sexta-feira, 19 de julho de 2013

AFINAL, PARA ONDE CAMINHA O PAÍS?



Geniberto Paiva Campos –  Brasília / DF (*)

I)                     OS FATOS

NÃO ESTÁ FÁCIL ENTENDER OS ACONTECIMENTOS, MUITO MENOS  PREVER OS RUMOS QUE O BRASIL IRÁ SEGUIR, APÓS O ABALO POLÍTICO PROVOCADO POR DUAS SEMANAS DE MANIFESTAÇÕES POPULARES.  APARENTEMENTE ESPONTÂNEAS E INCONTROLÁVEIS.

INDEPENDENTE DO POSICIONAMENTO POLÍTICO DE QUEM ANALISA A  ATUAL SITUAÇÃO, A SENSAÇÃO GERAL É DE PERPLEXIDADE.   E A RÁPIDA EVOLUÇÃO DO PROCESSO EXIGE   DOS INTEGRANTES DO ESPECTRO  IDEOLÓGICO/PARTIDÁRIO  QUE DOMINA HÁ ALGUNS ANOS A CENA POLÍTICA BRASILEIRA  UMA  CAPACIDADE DE ANÁLISE DEFINIDORA DE CONDUTAS. IMEDIATAS E A MÉDIO/LONGO PRAZO. CONFIGURANDO, TALVEZ, UM DOS MAIORES DESAFIOS PARA OS DIRIGENTES DO PAÍS.  EM TODOS OS NÍVEIS DE RESPONSABILIDADE.

DESDE A CONSTITUINTE  PÓS – REDEMOCRATIZAÇÃO, A CLASSE POLÍTICA  QUE REPRESENTA A SOCIEDADE BRASILEIRA,  HABITUOU-SE  A  UMA  PRÁTICA QUE ASSUME COMO NATURAL :A FRAGMENTAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DOS PODERES EM INTERESSES DE GRUPOS E DE CLASSES, CUJA CAPACIDADE DE  VOCALIZAÇÃO IRÁ REFLETIR A SUA FORÇA REIVINDICATÓRIA NO COMPLEXO JOGO DE INTERESSES,  QUE SÃO ACOMODADOS PERMANENTEMENTE PELAS LIDERANÇAS REPRESENTATIVAS DA SOCIEDADE.

NESSE SENTIDO, O CONGRESSO NACIONAL, OS PARTIDOS POLÍTICOS, A COMPOSIÇÃO DO EXECUTIVO – OBSERVE-SE O NÚMERO EXPRESSIVO DE MINISTÉRIOS – REPRESENTAM  A ACOMODAÇÃO DESSES SEGMENTOS SOCIAIS.  SITUAÇÃO DE APARENTE EQUILÍBRIO, QUE É FACILITADA POR UMA PRÁTICA POLÍTICA BASEADA MAIS NO ACORDO  E NA CONCILIAÇÃO DO QUE NO CONFRONTO E NO EMBATE DAS IDEIAS. TAL CARACTERÍSTICA DE COMPORTAMENTO É  ASSUMUMIDA,  GERALMENTE  DE FORMA IMPLÍCITA, COMO VIRTUDE E SABEDORIA DA CLASSE DIRIGENTE.

NOVOS ATORES, ALGUNS COM GRANDE CAPACIDADE DE MOBILIZAÇÃO E VOCALIZAÇÃO NA DEFESA DO SEU POSICIONAMENTO IDEOLÓGICO  OU RELIGIOSO, E DAS SUAS REIVINDICAÇÕES CLASSISTAS, PASSARAM A OCUPAR ESPAÇO SIGNIFICATIVO NESSE OUTRORA RESTRITO CENÁRIO POLÍTICO, QUE OS ACOLHE GENEROSAMENTE, E SEGUE COM AS SUAS PRÁTICAS DE INFINITA ACOMODAÇÃO DO JOGO DE INTERESSES,  NUM EQUILÍBRIO PRECÁRIO EM SUA APARÊNCIA,  MAS QUE “FUNCIONA”. EMBORA FRAGMENTANDO E FAZENDO UMA PERIGOSA  SEGMENTAÇÃO DO JOGO POLÍTICO, DESDE QUE OS INTERESSES DE “CLASSE” SEJAM ATENDIDOS, O JOGO CONTINUA, COM APARENTE SATISFAÇÃO  DE TODOS. INCLUINDO ESSES NOVOS ATORES.

