segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011



Quando te vais
Pedro Simões Neto - Natal/RN


Quando te vais
um genocídio
defloresce
milhares
de tu e eu.
Ocasiono-me
então,
enquanto
amanheces
prematura
madrugada.


Desabitado
encho-me
de um vazio
cheio de azul
da tua ausência.
Sou pássaro
desnidificado,
seca
cigarra
invernada
tanto
que não se cantou.


Quando voltas
o dia
habita em mim.
Cheiro os sons
escuto as cores
degusto
as miragens,
desconstruo
as palavras
inúteis
ociosas
e precárias.


Nunca te vás
de mim
amor
para que
não me
ensombreça
carente
de essência
nem me enraíze
nas cinzas
do nada
negando-te
o húmus
da tua
frutificação
o fruto
da minha
redenção.


Pedro Simões Neto, escritor, educador, advogado -
estudioso da história e pesquisa dos nomes e fatos
da literatura norte-riograndense e brasileira.
psimoes.neto@hotmail.com




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DIDI AVELINO

A propósito dos últimos artigos que escrevi, abordando a música popular nordestina, resolvi aproveitar a passagem por Natal de Edilson Avelino dos Santos, conhecido artisticamente como "Didi Avelino", para lhe prestar a minha homenagem.
Numa determinada noite de insônia, em 2009, estava eu navegando pela internet, buscando subsídios para um dos livros que estou escrevendo e resolvi colocar no computador nomes de pessoas com quem convivi na era de ouro do rádio potiguar. Assim consegui dados preciosos sobre Paulo Molin, pernambucano de nascimento, mas que teve grande sucesso em nosso Estado, falecido em 2004 em Quaxupé-MG.

(Foto da família de Paulo Molin)
Depois consegui outras informações sobre outras pessoas do mundo artístico. Então, ao procurar algo sobre Edmilson Avelino, um dos melhores garotos cantores do meu tempo, recebi de volta indicações sobre a pessoa de Didi Avelino e, ao ler as reportagens, constatei que era irmão de Edmilson.
Tentei contato com ele e senti alguma reação, pois residindo no Rio de Janeiro há muitos anos, deve ter estranhado aquele inusitado e-mail. Sentindo a eventual desconfiança, retruquei enviando fotografias de Edmilson, com afetuoso oferecimento a mim, o que de imediato abriu o coração de Didi, que prometeu vir a Natal e então conversarmos sobre variados assuntos. E assim fez, no final de 2009, quando fiz uma recepção em minhas residências de Natal e Cotovelo, regado a boa música, com a presença de Domilson e Iara Bastos, Leide Câmara, músicos natalenses, familiares e amigos. Posteriormente fizemos um programa "Memória Viva", por gentileza de Tarcísio Gurgel, que descobriu ser parente de Didi e não o conhecia. Por fim fizemos um belo espetáculo no Teatro de Cultura Popular da Fundação José Augusto, com casa cheia.
Retornando ao Rio, Didi prometeu repetir a dose no ano seguinte e voltar à nossa terra. Realmente retornou ao nosso Estado neste começo de 2011. Desta feita, no entanto, não teve tempo para a renovação daquele congraçamento, mas apenas um ligeiro encontro em Cotovelo, juntamente com seu sobrinho Hudson. Ontem me telefonou e disse que já está de partida, mas prometeu retornar no meio do ano. Vou esperar ansiosamente, pois foi um novo e bom amigo que consegui já no outono da minha existência.
Mas, quem é esse Didi Avelino? Vou dar algumas dicas:

Da internet colhi uma entrevista no blog Walrus no Samba, de Guilherme Barbosa Pedreschi, na série “Perfis”, o qual declara que Didi é conhecido no Rio de Janeiro como o “Voz de Veludo” – talento ímpar que abrilhantou o seu disco "Relicário" (2006), dividindo vocais comigo na faixa "Além do Papel". E continua:

"Edílson Avelino dos Santos, o “Didi", nascido em 28/04/1952 em Natal/ RN é bacharel em Direito(UFRJ), artista plástico/design gráfico e cantor.

Arte e música vieram de berço: seu pai foi poeta e colunista de jornais potiguares, no antes e no pós II Guerra Mundial. Sua mãe cantava e se acompanhava ao violão “da família”. Já Edmilson Avelino, o irmão mais velho, foi considerado “garoto prodígio” nos anos cinqüenta, cantando e gravando aos quatorze anos de idade.

