sábado, 2 de fevereiro de 2013


UM ESPECIALISTA EM FELICIDADE *

Expert e estudioso do impacto da emoções sobre o organismo,
o Dr. Mario Alonso Puig adverte que uma emoção negativa é capaz
de debilitar nosso sistema imunológico durante seis horas, e que,
em contrapartida, quando estamos otimistas e felizes,
nosso cérebro funciona melhor.


Mario Alonso Puig é cirurgião-geral e do aparelho digestivo, membro da Harvard University Medical School e da New York Academy of Sciences. Há nove anos trocou o bisturi pela palavra para se tornar um dos especialistas mais solicitados pelas empresas para fazer conferências e seminários sobre liderança, criatividade e gestão de mudança. Vinte e seis anos como cirurgião lhe ensinaram que o orgânico e o mental estão mais relacionados do que supomos. Assim ocorreu com a psiconeuroimunologia, ciência que revela o impacto dos nossos pensamentos sobre a saúde. Seus livros de títulos tão sugestivos como Agora eu, Viver é um assunto urgente, e Matéria de Liderança, se vendem aos milhares. Descubra por quê.


UMA QUESTÃO DE SAÚDE
- É certo que o negativismo cobra a fatura ao nosso organismo?
Há uma evidente relação entre os estados mentais e biológicos. Achamos que o pensamento, como não é possível pesar nem medir, não tem capacidade de cristalizar-se no físico. Contudo, está provado que o sistema nervoso vegetativo simpático reage diante dos estados de ânimo negativos.

- E o que podem provocar?
Sobrecarga do coração e dos vasos sanguíneos, aumento do colesterol negativo (LDL) no sangue, hipertensão arterial, distúrbios no sistema digestivo, pior funcionamento do sistema imunológico, e reflexos na própria sexualidade.

- Diz-se que um pensamento negativo deixa o sistema imunológico debilitado durante seis horas...
De fato. Uma emoção negativa muito forte, como a ira ou o medo, provoca a liberação de cortisol no sangue. Esse hormônio dificulta o funcionamento adequado de nossas células de defesa (leucócitos e linfócitos) durante um tempo prolongado.

- Que vem a ser o distress?
É a sensação de angústia permanente que provoca mudanças no funcionamento do cérebro e nos hormônios. O distress está associado a uma redução do fluxo sanguíneo da área pré-frontral do cérebro humano, o que acarreta uma redução da capacidade de concentração.



- E a confiança, o entusiasmo e o otimismo, podem ter um impacto positivo sobre nosso organismo?
É óbvio que quando estamos otimistas (esperançosos) face a um projeto nossa mente funciona de forma mais eficaz. Além disso, ficou comprovado através de uma tecnologia da neuroimagem, que quando uma pessoa encara otimística e confiantemente um desafio, seu cérebro funciona melhor do que quando receosa.

- Também se diz que a palavra é uma forma de energia vital capaz de afetar-nos em nível biológico. Devemos, então, mudar a forma como nos expressamos?
O uso constante de palavras como “crise”, “dificuldade” ou “impossibilidade” faz com que nos foquemos mais nos problemas do que na solução. Aliás, foi possível fotografar, através da tomografia, como as pessoas que falam de forma mais positiva, algumas até portadoras de transtornos psiquiáticos, conseguiram remodelar fisicamente sua estrutura cerebral, ou seja, os circuitos que lhes provocavam os distúrbios. Por outro lado, a forma como nos referimos (falamos) sobre nós mesmos, molda também nossas emoções.

- Um dos maiores males de nosso tempo parece ser justamente a falta de tempo.
Sim, é curioso, porque temos uma expectativa de vida mais alta dos últimos tempos. Não podemos considerar que tudo é importante, temos, sim, que aceitar que não somos perfeitos e, portanto, é absurdo que levemos tudo a sério.

ESPERANÇA DIANTE DA CRISE
- Porém não é fácil dizer “não” a determinadas coisas...
Eu aplico o princípio de Pareto: investigo quais são os 20 por cento das coisas que me conduzem aos 80 por cento dos resultados que desejo.

- A crise financeira precipitou cerca de 15 por cento dos casos de depressão e transtornos de ansiedade. O que você diria a um desempregado?
Que seu valor como ser humano não está diminuído pelo fato de ele não ter emprego. Ele deve recuperar sua estima pelo que é, e não no que tem. Tem motivo para sentir-se chateado com o mundo, porque a maioria das pessoas que perdem o emprego não merecem isso. Dar cabeçadas é razoável, porém não é inteligente. Um passo adiante seria começar a usar a imaginação, uma qualidade pouco utilizada. Einstein se aborrecia quando lhe diziam que suas descobertas se deviam ao pensamento lógico. Ele retrucava: “Minha imaginação é a chave”.

