? Pesquisas de ponta nas nossas universidades? Os nossos pesquisadores, e os temos muito bons, estão, a maioria, no exterior, por falta de apoio local. Busco para cima e para baixo, e não vejo o que possa despertar tanto interesse por nossos “segredos”.
            Há um assunto porém que talvez tenha merecido essa atenção: o problema do terrorismo. Desde o 11 de setembro esse assunto enche de preocupação o governo e o povo americano. Com razão. Por diversas vezes têm dito que a região de Foz de Iguaçu, fronteira com Paraguai e Argentina, é possível foco de terrorismo na America Latina. Para acompanhar o que lá ocorre, diga-se, nosso governo pouco ou nada tem feito. Esse pode ser um dos motivos dessa suposta espionagem. Reconheça-se, no entanto, que se for essa a razão e identificarem possíveis focos de perigo, teriam que nos avisar. Não acredito que pretendam invadir o país para combatê-los. Se deram muito mal no Afeganistão e no Iraque.
            Alguns se preocupam com o “pulmão” do mundo. O governo americano poderia estar interessado em conhecer detalhes do Amazonas. Sua riqueza mineral e florestal. A destruição das matas. Mas, para isso,  não precisam de espiões escondidos. Os seus satélites, que todos sabemos existir e muitos dos quais utilizamos, mostram todos esses detalhes de forma minuciosa. E, dizem, já dominam as reservas indígenas.
            Com o advento da internet, Google, Facebook, Twitter, e tantos outros programas, dos quais tantos brasileiros são adeptos, inclusive eu, com o mundo digital ditando normas, a privacidade foi para o espaço. Todo mundo sabe tudo de todo mundo. Já digitou o seu nome no Google? Experimente. Veja quanto de sua vida está exposta. Segredos? Nem de alcova. Já era.
           

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