Didi participou de festivais de música no final dos anos sessenta e início dos anos setenta. Chegou ao Rio em 1977. Abraçou o Salgueiro como escola de coração, estudou técnica vocal de 1987 a 1989, na Escola de Música “Cenário”(Botafogo) do pianista e arranjador Tomás Improta, no curso Microfone – Preparação do Cantor Popular, criado pelas professoras Suely Mesquita, Rita de Cássia e Arícia Mess, além de ter visto (e participado, é claro) de muita coisa boa nesses mais de 30 anos no Rio de Janeiro.

Didi, o que despertou o seu amor pela música?

Nasci e cresci num ambiente propício à arte, particularmente, à música e à poesia. Impossível não ficar “corujando” as reuniões musicais e os recitais de poesia promovidos pelo meu pai e amigos. Como dizia a minha mãe, “aqui até o papagaio canta e declama!”. Esse meu gosto pela música vem de longe.

Que espetáculos musicais, rodas de samba te marcaram, ao longo desse seu período no Rio?

Ainda era brabeza, visto que os generais ainda ditavam a ordem do dia. Isso ficou bem evidente quando ingressei na Faculdade Nacional de Direito, berço da rebeldia e da contestação estudantil ao regime da época. Comecei bem as minhas andanças pelos shows em cartaz no Rio, afinal, o primeiro que vi foi “Tom, Vinícius, Toquinho e Miúcha” no Canecão. O pior era que as ofertas em cartaz me seduziam, mas, evidentemente, fui “administrando”, pois a grana era curtíssima. O primeiro contato in loco com o samba e com o choro, no Rio, foi em Botafogo, onde resido até hoje. Tive o privilégio, através de um amigo, de conhecer o antológico Cantinho da Fofoca, à Rua Rodrigo de Brito, nº 9, onde ficava a pensão do Seu Alcides. No quintal, em torno de uma grande mesa, sambistas e chorões, enchiam o ar de música e poesia. Lá freqüentavam Walter Alfaiate, Mauro Duarte, Noca da Portela, Paulinho da Viola, além de outros bambas marcantes de Botafogo como Micau, Anunciato, Basílio e outros. Gostaria de ter freqüentado mais, entretanto, recém chegado ao Rio, a prioridade era trabalhar e estudar. Nessa época, a Portela ensaiava no Morisco e os fins-de-semana eram uma overdose de samba, claro!

Samba: qual a importância na sua vida?

Nunca simpatizei com atitudes radicais, sobretudo na música. Acho que num país como o nosso, tão rico em ritmos e estilos musicais, não é produtivo ser purista ou segregacionista. O exemplo a seguir vem da miscigenação do nosso povo. Daí nós termos belos exemplos de diversidade musical que nos faz entender quão importante essa fusão de ritmos e estilos. Um país que dá Cartola e Candeia, também dá Tim Maia e Jorge Benjor. Onde nasce um Tom Jobim também floresce um Pixinguinha. E os exemplos se sucedem. Assim, nesses meus cinqüenta e seis anos de paixão pela música popular brasileira, tenho direito adquirido de declarar o meu definitivo amor pelo samba. Devo isso ao Rio, não nego, pago quando puder.

Cite alguns dos seus compositores preferidos:

Sou daqueles que acredita no “casamento musical perfeito”, daí a minha predileção por duplas imbatíveis na arte de compor MPB: Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, Jackson do Pandeiro e Almira Castilho, Tom Jobim e Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Edu Lobo e Chico Buarque, Baden Powell e Vinícius de Moraes, João Nogueira e Paulo César Pinheiro, João Bosco e Aldir Blanc, Claudionor Cruz e Pedro Caetano, Nélson Cavaquinho e Guilherme de Brito, Paulinho da Viola e Elton Medeiros e outras parcerias antológicas. Há também alguns cuja genialidade, na maioria das vezes, se basta em si mesma: Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Lupicínio Rodrigues, Chico Buarque, Cartola, Ary Barroso, Caetano Veloso, Gilberto Gil, enfim.

Claro que a lista estará sempre incompleta, graças a Deus, pois o Brasil é o país com a maior e mais linda diversidade musical do planeta. Uma coisa é certa: só canta e grava coisa ruim quem quer, nunca será por falta de opções.

Um cantor: Renato Brás
Uma cantora: Gal Costa
Um instrumentista: Paulo Moura
Um grupo musical: CAMERATA CARIOCA
Um show histórico: SAUDADES DO BRASIL.Vi Elis Regina pela última vez
Música preferida: Aquela que emociona e a memória acolhe

Qual foi o momento de maior emoção na sua vida?

