domingo, 15 de julho de 2012

UM CANGULEIRO DE FIBRA
(foto de A Tribuna do Norte) Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor*

A identidade de uma cidade se eterniza pelas figuras dos seus habitantes. Cada partida vai desfigurando o seu cenário emocional. Neste final de semana tomei conhecimento da viagem final do Mestre Bandeira – ANTONIO JOSÉ BANDEIRA, canguleiro de fibra, habitante permanente das cercanias da Ribeira e Rocas. A sua arte de encadernador de livros foi exercida por muitas décadas, com eficiência e dignidade. Dificilmente em uma boa biblioteca não existam exemplares do seu ofício. Eu as tenho em dezenas, pois nossa amizade datava dos anos 50, quando encadernava as minhas revistas em quadrinho, que ainda conservo íntegras em minha biblioteca. Isso aconteceu quando ele trabalhava NO jornal católico “A ORDEM”, na Rua Dr. Barata. Fui levado pelas mãos de papai, também seu freguês e suas encomendas se avolumavam, posto que a clientela era imensa. Tenho certeza que Cascudo era um dos seus clientes, até porque a Ribeira era o cenário da intelectualidade de Natal. Coleções inteiras que ele recuperava ainda existem espalhadas por aí, sempre com característica singular – papelão, costura, miolo em pano com a gravação do título da obra. A sua prensa representava um monumento que venceu o tempo e devia ser recolhido a um museu. Nosso último encontro aconteceu na Livraria Poty – espantei-me da sua boa forma, o mesmo homem, esguio e de braços fortes que conheci nos meus 10 anos. Era sempre um homem que aparentava ser feliz. Foram 86 anos bem vividos. A Ribeira guardará a sua memória e a cidade amanheceu mais pobre.

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