ESSA FORMA DE FAZER POLÍTICA VEM SE MOSTRANDO COMO DEFINITIVA HÁ,  PELO MENOS,  UM QUARTO DE SÉCULO. A ACOMODAÇÃO E O ACORDO SUBSTITUEM O CONFRONTO, COMO PRÁTICA  POLÍTICA  CONSAGRADA ENTRE NÓS. RARAMENTE UM EMBATE MAIS SÉRIO ESCAPA DESSA NÃO DECLARADA  LEI DA CONCILIAÇÃO.

O SURGIMENTO DESSES  NOVOS E INQUIETOS ATORES, AGORA OCUPANDO AS RUAS, INVADINDO SEM NENHUM PUDOR O ESPAÇO PÚBLICO, REPRESENTA UMA INOVAÇÃO E UMA AMEAÇA A ESTE SÁBIO E CONVENIENTE JOGO, CUJO EQUILÍBRIO DEPENDE DE SABER COLOCAR, E FAZER OS PARTICIPANTES RESPEITAREM, OS LIMITES NATURAIS PARA O ATENDIMENTO  DE SUAS REIVINDICAÇÕES  E EXPECTATIVAS.

COMO ESSES VELHOS POLÍTICOS E SUAS VELHAS PRÁTICAS IRÃO RESPONDER  AO ATREVIDO DESAFIO DOS MANIFESTANTES?  CUJA PAUTA, SEMPRE MUTÁVEL, ABRIGA OS MAIS DIVERSOS E SURPREENDENTES  ITENS?  E, AO QUE PARECE, QUANDO ATENDIDOS, QUAL MEDUSA INSACIÁVEL, SE RENOVAM EM INQUIETANTES EXIGÊNCIAS?

DEFINITIVAMENTE, OS CHAMADOS  PODERES CONSTITUÍDOS NÃO ESTAVAM PREPARADOS PARA ESTE DESAFIO.  E, PIOR, NÃO DISPÕEM DE INTERLOCUTORES QUE SEJAM CONFIÁVEIS AOS REPRESENTANTES DA JUVENTUDE QUE OCUPA AS RUAS E DIZEM, DE FORMA BILÍNGUE, QUERER MUDAR O PAÍS: MUDA BRASIL/CHANGE BRAZIL.
ALGUMAS RESPOSTAS  “OFICIAIS”, CUJOS AGENTES ESTÃO SEMPRE NA EXPECTATIVA DE UM REFLUXO DO MOVIMENTO E UMA VOLTA DA  (VELHA)  POLÍTICA AO SEU LEITO NATURAL, MERECEM REGISTRO:

1. DA PARTE DO EXECUTIVO FEDERAL, O CHAMAMENTO PARA O DIÁLOGO DE DIRIGENTES DE OUTROS PODERES;  DOS EXECUTIVOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS, DIRIGENTES PARTIDÁRIOS E, CLARO, DOS REPRESENTANTES DO MOVIMENTO  QUE ESTÁ NAS RUAS. E MOVEU UMA PEÇA IMPORTANTE DO JOGO: A PROPOSTA DE UM PLEBISCITO, OU SEJA, OUVIR TODO O POVO SOBRE UMA REFORMA POLÍTICA QUE IRÁ MEXER, BASICAMENTE NAS REGRAS ELEITORAIS VIGENTES, COLOCANDO NO FINANCIAMENTO PÚBLICO DE CAMPANHAS TODA A EXPECTATIVA DE DEMOCRATIZAÇÃO EETIVA DO PROCESSO ELEITORAL;

2. O PODER JUDICIÁRIO SE MANTEVE DISTANTE, INICIALMENTE. EMBORA ALGUNS MINISTROS DO STF, COMO DE HÁBITO, TENHAM EMITIDO AS SUAS OPINIÕES SOBRE O PLEBISCITO, O REFERENDO E OUTRAS QUESTÕES QUE, EVENTUALMENTE, TENHAM IMPLICAÇÕES CONSTITUCIONAIS.  A RESPOSTA MAIS EVIDENTE, ENTRETANTO, FOI A ORDEM DE PRISÃO, EMITIDA PELO STF, CONTRA  UM DEPUTADO  FEDERAL DA REGIÃO NORTE, CONDENADO POR CORRUPÇÃO, JÁ HÁ ALGUM TEMPO. É POSSÍVEL QUE ESSA DECISÃO SEJA CREDITADA  AO  MOVIMENTO DAS RUAS, EMBORA SEJAM CABÍVEIS OUTRAS INTERPRETAÇÕES;

