UM
ESPECIALISTA EM FELICIDADE *
Expert e estudioso do impacto da
emoções sobre o organismo,
o Dr. Mario Alonso Puig adverte que uma emoção negativa é capaz
de debilitar nosso sistema
imunológico durante seis horas, e que,
em contrapartida, quando estamos otimistas
e felizes,
nosso cérebro funciona melhor.
Mario Alonso Puig é cirurgião-geral e do aparelho digestivo, membro
da Harvard University Medical School e da New York Academy of Sciences. Há nove
anos trocou o bisturi pela palavra para se tornar um dos especialistas mais
solicitados pelas empresas para fazer conferências e seminários sobre
liderança, criatividade e gestão de mudança. Vinte e seis anos como cirurgião
lhe ensinaram que o orgânico e o mental estão mais relacionados do que supomos.
Assim ocorreu com a psiconeuroimunologia, ciência que revela o impacto dos
nossos pensamentos sobre a saúde. Seus livros de títulos tão sugestivos como Agora eu, Viver é um assunto urgente, e Matéria de Liderança, se vendem aos
milhares. Descubra por quê.
UMA QUESTÃO DE SAÚDE
- É certo que o negativismo cobra a fatura ao nosso organismo?
Há uma evidente relação entre os estados mentais e
biológicos. Achamos que o pensamento, como não é possível pesar nem medir, não
tem capacidade de cristalizar-se no físico. Contudo, está provado que o sistema
nervoso vegetativo simpático reage diante dos estados de ânimo negativos.
- E o que podem provocar?
Sobrecarga do coração e dos vasos sanguíneos,
aumento do colesterol negativo (LDL) no sangue, hipertensão arterial, distúrbios
no sistema digestivo, pior funcionamento do sistema imunológico, e reflexos na
própria sexualidade.
- Diz-se que um pensamento negativo deixa o sistema imunológico
debilitado durante seis horas...
De fato. Uma emoção negativa muito forte, como a
ira ou o medo, provoca a liberação de cortisol no sangue. Esse hormônio
dificulta o funcionamento adequado de nossas células de defesa (leucócitos e
linfócitos) durante um tempo prolongado.
- Que vem a ser o distress?
É a sensação de angústia permanente que provoca
mudanças no funcionamento do cérebro e nos hormônios. O distress está associado a uma redução do fluxo sanguíneo da área
pré-frontral do cérebro humano, o que acarreta uma redução da capacidade de
concentração.
- E a confiança, o entusiasmo e o otimismo, podem ter um impacto
positivo sobre nosso organismo?
É óbvio que quando estamos otimistas
(esperançosos) face a um projeto nossa mente funciona de forma mais eficaz. Além
disso, ficou comprovado através de uma tecnologia da neuroimagem, que quando
uma pessoa encara otimística e confiantemente um desafio, seu cérebro funciona melhor
do que quando receosa.
- Também se diz que a palavra é uma forma de energia vital capaz de
afetar-nos em nível biológico. Devemos, então, mudar a forma como nos expressamos?
O uso constante de palavras como “crise”,
“dificuldade” ou “impossibilidade” faz com que nos foquemos mais nos problemas
do que na solução. Aliás, foi possível fotografar, através da tomografia, como
as pessoas que falam de forma mais positiva, algumas até portadoras de
transtornos psiquiáticos, conseguiram remodelar fisicamente sua estrutura
cerebral, ou seja, os circuitos que lhes provocavam os distúrbios. Por outro
lado, a forma como nos referimos (falamos) sobre nós mesmos, molda também
nossas emoções.
- Um dos maiores males de nosso tempo parece ser justamente a falta de
tempo.
Sim, é curioso, porque temos uma expectativa de
vida mais alta dos últimos tempos. Não podemos considerar que tudo é
importante, temos, sim, que aceitar que não somos perfeitos e, portanto, é
absurdo que levemos tudo a sério.
ESPERANÇA DIANTE DA CRISE
- Porém não é fácil dizer “não” a determinadas coisas...
Eu aplico o princípio de Pareto: investigo quais
são os 20 por cento das coisas que me conduzem aos 80 por cento dos resultados
que desejo.
- A crise financeira precipitou cerca de 15 por cento dos casos de
depressão e transtornos de ansiedade. O que você diria a um desempregado?
Que seu valor como ser humano não está diminuído
pelo fato de ele não ter emprego. Ele deve recuperar sua estima pelo que é, e não
no que tem. Tem motivo para sentir-se chateado com o mundo, porque a maioria
das pessoas que perdem o emprego não merecem isso. Dar cabeçadas é razoável,
porém não é inteligente. Um passo adiante seria começar a usar a imaginação,
uma qualidade pouco utilizada. Einstein se aborrecia quando lhe diziam que suas
descobertas se deviam ao pensamento lógico. Ele retrucava: “Minha imaginação é
a chave”.