Foi em 2003, num show no Leblon. Havia recebido o diagnóstico médico de doença grave, poucos dias antes do show. Apesar do drama que enfrentava, resolvi que iria cantar. A casa cheia, inclusive de amigos solidários, e eu lá cantando... Firme, o quanto pude. Só não deu pra esconder as lágrimas na canção do Edu Lobo e Torquato Neto “Pra dizer adeus”(que já estava, por mórbida coincidência, no repertório). Sabe Deus porquê estou aqui contando essa história que, graças a Ele, foi superada.

Seus projetos, sonhos e planos musicais são realizados por impulso, paixão ou por amor, com atenção especial à técnica?

Plagiando Jorge Mautner, eu diria que sou uma hemorragia de emoção, especialmente na música. Acho que sou mais intérprete do que cantor, pois estou sempre disponível à emoção. Talvez por ser assim, o que me impulsiona a planos e projetos é a paixão. E não creio que técnica e emoção sejam incompatíveis, sobretudo, no ofício de cantar.

Como vê o atual cenário da música brasileira?

O Brasil será sempre um celeiro de bons cantores, especialmente, de cantoras. Nesse aspecto, creio, estamos muito bem servidos. Entretanto, sem querer ser saudosista, já tivemos mais fartura de compositores, e de excelente qualidade, é bom frisar.

Numa pergunta anterior citei algumas duplas famosas de compositores que, por uma ou outra circunstância, foram desfeitas e isso interfere de alguma forma na “fonte” da criação. Não estou sugerindo nenhuma escassez, apenas constatando uma “entressafra” na arte de compor. Também não me refiro ao mercado fonográfico, nem às suas variáveis complexas, mas à criação, a produção da composição mesmo. Qual dos nossos compositores consagrados está criando regularmente? Citaria tão somente os extraordinários Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho. Quem mais, com a mesma qualidade e regularidade? Se observarmos com atenção devida, nunca se regravou tanto no Brasil como agora. Não será isso um indicador sutil dessa “entressafra” ?

No mais, a nossa música popular está muito bem. Ótimas revelações, tanto de compositores quanto de intérpretes, movimentos sólidos de formação de novos músicos – louve-se a iniciativa de criação da Escola Portátil de Música, o “renascimento” da Lapa, que impulsionou e deu visibilidade maior ao samba e ao choro, fenômeno que se alastra por todo o país, enfim. Tudo isso nos dá a esperança de continuarmos colhendo bons frutos dessa fértil e frondosa “árvore” que é a MPB.

Qual a sua relação com o carnaval? Brincou muito?

Na adolescência brinquei em blocos, tempo em que o carnaval de rua era a opção principal, pois a possibilidade de estar com amigos de colégio, de rua, de futebol, era concreta. Além do que carnaval de clube nunca foi meu forte. Depois descobri a escola de samba e me apaixonei! Nessa época, a escola de samba (Malandros no Samba) da minha cidade cantava o samba do Rio que caísse no gosto popular, ou seja, aquele que tocasse no rádio com maior freqüência. Lembro que em 1970, entoamos o antológico samba da Portela “Lendas e Mistérios da Amazônia”, de Catoni, Jabolô e Valtenir, e foi um sucesso! Até hoje sei de cor. Final dos anos setenta e lá vim eu para o Rio, berço e matriz de tudo com que sonhei: Escolas de Samba. E, como disse anteriormente, fui premiado por vir morar em Botafogo e ter nos finais de semana os ensaios da Portela. E eu me esbaldava até brilharem os primeiros raios de sol. Aliás, devo esclarecer que, diferentemente do futebol, a minha simpatia pelo Salgueiro não me impede de admirar outras escolas. Já assisti desfiles na avenida que outras escolas me emocionaram bem mais que o Salgueiro, e posso exemplificar com o desfile da Vila Isabel, em 1988, com o enredo “Kizomba, a Festa da Raça” ou a Mangueira com o enredo “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm”, de 1986. A escola de samba na avenida é um contexto e, muitas vezes, a razão se alia à emoção de tal forma que não nos impede de avaliar, com isenção, a campeã, aquela que nos arrebata. Desfilei algumas vezes, mas a emoção de ser jurado foi algo novo e diferente em todos os sentidos. Em 1989 fui convidado pela Riotur para julgar o quesito Alegorias e Adereços do Grupo A. Fiquei lisonjeado com o convite e dessa maravilhosa experiência guardo, até hoje, o crachá como recordação. No ano aeguinte fui novamente convidado, mas, no momento do convite, estava passando férias em Natal. Contudo, gostaria de repetir a experiência.