3. O PODER LEGISLATIVO TAMBÉM PROCUROU RESPOSTAS PARA FAZER FRENTE À CRISE TRAZIDA PELAS RUAS. PROMOVEU A VOTAÇÃO DA PEC 37, DERRUBANDO-A EM VOTAÇÃO QUASE UNÂNIME; PROMULGOU UMA DECISÃO, NO MÍNIMO DISCUTÍVEL, CONSIDERADA DEMAGÓGICA POR ALGUNS:  A CORRUPÇÃO  NO ÂMBITO DO FUNCIONALISMO PÚBLICO SERÁ CONSIDERADA “CRIME HEDIONDO”. HÁ QUEM ENTENDA QUE “A DEMAGOGIA, PARA ILUDIR O CLAMOR DAS RUAS, É QUE DEVERIA SER CONSIDERADA CRIME HEDIONDO”;

4. FINALMENTE, A “GRANDE IMPRENSA” OU A MÍDIA. CONSIDERADA,  COM ALGUM EXAGERO OU COM INTEIRA JUSTIÇA, DEPENDENDO DO OLHAR DO OBSERVADOR, O “QUARTO PODER” ESTA TEVE UMA REAÇÃO INICIAL DE ESPANTO E IMEDIATA CONDENAÇÃO DO MOVIMENTO.  LOGO DEPOIS AJUSTADA PARA DECLARADO APOIO. FAZENDO REPERCUTIR O MOVIMENTO, QUE INTERPRETOU COMO CONTRÁRIO AO  GOVERNO FEDERAL. E SEPARANDO, COM DIDÁTICA CLAREZA, OS JOVENS QUE PEDEM MUDANÇA DOS “DESORDEIROS”, O QUE OBRIGOU SEUS JORNALISTAS A, RAPIDAMENTE, AJUSTAREM A SUA MIRA. FATO QUE  FOI MOTIVO DE GOZAÇÃO NA IMPRENSA INTERNACIONAL. 

(PARTE 2)

II)                  AS VERSÕES
1)      O movimento é a mensagem. A mensagem é o movimento.
 O recado/mensagem que se pretende transmitir é exatamente este. Há uma insatisfação geral. Uma recusa na aceitação da forma como os dirigentes estão conduzindo  os negócios do Estado brasileiro. Como estão construindo as pautas públicas e definindo as prioridades do país.

Há uma brava gente exigindo participação. Ainda de forma desorganizada. Por vezes truculenta. Impaciente. Sem focos bem definidos ou prioritários. Apenas dizendo aos ouvidos surdos dos dirigentes: “- estamos aqui, para participar do jogo político. E vocês terão de nos ouvir”. Eles não aprovam a forma como esse jogo está sendo conduzido. E resolveram transformar o futuro em presente. Chamam a atenção da opinião pública internacional para as questões que colocam sobre a mesa – o espaço urbano – de negociações.
Esta, talvez, seja a  versão mais singela. E, provavelmente, a mais correta. Ou a menos correta. Novamente, dependendo do ponto de vista do observador. Vejamos outras possibilidades.

2. O que, ou quem, teria colocado a turma em movimento?
Há uma propaganda de uma rede de supermercados que diz assim: “o que faz você feliz?” Fazendo um contraponto, poder-se-ia perguntar:  “o que fez essa turma infeliz?” a ponto de se enfurecer e ocupar as ruas e praças de várias cidades brasileiras, obstruir estradas e rodovias, quebrando, depredando, ateando fogo em viaturas, saqueando lojas? Invadir prédios públicos, ocupar, simbolicamente, o Congresso Nacional? Promover quebra-quebra no Itamaraty ? Usando fogo e violência inauditas?
Talvez ainda seja muito cedo para se obter respostas precisas. Mas é possível estabelecer comparações pertinentes entre movimentos semelhantes, de ocorrência recente, em alguns países. Onde as manifestações resultaram de desemprego, sufocamento das liberdades  democráticas e de um previsível  futuro sombrio na economia.