-Certo! Porém quando ninguém te chama para entrevistas de trabalho, como se manter esperançoso?
Se você se instalar na desesperança, atrairá a pena dos demais. Ao passo que alguém que, não obstante as dificuldades, mantém o ânimo, atrairá as pessoas pois as inspira e se transforma num exemplo. O restante encontrará nessa pessoa um excelente companheiro em suas empresas, projetos etc... É mais importante tomar as rédeas de nossos estados de ânimo e não jogar todo o peso em cima das circunstâncias que nos rodeiam.

UMA DOSE DE ESFORÇO
- Você disse que, diante dum fracasso, 80 por cento das pessoas não voltam a tentar novamente e, diante de um segundo tropeço, 98 por cento desiste. Será que nos falta perseverança?
A inércia e o comodismo são os responsáveis. Nisso o fator cultural é muito importante porque estamos emitindo mensagens de que o que aqui importa é dar um grande lance (golpe) e ser o bastante esperto como para, com pouco esforço, ter um grande ganho (lucro). O esforço e a dedicação são valores que nos levam a ir de encontro à essa inércia.

- Cada vez mais se consomem ansiolíticos, há mais casos de depressão... No que estamos nos equivocando?
Vejamos um exemplo, hoje em dia vemos mais pessoas conversando pelo celular e não entre si. Estamos nos acostumando a viver com uma angústia que nós mesmos criamos.

- Contudo, a pressão no trabalho muitas vezes ocorre devido...
Uma executiva me falou numa sessão de terapia que não tinha vida familiar porque chegava em casa às 11 da noite. “Todo mundo faz o mesmo”, comentou. Isto não faz o menor sentido. Vivemos uma neurose coletiva e, por isso, muitas pessoas vivem à base de ansiolíticos.

- Segundo a Universidade de Minnesota, a felicidade pode ter sua origem genética em cerca de 50 a 80 por cento.
Temos que diferenciar o temperamento, que é genético, do caráter, que aparece por treino (aprendizagem) e influência do entorno. Existem pessoas que por temperamento tendem a ver o lado negativo das coisas, porém isto é uma inclinação e não uma determinação. Se treinarmos, podemos produzir uma transformação.

- Por que, mesmo tendo predisposição para a tristeza, é possível mudar...
O estado de ânimo tem uma capacidade direta e real de afetar o material genético. A epigenética é a ciência que explica como nosso estado de ânimo produz alterações químicas que provocam certos gens de se manifestar ou não.

- O chavão “eu sou assim” (e pronto), então não vale.
Sempre estamos nos refazendo, a possibilidade é o que nos define. Inclusive se podem experimentar mudanças físicas com as variações na forma de ser: se se distende (relaxa) o rosto, se harmoniza o semblante... Faz anos, estudou-se em psiquiatria o caso de uma pessoa com personalidade múltipla: uma delas precisava de óculos de grau, e a outra enxergava perfeitamente sem óculos. Incompreensível de um ponto de vista médico, porém é um exemplo do poder da mente sobre o organismo.

A FÓRMULA DO BEM- ESTAR
Dicas do Dr. Mario Alonso Puig

1.  Seja o timoneiro (capitão) de seu destino.
“Não espere que os outros façam as mudanças por você, e use sua imaginação para fazer algo que, em princípio, não parece razoável. Queixar-se não leva a nada. Esta é a base da liderança: não se trata de um posto nem de um cargo, e sim uma forma de ser”.

2.  Aprenda a priorizar.
“Tem que saber dizer não ao que é urgente mas não importante. Não somos perfeitos e é impossível conseguir tudo. Procure fazer exercícios, dormir bem, comer cinco vezes ao dia e ingerir alimentos ricos em Ômega 3. Te ajudam a manter o equilíbrio emocional.

3.  Aprenda a relaxar.
“A respiração abdominal favorece a secreção de hormônios como a serotonina e a endorfina, além de melhorar a sintonia de ritmos cerebrais entre os dois hemisférios. Quando você estiver passando por algum momento de tensão, imagine que inspira ar de cor verde e o expele cinza. Esta técnica é aplicada com alguns executivos e tem funcionado bem”. 
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* Tradução da entrevista de P. Sancho, publicada na revista espanhola TELVA nº 879 – jul./2012. Traduzido por Gilberto S. Pereira.
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Colaboração do leitor DIDI AVELINO, Rj-RN

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