Conta pra gente um pouquinho da sua trajetória musical:

No início dos anos oitenta, participei como vocalista do grupo “Razão Musical”, liderado pelo violonista Fernando Rangel. Era um quinteto cujo repertório ia do pop ao samba tradicional e fizemos shows no Rio e Cabo Frio. Com a morte prematura de Fernando, passei dois anos sem cantar formalmente, participando apenas como convidado ou de “canjas” em shows de amigos músicos, no Rio e em Natal. Em 1987 iniciei o curso de técnica vocal, e, posteriormente, fiz backing vocals em discos de amigos. Em 1996 fui convidado para ser o vocalista do grupo “Feitio de Oração”, quinteto cujo repertório era basicamente choro e samba. Tocamos, praticamente, em todas as casas do chamado Circuito Lapa, no período em que se estruturava todo o movimento musical que hoje é uma realidade. Lembro que tocávamos no Bar Semente, onde também se apresentavam Teresa Cristina, o grupo do Zé Paulo Becker, Daniela Spielmann Trio, o grupo Tira a Poeira, enfim, foi um período rico de intercâmbio musical que plantou as sementes, sem trocadilho, do renascimento da Lapa. Sinto-me honrado de ter participado desse processo. Ainda no “Feitio de Oração” fizemos a Sala Funarte e shows fora do Rio (Búzios, Maricá, etc.).

Um momento que me lembro com carinho foi o convite de Jailton Mangabeira, em novembro de 2002, para que eu abrisse um show no Teatro João Caetano onde a estrela do espetáculo era a Velha Guarda do Império Serrano, de bambas da Serrinha como Zé Luiz, Aluízio Machado e Ivan Milanez. No final de 2002 me afastei da música para cuidar da saúde. Graças a Deus, deu tudo certo e cá estou contando um pouco do que vivi. Atualmente estou em processo de pesquisa e montagem de novo repertório. Quem sabe, voltarei a cantar em breve... Aliás, quero cantar pra manter a alma acesa.

Possui registros em LP ou Cd's? Quais?

Como disse anteriormente, fiz “backing vocals” em discos de amigos(LPs de Jarlene Maria, Rogério do Maranhão, etc.), e a mais recente participação foi no CD do meu amigo Guilherme Barbosa, um compositor dos mais promissores, pois ainda é muito jovem, e um criador por excelência. Sua mais recente criação é este Blog que eu reputo um dos melhores na área da música e das artes em geral.

Um sonho:

Gravar um disco autoral com a obra de um grande compositor que a mídia brinca de esquecer. O nome eu não posso dizer, pois todo sonho tem seus segredos."

Contato: didiavelino@globo.com
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Amigo Didi,
Minha homenagem e até breve, se Deus assim o permitir.
Um grande abraço de Carlos Gomes

Um comentário:

  1. Meu querido amigo, Dr. Carlos Gomes,
    repito agora o que lhe disse em dezembro de 2009, após nos conhecemos pessoalmente: conhecê-lo, e privar da sua amizade, foi o melhor presente de Natal, na nossa Natal, que recebí nos últimos anos. E como se não bastasse tão gratificante encontro, a hospitalidade dessa grande dama que é Dona Terezinha, sua esposa e dos seus filhos, foi comovente.
    Jamais esquecerei aquela bela noite em sua residência, onde os jardins e o prata da lua compuseram o cenário perfeito que emoldurou aquele belo encontro, regado a canções, belas histórias musicais, pesquisadas e reveladas pela competentíssima Leide Câmara, e experiências vividas e narradas com o humor ímpar do Dr. Moacir Gomes, seu irmão e grande arquiteto potiguar, que ainda nos brindou com impecáveis interpretações de tangos antológicos. E que bom ouvir o violão maduro de Domilson, com seu grupo, e a bela voz da sua Iara Bastos. Foi um encontro inesquecível, desses que a gente tenta agendar um próximo, na ânsia de reviver cada momento do primeiro.
    Caro amigo, o que dizer dessas amáveis palavras que me homenageiam? Creio que o melhor seja deixar o coração falar na simplicidade de uma expressão secular que ainda melhor traduz o nosso reconhecimento: MUITO OBRIGADO !
    Que Deus abençoe essa nossa amizade fraterna e que tenhamos saúde plena para revivermos outros grandes encontros.
    Um grande abraço e até breve.
    DIDI AVELINO

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