3. (O que intriga os observadores de todas as tendências é a aparente incongruência entre a motivação e o ato. Dito de outro modo: muita violência, muito fogo, excesso de truculência e parcos motivos. Reivindicações tidas como prioritárias, se atendidas, logo eram colocadas para a última fila da pauta. Novas e difusas exigências apareciam.  A marcha é a pauta. A pauta é o movimento. Como se houvesse uma motivação recôndita, não declarada. Mas pairando, latente, sobre a cabeça dos manifestantes.  Movendo-os para alvos específicos. Movimento perceptível, entretanto, aos observadores mais atentos).

4. Algumas indagações podem, e devem, ser feitas. Desde que perfeitamente cabíveis, nas circunstâncias. E, se respondidas acertadamente, poderiam explicar as razões e a conduta do movimento:
-  teria a inflação atingido  níveis insuportáveis, tornando mais difícil a vida dos brasileiros?
- o desemprego, especificamente entre os jovens, teria chegado a níveis alarmantes, comprometendo o futuro das moças e rapazes, prontos a ingressar no mercado de trabalho?
- a liberdade de expressão, a Democracia representativa, as instituições do país estariam sofrendo restrições inaceitáveis?

Mesmo ao  mais desatento observador da realidade do país não ocorreria nenhuma resposta diferente de um   NÃO! a essas perguntas.
Então, teria sido a construção dos estádios que colocou  o movimento nas ruas, praças e rodovias? Como, se não houve o menor protesto durante o período de construção dos mesmos?  Os estádios somente se tornaram “coliseus” depois de prontos?  E no  momento da sua inauguração? A alguém ocorreria  a sua demolição? É lícito comparar construção de estádios com oferta de serviços públicos de qualidade?

5. A busca pelas respostas deve, consequentemente, escanear outras possibilidades. E entre as  possíveis motivações, a que surge com maior força de evidência, é a Política. Lembrando a frase do assessor do presidente  norte-americano Bill Clinton, “é a economia, estúpido”, podemos inferir que, neste caso, trata-se da motivação  mais forte: a velha e inarredável Política, tendo em  vista as consequências do Movimento para o governo central. Acuado entre as ruas, a Oposição, a mídia, o Congresso e enfrentando as repercussões internacionais do movimento, claramente um objetivo estratégico dos seus organizadores. É possível concluir, então, que os manifestantes  tinham objetivos políticos bem definidos. E a melhor evidência: obtido o desgaste do governo central, (a partir de certo momento, não se ouviu mais falar em prefeitos ou governadores), houve um claro refluxo no Movimento. Que se quedou mudo, como se satisfeito com os resultados e, aparentemente, esquecido das reivindicações iniciais. Em outras palavras, um importante objetivo da pauta do “Muda Brasil/Change Brazil” foi atingido. Ou, de forma bilíngue: “DONE”.  De imediato, as pesquisas de opinião mostraram o início do “derretimento” do governo da presidente Dilma Roussef, cujo índice de aprovação recuou à metade. Indicando um segundo turno para a próxima eleição presidencial em 2014. Seria este o objetivo principal do movimento? Saúde, Educação, Transporte/Mobilidade Urbana, Tarifa Zero, e outras pautas sociais teriam perdido a prioridade?

6. Se esta análise, por certo especulativa,  estiver correta, estaremos diante de um fenômeno nunca antes observado na história política da América Latina. Um governo bem avaliado pela opinião pública, enfrentando de modo satisfatório, segundo analistas imparciais, uma crise econômica  internacional só comparável à de 1929, sofre um súbito  e importante desgaste político, por conta de movimento articulado  pelas redes  sociais de comunicação eletrônica. Cujo início mostrava-se algo desorganizado e com pautas erráticas e conseguiu direcionar suas  críticas difusas à “situação política”, concentrando, com êxito,  a sua artilharia no governo central.

7.Finalmente, diante do que pode ser observado até o momento, caberia uma pergunta - de resposta dificílima - sobre a real e efetiva ESPONTANEIDADE DO MOVIMENTO. Face à coincidência do noticiário sobre  a espionagem eletrônica exercida no Brasil, pelo governo americano ficarão, sempre, algumas dúvidas pairando sobre este tema. Como de hábito, poderão  decorrer algumas décadas para se obter a confirmação definitiva.  Conforme ocorreu na Operação “Brother Sam”, nos anos 1960.  A ver.

8. Paranoia em excesso? Talvez. Mas, como dizia um sábio humorista mineiro:- “o fato de você ser paranoico não significa que não possa estar sendo seguido”. Ou espionado, acrescentamos.
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(*) Geniberto Campos é médico potiguar, radicado em Brasília.

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