-Certo! Porém quando ninguém te chama para entrevistas de trabalho, como
se manter esperançoso?
Se você se instalar na desesperança, atrairá a
pena dos demais. Ao passo que alguém que, não obstante as dificuldades, mantém
o ânimo, atrairá as pessoas pois as inspira e se transforma num exemplo. O
restante encontrará nessa pessoa um excelente companheiro em suas empresas,
projetos etc... É mais importante tomar as rédeas de nossos estados de ânimo e
não jogar todo o peso em cima das circunstâncias que nos rodeiam.
UMA DOSE DE ESFORÇO
- Você disse que, diante dum fracasso, 80 por cento das pessoas não
voltam a tentar novamente e, diante de um segundo tropeço, 98 por cento
desiste. Será que nos falta perseverança?
A inércia e o comodismo são os responsáveis. Nisso
o fator cultural é muito importante porque estamos emitindo mensagens de que o
que aqui importa é dar um grande lance (golpe) e ser o bastante esperto como
para, com pouco esforço, ter um grande ganho (lucro). O esforço e a dedicação
são valores que nos levam a ir de encontro à essa inércia.
- Cada vez mais se consomem ansiolíticos, há mais casos de depressão...
No que estamos nos equivocando?
Vejamos um exemplo, hoje em dia vemos mais pessoas
conversando pelo celular e não entre si. Estamos nos acostumando a viver com
uma angústia que nós mesmos criamos.
- Contudo, a pressão no trabalho muitas vezes ocorre devido...
Uma executiva me falou numa sessão de terapia que
não tinha vida familiar porque chegava em casa às 11 da noite. “Todo mundo faz
o mesmo”, comentou. Isto não faz o menor sentido. Vivemos uma neurose coletiva
e, por isso, muitas pessoas vivem à base de ansiolíticos.
- Segundo a Universidade de Minnesota, a felicidade pode ter sua origem
genética em cerca de 50 a 80 por cento.
Temos que diferenciar o temperamento, que é
genético, do caráter, que aparece por treino (aprendizagem) e influência do
entorno. Existem pessoas que por temperamento tendem a ver o lado negativo das
coisas, porém isto é uma inclinação e não uma determinação. Se treinarmos,
podemos produzir uma transformação.
- Por que, mesmo tendo predisposição para a tristeza, é possível
mudar...
O estado de ânimo tem uma capacidade direta e real
de afetar o material genético. A epigenética é a ciência que explica como nosso
estado de ânimo produz alterações químicas que provocam certos gens de se manifestar
ou não.
- O chavão “eu sou assim” (e pronto), então não vale.
Sempre estamos nos refazendo, a possibilidade é o
que nos define. Inclusive se podem experimentar mudanças físicas com as
variações na forma de ser: se se distende (relaxa) o rosto, se harmoniza o
semblante... Faz anos, estudou-se em psiquiatria o caso de uma pessoa com
personalidade múltipla: uma delas precisava de óculos de grau, e a outra
enxergava perfeitamente sem óculos. Incompreensível de um ponto de vista
médico, porém é um exemplo do poder da mente sobre o organismo.
A FÓRMULA DO BEM- ESTAR
Dicas do Dr. Mario Alonso Puig
1.
Seja o timoneiro (capitão) de seu destino.
“Não espere que os outros façam as mudanças por você, e use sua
imaginação para fazer algo que, em princípio, não parece razoável. Queixar-se
não leva a nada. Esta é a base da liderança: não se trata de um posto nem de um
cargo, e sim uma forma de ser”.
2.
Aprenda a priorizar.
“Tem que saber dizer não ao que é urgente mas não importante. Não somos
perfeitos e é impossível conseguir tudo. Procure fazer exercícios, dormir bem,
comer cinco vezes ao dia e ingerir alimentos ricos em Ômega 3. Te ajudam a
manter o equilíbrio emocional.
3.
Aprenda a relaxar.
“A respiração abdominal favorece a secreção de hormônios como a
serotonina e a endorfina, além de melhorar a sintonia de ritmos cerebrais entre
os dois hemisférios. Quando você estiver passando por algum momento de tensão,
imagine que inspira ar de cor verde e o expele cinza. Esta técnica é aplicada
com alguns executivos e tem funcionado bem”.
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Tradução da entrevista de P. Sancho, publicada na revista espanhola TELVA nº
879 – jul./2012. Traduzido por Gilberto S. Pereira.
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Colaboração do leitor DIDI AVELINO, Rj-RN
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